Ocupar os espaços públicos

Opinião

Filipe Faleiro

Filipe Faleiro

Jornalista

Ocupar os espaços públicos

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As praças, parques, áreas verdes e quadras esportivas abertas pertencem à população. Devem ser usadas para esse fim, de lazer, entretenimento e atividades físicas. Em diversas cidades, tais espaços se tornaram ambientes conflitantes. É complicado levar os filhos para brincar e ao lado ter uma “turma da fumaça”. Não tenho nada contra. Cada um faz o que quiser da vida. Agora, é preciso respeitar os demais.

Foi a partir dessa observação que surgiu o projeto “Nosso Campinho”. Voluntários moradores do Moinhos (Cohab) viam a área verde do bairro, próximo ao CTG Raízes e a escola Carlos Fett Filho, ser usada para alcoolismo e drogadição. As famílias abandonavam aquela área. Cada vez mais se tornava um “corpo estranho” e havia um medo crescente para quem passava por ali, em especial à noite.

Há três anos surgiu a iniciativa e essa realidade começou a mudar. “Conseguimos filtrar. Temos futebol o dia inteiro. Também artes marciais, o boxe e o jiu-jitsu de graça às crianças”, conta um dos líderes do projeto, Cândido dos Santos.

Crédito: Filipe Faleiro


Golaço da cidadania

Estive no Moinhos nesta semana. Visitei uma das aulas de futebol. Conversei com o professor, o Paulinho Sabará, e também com as crianças. Conheci um pouco dessa trajetória do projeto. Inclusive destaco: é algo que tem potencial para ser replicado em outros bairros.
Gosto bastante desses exemplos. Por trás carregam o verdadeiro sentido da palavra cidadania. Com o esforço de voluntários, se buscou meios de investir em um espaço público. Foi instalada grama sintética, construído um quiosque e, como resultado, o grupo de moradores conseguiu diversas parcerias com empresas.

A iniciativa também conseguiu chamar atenção do Estado. O “Meu Campinho” entrou no programa “Segue o Jogo”. Agora os voluntários acertam detalhes para conseguir até R$ 25 mil em materiais esportivos. “Não vai ser em dinheiro. Até nem fazemos questão. Mas poderemos comprar bolas, equipamentos para as aulas de artes marciais, uniformes. Tudo para as crianças poderem usar.”

Faço essa referência pois toda a organização partiu de moradores. Iniciaram aos poucos e conseguem mudar a cara de uma parte de Lajeado que estava quase esquecida. Quantos outros espaços pela nossa região que podemos fazer isso? Basta um pouco de desprendimento. Boraaa Bill!

Durante toda a semana, espaço construído pelos moradores recebe aulas de futebol e de artes marciais. As aulas são grátis para as crianças do Moinhos e de bairros próximos. Crédito: Filipe Faleiro


Contrate um engenheiro de obra pronta

Agora, o momento de ironia. O projeto estava pronto. Faltava um movimento. Chamar o engenheiro de obra pronta mais famoso do mercado. Passar pelo crivo desse profissional mexe com qualquer um. É um aprendizado maravilhoso. O Tordeles era o maior especialista em criticar o trabalho do outro. Inclusive ele ensina suas técnicas em um curso online super barato. Vai mudar sua vida. Recomendo.

Como é bom termos pessoas com esse conhecimento. Sabe como é, né? Aquele que não participou de nenhum dos movimentos da equipe ao longo das semanas e, no fim de tudo, dá o seu pitaco. O olhar do Tordeles é muito revelador. Colocou a vista, franziu o cenho e estalou os lábios. Bom, sem dúvida, não ficou bom.

De nada importa toda a dedicação, as horas em cima daquele plano, os momentos de reflexão fora do expediente. Se o resultado não agrada nosso engenheiro de obras prontas, coloca tudo no lixo. O mais legal é criticar, ele diz. Há técnicas inclusive para isso. O importante é achar um resvalo e a dimensão disso não interessa. Ali você se apega e faz o outro se sentir pequeno. Diminuir o esforço alheio é a grande missão desse profissional.

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