Mesmo com a comercialização proibida no país, o consumo do cigarro eletrônico cresce entre a população como uma alternativa para substituição do cigarro comum. A prática causa alerta em autoridades médicas sobretudo porque há estudos que indicam riscos graves à saúde e as chances de vício são altas.
Detalhes sobre o cigarro eletrônico, os tipos de dispositivos existentes, as consequências do uso desenfreado e a preocupação com a adesão dos adolescentes à prática foram temas de “Nossos Filhos”, programa multiplataforma do Grupo A Hora. Na ocasião, o médico pneumologista Cláudio André Klein elencou motivos para condenar o produto.
“O cigarro eletrônico é nada mais do que um vaporizador, que se aquece a partir da bateria, carregada normalmente por porta de USB. A ideia, pelo que se fala, era criar um vapor de água que fosse inofensivo, mas não foi isso que aconteceu”, salienta Klein. Segundo ele, o objetivo de “substituir” o cigarro tradicional por este para as pessoas perderem o hábito de fumar foi desvirtuado.
Um dos maiores problemas, segundo o médico, é que muitas das substâncias utilizadas no cigarro eletrônico e seus potenciais danos são desconhecidos. “A composição passou a ser interminável, e mais recentemente tem se encontrado substâncias cada vez mais causadoras de dependência, como a nicotina”, pontua.
Doença relacionada
Descrita pela primeira vez em 2019, a Evali é uma doença associada ao uso de cigarro eletrônico e já se tornou bastante conhecida nos Estados Unidos. Conforme Klein, um estudo mostra que já foram notificados mais de 2,8 mil casos de hospitalização por pneumonia associada a esta doença.
“Já ocorreram mortes nos Estados Unidos. Aqui no Brasil, a Anvisa tem sete pneumonias notificadas associadas à Evali, mas sem óbitos. E é algo difícil de ter a confirmação, pois é necessário fazer uma biópsia pulmonar e, muitas vezes o processo inflamatório regride e pode deixar cicatrizes”, explica.
Uma questão que assusta, para o médico, é o efeito em longo prazo. Lembra que houve um grande esforço para redução no consumo do cigarro tradicional no país nas últimas décadas, após o uso ser estimulado a partir da Segunda Guerra Mundial.
Discussão sobre regulação
Em julho, a diretoria colegiada da Anvisa manteve a proibição do cigarro eletrônico no país. O relatório técnico inclui todos os dispositivos. Também coloca medidas adicionais para coibir o comércio irregular dos produtos no país, como o aumento das ações de fiscalização e promoção de campanhas educativas.
A alternativa, com adoção de medidas não normativas para combater o mercado ilegal e para melhor informar a população foi a que melhor se sustentou tecnicamente dentro do relatório proposto. “Ninguém sabe o que tem ali, quem distribuí, de onde é a origem e cria dependência. E quem comercializa, sem um controle, tem objetivo de tornar as pessoas dependentes, assim como quem comercializa drogas quer um cliente permanente. É muito triste isso”, lamenta Klein.
Cigarro eletrônico
– Dispositivos eletrônicos para fumar, são também conhecidos como cigarros eletrônicos, vaper, pod, e-cigarette, e-ciggy, e-pipe, e-cigar, heat not, burn (tabaco aquecido), entre outros;
– Desde 2003, os produtos passaram por diversas gerações: os descartáveis, os recarregáveis com refis líquidos (que na maioria contém propileno glicol, glicerina, nicotina), os produtos de tabaco aquecido, e os sistemas “pods”, com sais de nicotina em outras substâncias diluídas;
PROIBIÇÃO
A comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil, por meio de resolução da diretoria colegiada da Anvisa, em 2009. A decisão se baseou no princípio da precaução, devido à inexistência de dados científicos que comprovem alegações atribuídas a esses produtos.