Preservar, cultivar e manter viva a chama do tradicionalismo. Desafios para a geração futura que surge nos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) e piquetes do RS. Em muitos casos, a transição é bem-sucedida. Hoje, há diversas crianças e adolescentes em destaque, seja nos grupos de dança, seja nos rodeios.
A missão de pais que convivem no meio tradicionalista em levar adiante os ensinamentos às futuras gerações foi tema de debate em “Nossos Filhos”, programa multiplataforma do Grupo A Hora na noite dessa quinta-feira, 15. O palco foi justamente o piquete instalado no Acampamento Farroupilha de Lajeado, junto ao Parque dos Dick.
Presidente da Associação Municipal do Tradicionalismo Gaúcho (AMTG), Alexandre Marchese vê no filho João, de 10 anos, a continuidade de uma paixão cultuada há diversas gerações. “Ele vem de uma família toda de tradicionalistas. O avô, o pai, o tio. Todo mundo tem um pé no tradicionalismo”, enaltece.
Na mesma linha, a patroa do CTG Tropilha Farrapa, Clarice Borges, destaca o papel da cultura gaúcha no desenvolvimento da filha Eduardas. “Ela foi prenda, dançou invernada, declamava, fazia dança de salão e laçava. Uma vida totalmente voltada ao tradicionalismo. E por fazer isso, sempre teve boa dicção e oratória para falar em público, sempre foi muito ativa”, pontua.
Interesse das crianças
Segundo Marchese, a programação da Semana Farroupilha em Lajeado buscou justamente aproximar as crianças da cidade da cultura tradicionalista. Foram diversas atividades voltadas ao público infantil, sobretudo das escolas municipais.
“Os ônibus chegam com as crianças, que podem assistir oficinas culturais, de ver essa parte de como eram feitos os brinquedos no passado. Por isso, sempre falei que não precisa estar de bombacha, caracterizado de gaúcho para participar da Semana Farroupilha. É só trazer o filho e prestigiar”.
Para o presidente da AMTG, o desinteresse das crianças pela cultura gaúcha também pode ser atribuída à própria família. “Nem todo mundo teve o privilégio de nascer no interior. E vejo que falta tempo dos pais com os filhos, de tirar uma meia hora, uma horinha para jogar bola, fazer exercício, levar no CTG. É algo que está no piloto automático e a gente nem nota”.
Clarice concorda e acredita que é preciso despertar a paixão pelo tradicionalismo nas crianças, cada vez mais conectadas ao mundo virtual. “Elas estão carentes de conhecimento cultural. Muitas sequer conhecem a indumentária do gaúcho, que é algo simples. A vida não é só no virtual. Hoje se tem 4, 5 mil amigos nas redes. Mas quantos são amigos de verdade”, questiona.
Competição nacional
João compete, desde pequeno, em rodeios acompanhado do pai. E, neste ano, participou da Festa Campeira, em Pelotas. Representou a 24ª Região Tradicionalista, ao lado de Yuri Mauer, e ficou com o segundo lugar na categoria “Laço Piá”.
“Ele se classificou para o Campeonato Brasileiro, que ocorre no ano que vem, em Irati (PR). Estamos muito felizes por ele”, comemora Marchese.
João se diz um apaixonado pela cultura gaúcha. E, apesar da pouca idade, percebe os pontos positivos que ela lhe traz. “É uma coisa que junta mais as pessoas. É muito legal ter a Semana Farroupilha, gosto muito de vir para cá, estar aqui, ao lado dos nossos amigos”, comenta.
Aluno do Colégio Madre Bárbara, João não percebe entre seus colegas uma grande adesão ao tradicionalismo. Mas promete seguir os passos do pai no futuro. “Eu vejo ele como um exemplo. Espero fazer igual ao que ele faz agora, participando dessa festa, das tradições”.
Lei aprovada
Desde o ano passado, a inclusão de conteúdos tradicionalistas nas escolas municipais de ensino fundamental é lei em Lajeado. A matéria foi sancionada pelo prefeito Marcelo Caumo, durante as festividades da Semana Farroupilha do ano passado. O texto é de autoria dos vereadores Mozart Lopes e Deolí Gräff, ambos do PP, e a iniciativa partiu da Frente Parlamentar dos Vereadores da Tradição. Legislações semelhantes já vigoram em 50 municípios.
