Agressão disfarçada de carinho

Opinião

Filipe Faleiro

Filipe Faleiro

Jornalista

Agressão disfarçada de carinho

Por

Atualizado sexta-feira,
09 de Setembro de 2022 às 11:46

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Alguns assuntos são tão delicados que qualquer brincadeira pode causar conflitos. O leitor deste espaço já percebeu que uso de anedotas para chamar atenção de fenômenos cotidianos, das relações entre pessoas, das narrativas difundidas no mundo do trabalho.

Ter uma visão para o inusitado, para o cômico, à ironia, por vezes causa mais impacto do que se falasse sobre algo de maneira séria. Há quem goste e o contrário também. Como diz Belchior: “não posso cantar como convém, sem querer ferir ninguém”. Na escrita de uma coluna é algo parecido com o verso.

Isso dito, um fato desta semana ajuda a ilustrar que alguns temas precisam ser debatidos em cima de contextos presentes. Falo do episódio de um torcedor flamenguista que beijou a jornalista Jéssica Dias, da ESPN, enquanto ela fazia a cobertura ao vivo antes da semifinal da Libertadores. O homem foi levado à polícia e a Justiça determinou a prisão preventiva dele.

No esgoto da rede social, me surpreendi com algumas reações, com o famoso “passar o pano”. Houve quem criticou inclusive a vítima. “Era apenas uma demonstração de carinho. Não pode mais?”

Vamos ser claros, passar a mão, dar um beijo, agarrar sem consentimento é crime. Ninguém tem o direito de invadir o espaço do outro sem autorização. No caso da jornalista, o depoimento à polícia inclusive deixa claro que o homem estava importunando mesmo antes da câmera ser ligada.

A pergunta que faço: se fosse sua filha, sua mãe ou sua esposa, qual seria a reação? Importante destacar, esse tipo de agressão acontece em diversos momentos. No transporte público, nas festas e, mesmo no trabalho. A diferença que levou esse indivíduo para a cadeia está na prova. Havia uma câmera e ele foi identificado em todo o território nacional.

Crédito: Reprodução ESPN


Sem normalizar o assédio

Pesquisa feita pelo LinkedIn, em parceria com a consultoria Think Eva, aponta que pelo menos 47% das mulheres afirmam ter sofrido algum tipo de assédio sexual no trabalho. Esse crime atinge as vítimas de forma desigual, pois 52% são mulheres negras.

Esse constrangimento inclusive leva trabalhadoras a pedir demissão. A cada seis vítimas, uma se desliga daquela organização. Muitas tendem a sofrer caladas por medo de represálias.


Romper com a cultura machista

A sociedade é um ser vivo. Ela é dinâmica e evolui. Por isso, enquanto parte desse organismo, os indivíduos também precisam ser melhores. O assédio não é parte de ser homem.

Não é uma brincadeira. Não faz parte da cultura brasileira. Não é um método de sedução, tão pouco um elogio. É uma violência, uma intimidação e, muitas vezes, uma forma do homem mostrar poder sobre a mulher.

Conforme o Tribunal Superior do Trabalho (TST), o assédio sexual no ambiente laboral ocorre de duas formas.

Chantagem: quando um superior oferece melhores condições de trabalho;

Ameaça: demissão em caso da mulher negar algum favor sexual. 

Acompanhe
nossas
redes sociais