Fim do verão americano  pode ser prenúncio de crise?

Opinião

Fernando Röhsig

Fernando Röhsig

Consultor empresarial

Fim do verão americano pode ser prenúncio de crise?

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Duas das maiores crises financeiras que o mundo já enfrentou ocorreram depois do verão na metade norte do planeta. Isso poderia ser apenas uma coincidência. Mas há quem acredite que isso é reflexo do fim das férias americanas (e europeias).

Seria um fenômeno semelhante ao que se comenta no Brasil, de que o ano só começa depois do Carnaval – quando as pessoas voltam a focar no trabalho e a decidir os projetos para os próximos meses. Nos países ricos, passado o período de descanso, o universo financeiro começa a se dar conta dos problemas a enfrentar. O que pode significar o início de uma nova crise, com impacto no mundo das finanças nos mercados globais.

A chamada Grande Depressão de 1929 tem como data de referência o dia 24 de outubro, uma quinta-feira. Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), os Estados Unidos assumiram o protagonismo nas exportações de alimentos e produtos industrializados para uma Europa em reconstrução.

Na década de 20 do século passado, o crescimento extraordinário na economia americana originou o “American way of life” (modo de vida americano). Aumentos de produtividade, pleno emprego, preço dos produtos em queda, expansão do crédito e parcelamento dos pagamentos de mercadorias geraram grande euforia no país. O restabelecimento da Europa acabou mudando o cenário para os americanos.

Os financiamentos dos bancos precisavam ser honrados pelos fazendeiros, o que não ocorreu, pois a grande produção não era mais consumida pela Europa em reconstrução. Os investidores começaram a resgatar seus investimentos, mas não havia disponibilidade devido à inadimplência dos tomadores de empréstimos.

Essa combinação fez com que bancos e investidores perdessem grandes somas em dinheiro de uma hora para outra. De 1929 a 1932, o PIB mundial caiu cerca de 15%, e o desemprego nos Estados Unidos passou dos 25% em 1933.

Quase um século depois, o Dia D da Subprime, a crise financeira originada no mercado imobiliário dos Estados Unidos, foi o trágico 15 de setembro de 2008, quando várias operações de financiamento imobiliário foram questionadas por não terem garantias do pagamento. A inadimplência destes financiamentos no mercado americano disparou, e instituições financeiras por todo o mundo faliram.

Essa instabilidade levou a bolsa brasileira a ter uma queda acumulada acima de 40%, levando os operadores a acionar vários circuit breakers (paralisação das negociações). O socorro do governo americano foi de US$ 700 bilhões, salvando o mercado a partir dos Estados Unidos de uma tragédia ainda maior.

O verão no hemisfério norte está indo para o final, com temperaturas ainda altas, famílias viajando, hotéis lotados, crianças encerrando as férias escolares e a vida empresarial ainda um pouco de lado. Prever uma crise de grande magnitude não é fácil nem simples, mas é preciso lembrar dos últimos acontecimentos a partir da crise sanitária da covid-19, pela qual o mercado financeiro também está fortemente afetado.

Os bancos centrais do mundo injetaram mais de um trilhão de dólares nas suas economias em razão do coronavírus, a inflação é uma realidade também na maior parte dos países ricos e o que se mostra um problema para a economia internacional ainda não teve impacto efetivo sobre o mercado financeiro. O que será decidido pelos grandes líderes do mercado financeiro depois deste verão no hemisfério norte ainda não se sabe, mas se há uma atitude de risco neste momento é investir em renda variável ou bolsa de valores.

Minha sugestão é ficar com os investimentos protegidos – e bem protegidos –, imunes a grandes impactos ou crises financeiras que podem começar a se apresentar assim que o nosso inverno começar a arrefecer – mesmo período em que o verão americano estará terminando.

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