Dois ouvidos e uma boca

Opinião

Júlia Amaral

Júlia Amaral

Jornalista

Colunista do Caderno Você

Dois ouvidos e uma boca

Por

Segunda-feira tende a ser um dia mais tranquilo. Longe da data de entrega de todo material do Caderno, planejamos a semana. Nem sempre conseguimos fazer todas as entrevistas presencialmente, mas sempre que é possível, optamos pelo olho no olho. Na última semana, eu consegui dar toda a atenção que merece receber quem se dispõe a contar uma história.

Começou quando eu e a Bibiana visitamos o Cras e participamos da oficina de hennas. Além da entrevista, nós também fizemos a tatuagem que deve sair em uma semana. Vimos as moças afegãs dançarem, mesmo sem poder fotografar nada para o jornal. Estar ali era parte da experiência, que se converteu em insumo para escrita, apenas.

No dia seguinte, fui até a casa do professor José Alfredo Schierholt. Entrei no seu escritório, repleto de livros e revistas novas e antigas, e ali fiquei por uma hora e meia. No meio da conversa, Rene, esposa do professor, entrou na sala, me trouxe uma água e ficou participando do papo. Voltei com um livro para entregar à redação, sobre a história de Estrela.

Quarta-feira foi dia de conversar com o coordenador do Memorial de Estrela, Airton Engster, e na quinta-feira fui até a casa do grande entusiasta dos registros da memória, Wolfgang Collischonn. Cada um deles, com sua própria história, me contando sobre como chegaram até ali. Tudo o que fiz foi ouvir e, de vez em quando, intervir com uma ou outra pergunta.

Nem toda pauta permite essa leveza, eu sei. Mas esse exercício de escuta é fundamental e vai muito além do trabalho. Sentar e ouvir o que as pessoas têm para dizer é transformador. Todo mundo tem algo para falar, mas quando o receptor não está atento e envolvido, a mensagem não passa de palavras que vão ser esquecidas na próxima esquina. Ou no próximo áudio do WhatsApp.

Quem ouve também é agente ativo de uma conversa. Para que um diálogo exista é preciso que um fale e o outro, por sua vez, escute. Parece óbvio, mas não é fácil. Conversar de verdade é algo que pouco ocorre hoje em dia, e os sintomas disso nós já sentimos a tempo. Enfim, longe da intolerância e do ego, desejo boas e genuínas conversas para os próximos dias.


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