Novo bairro divide opiniões em Lajeado

Jardim Botânico

Novo bairro divide opiniões em Lajeado

Projeto apresentado por dois vereadores ganhou aval em audiência com moradores. Grupo favorável defende maior autonomia e valorização de ponto turístico. Presidente do Moinhos D’Água critica proposta. Governo aguarda decisão no Legislativo, que ontem à noite adiou a votação

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Atualizado quarta-feira,
03 de Agosto de 2022 às 08:09

Novo bairro divide opiniões em Lajeado
Criado há 27 anos, Jardim Botânico é um dos principais pontos turísticos da cidade. Crédito: Mateus Souza
Lajeado

Possibilidade de agregar novos serviços para melhor atender a comunidade, mais autonomia na busca por investimentos e valorização de um dos principais pontos turísticos da cidade. Argumentos utilizados para a criação do bairro Jardim Botânico, o 28º da cidade. A proposta está em análise na câmara de vereadores. Prevista para ontem, a votação foi adiada para as próximas semanas.

A ideia de criar um novo bairro na cidade não é recente. As discussões em torno do Jardim Botânico iniciaram há mais de uma década e foram retomadas ano passado. Os vereadores Deolí Gräff (PP) e Éder Spohr (MDB) tomaram a frente. Ouviram moradores, empresários e o Executivo municipal antes de definirem as delimitações.

Pela divisão proposta, o bairro Jardim Botânico herdará áreas pertencentes ao Montanha, Bom Pastor e, sobretudo do Moinhos D´Água. Em extensão, se tornará um dos maiores da cidade caso o projeto seja aprovado. Porém, com densidade demográfica inferior a outras localidades.

“O principal motivo para este bairro é que Lajeado tem um Jardim Botânico. Um diferencial que poucas cidades têm aqui no Estado. E o segundo motivo é que aquela área está desprovida de equipamentos públicos. Apesar de ter a UPA, não há posto de saúde, um centro comunitário ou uma praça esportiva”, explica Gräff, que hoje preside o Legislativo.

Spohr, por outro lado, lembra que o pai defendia que o Moinhos D’Água levasse o nome do Jardim Botânico. “Ele foi na audiência pública de criação do bairro. Eu era guri, mas lembro bem. Chegou em casa se lamentando. Poucos defenderam a ideia dele. E aquilo sempre ficou na minha cabeça”, salienta.

Sem transtornos

Em maio, uma audiência pública promovida pela câmara deu fôlego à proposta. Pouco mais de dez pessoas participaram da atividade no auditório do Jardim Botânico. Entre elas, a representante comercial Marlise Müller. Moradora do bairro Moinhos D’Água há 14 anos, brigou na década passada pela pavimentação da rua onde reside e é uma das entusiastas do novo bairro.

Marlise defende criação de um espaço de lazer aos moradores em área verde às margens da rua Aury Stürmer. Ela é uma das apoiadoras do projeto de novo bairro. Crédito: Mateus Souza

Conforme Marlise, o Moinhos D’Água acabou “dividido” em dois. A área na qual reside ficou isolada, sem praça, ginásio ou interligação direta com a “outra parte” do bairro. “Gosto de morar aqui. Mas falta muita coisa. Queríamos uma área verde para poder sentar, brincar. As crianças jogam bola no meio da rua e é perigoso. Para acessar alguns serviços, precisamos ir por fora”, cita.

A mudança, para Marlise, será para melhor. Cita que os moradores teriam poucos transtornos com a nova denominação. “Só há benefícios. Temos que nos unir. Estamos encostados no Jardim Botânico. Temos um ponto de referência maravilhoso e podemos divulgar muito mais esse nome. E com uma associação própria, podemos reivindicar muitas coisas”.

Gräff garante que o projeto não vai causar interferências na rotina da população. “As ruas ficam iguais, o número das casas também. O que vai mudar é a denominação do bairro. Se um proprietário vender o imóvel em que reside. Aí tem que mudar o nome, mas não vai precisar correr ao cartório no dia seguinte do novo bairro virar lei”.

“Politicagem”

Presidente da Associação de Moradores do Bairro Moinhos D’Água, Paulo Roberto Schneider é um dos líderes comunitários contrários a criação do novo bairro desde quando a proposta foi apresentada. Ele entende que, se não estiver atrelado a alguma melhoria de infraestrutura à comunidade, não “fará sentido”.

Schneider, que também é suplente de vereador, questiona os objetivos da proposta. “Para mim é politicagem, deve ter alguma questão imobiliária no meio. Meu posicionamento continua o mesmo. Já é difícil manter as associações assim, e vão criar outra diretoria para ter mais custos. Quem vai representar aquele bairro, de fato? Sou totalmente contra”, afirma.

Sem posição

No ano passado, Deolí Gräff e Eder Spohr procuraram o prefeito Marcelo Caumo para apresentar a proposta do novo bairro. Depois, consultaram engenheiros do município a respeito de ajustes no projeto. Após um período sem avanços, neste ano a iniciativa voltou a andar até chegar à câmara.

Questionado, Caumo diz não ter uma posição definida sobre o assunto. “Não pensamos ainda. Provavelmente ele terá aprovação na câmara e depois vamos avaliar e decidir o que fazer”, resumiu. Se o prefeito não sancionar nem vetar, o projeto retorna para o Legislativo, que deve promulgar a lei.

Já o secretário de Planejamento, Urbanismo e Mobilidade, Giancarlo Bervian, descarta que a criação do novo bairro resulte em modificações no Plano Diretor num primeiro momento. “Inicialmente não muda zoneamento ou mesmo o sistema viário, que é onde teriam impactos”, cita.

ENTREVISTA – Deolí Gräff • um dos proponentes da criação do novo bairro

Crédito: Eduardo Dorneles/Arquivo

“O Moinhos D’Água é um bairro muito grande. Hoje, não se consegue atender a todos”

A Hora: O que a comunidade ganha com um novo bairro?

Gräff: Poderá agregar novos serviços que hoje não tem. A criação de um bairro é o primeiro passo para a formação de uma nova comunidade, um novo espaço na cidade. E, a partir disso, ter uma organização. Neste sentido, é importante uma associação de moradores. Algumas pessoas já manifestaram interesse. E também se projetaria um centro comunitário, um local público para as pessoas se encontrar, fazer reuniões, atividades, algo que não tem hoje.

AH: Como o projeto repercutiu entre líderes dos demais bairros?

Gräff: Repercutiu bem, pois estas áreas também serão beneficiadas. É dividir para fortalecer. O Moinhos D’Água é um bairro muito grande. Hoje, não se consegue atender a todos. Aqueles moradores que estão neste espaço entre a avenida dos Ipês e a Aury Stürmer estavam sem atendimento de nada. Tivemos algumas alterações referentes à divisa, mas isso foi conversado em diálogo e ajustado pacificamente.

AH: Houve diálogo com o Executivo antes de apresentar o projeto?

Gräff: São várias etapas que precisam ser superadas. E a primeira delas foi conversar com o Executivo, ver se estava de acordo. Se não estivesse, não teria sentido essa movimentação para, no final, ele vetar. Se mostrou totalmente a favor, deu sugestões e nós encaminhamos. Vai nos auxiliar em tudo o que for preciso.

Como seria a área do novo bairro?

Conforme definido por proponentes, delimitação do novo bairro reúne partes do Moinhos D’Água, Montanha e Bom Pastor. Crédito: Divulgação


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