Endometriose é coisa séria

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Endometriose é coisa séria

Em geral, o diagnóstico da doença leva entre sete e nove anos. Mulheres acreditam ser normal ter cólicas menstruais e descobrem o problema na hora de tentar engravidar

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Atualizado sábado,
30 de Julho de 2022 às 17:24

Endometriose é coisa séria
Depois de algumas dificuldades para engravidar, hoje Catia divide os dias com os filhos Lucas Henrique e Rafael Augusto. Crédito: Bibiana Faleiro
Vale do Taquari
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Entre o 4º e o 7º dia de menstruação, Catia Mauer Schmitt, 42, já sabia que tinha que ficar atenta. Com fortes dores ao redor do umbigo, a alternativa encontrada para amenizar as cólicas era ficar na cama. A moradora de Cruzeiro do Sul só descobriu a endometriose aos 37 anos, pouco antes da gravidez do segundo filho, e está entre as 8 milhões de brasileiras diagnosticadas com a doença.

O problema surge quando o endométrio, tecido que reveste o útero internamente é implantado em outras partes do corpo. Em decorrência disso, surgem inflamações. Além das dores, a doença, em alguns casos, também resulta na dificuldade de engravidar.

Catia vive com endometriose desde os 16 anos, idade em que ficou menstruada pela primeira vez. “Eu tentava procurar um médico pra saber o que era, fazia ecografia e achava que não era nada, que era cólica normal”, conta. Com 28 anos, já casada, demorou um ano para conseguir engravidar do filho mais velho, Lucas Henrique, hoje com 14 anos. Durante todo o período desde a adolescência, as dores permaneceram.

Endometriose e trombofilia

Em 2012, a irmã perdeu um bebê na 37ª semana de gravidez e descobriu a trombofilia. Mas Catia só foi fazer o exame mais tarde, depois de passar por um aborto, em 2017. Além da endometriose, que ainda não tinha sido descoberta na época, ela também tinha a propensão de desenvolver trombose devido a uma irregularidade da coagulação sanguínea.

A gravidez do segundo filho, Rafael Augusto, de 4 anos, também exigiu muitas tentativas do casal. Em 2018, Catia teve outro aborto, e procurou ajuda médica. Foi em Caxias do Sul que fez um exame específico para detectar a endometriose, que já estava avançada. Os nódulos tinham 3 cm, e estavam na bexiga, ovário, intestino e útero.

“O médico falou que só com cirurgia ia resolver”, conta. Mas como Catia ainda queria engravidar, optaram por um tratamento de três meses. Em seguida, ela descobriu que estava grávida. “Depois que o Rafael nasceu ele mamou dois anos e meio, e eu menstruei pouco. Tinha dores, mas não ficava muito tempo”, lembra.

Para tratar a doença, e sem poder tomar o contraceptivo com muitos hormônios devido à trombofilia, ela passou a tomar o Cerazette, um anticoncepcional de uso contínuo. Faz três anos e meio que ela não menstrua e não sente as dores da endometriose.

O sintoma da dor

A médica ginecologista e obstetra Ana Paula Weiler Motta explica que esta é uma doença crônica, benigna, que acomete, em especial, mulheres em idade reprodutiva. Ela pode ser causada por alguns fatores. Um deles é pela menstruação chamada retrógrada, quando o sangramento menstrual é eliminado, também, pelas trompas e carrega as células endometriais para dentro da cavidade abdominal.

“A endometriose se caracteriza pelo implante dessas células fora da cavidade uterina, levadas pelo fluxo menstrual retrógrado, podendo estar na parede abdominal ou órgãos como intestino, ovário e trompas”, destaca. Em alguns casos, esse tecido endometrial pode se implantar em outras partes do corpo como pulmões e pleura.

De acordo com a ginecologista, a dor causada pela doença está relacionada à reação inflamatória pela presença anormal das células fora da cavidade uterina. Dependendo do grau da doença, as dores também podem ser sentidas durante atividade usuais como correr e pular ou nas relações sexuais. Sintomas urinários e intestinais cíclicos também podem estar presentes.

O tratamento

O tratamento clínico é eficaz no controle da dor e consiste, em especial, na indução à amenorreia (ausência da menstruação), para o alívio das cólicas e a melhora da qualidade de vida.

Quando o tratamento clínico é ineficaz ou contraindicado, a cirurgia é oferecida para as pacientes. O procedimento também é indicado em casos específicos como endometriomas (cisto ovariano típico da endometriose) e lesões que causem algum grau de obstrução no aparelho urinário ou intestinal.

Mais comum do que se imagina

Apesar de não ser uma regra, existe uma importante associação entre endometriose e a infertilidade. Estima-se que entre 25% a 50% das mulheres inférteis sejam portadoras da doença, e que de 30% a 50% das mulheres com endometriose apresentam infertilidade.

A ginecologista destaca que não existe uma indicação absoluta de prevenção da doença, mas algumas condutas como a interrupção do ciclo menstrual, com o uso de pílulas anticoncepcionais de modo contínuo, sem pausas para menstruar, ou outros métodos como hormônios injetáveis, implantes ou DIUs medicados podem ser eficientes para evitar a progressão da doença inicial.

“Sempre é importante estimular hábitos alimentares saudáveis, prática de exercícios físicos regulares e cuidados com a saúde mental, além de manter a revisão ginecológica de rotina em dia”, reforça.

A endometriose é mais comum do que parece e é bastante conhecida pelos ginecologistas. Estima-se que uma em cada dez mulheres em idade fértil sofrem com o problema. Ainda assim, o diagnóstico leva, em média, entre sete e nove anos para ser descoberto, em especial pela necessidade de equipamentos auxiliares específicos para esta identificação. Muitas mulheres também acreditam que as dores são cólicas normais e só descobrem a doença quando tentam engravidar.

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