Quando objetos, culturas e amizades viram coleção

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Quando objetos, culturas e amizades viram coleção

O estudo e formação de acervo de moedas, medalhas e cédulas é conhecido como numismática. Mais do que juntar objetos, os participantes formam grupos e compartilham experiências. Neste sábado, 16, ocorre o Encontro Regional de Numismática, em Estrela

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Quando objetos, culturas e amizades viram coleção
Daniel e André colecionam moedas desde a infância e participam do grupo que organiza o Encontro Regional de Numismática. Crédito: Júlia Amaral
Vale do Taquari
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Uma lata cheia de moedas antigas. Um presente simples, mas entregue a crianças que fizeram dessa a sua paixão. Tanto os avós de Daniel Sehn quanto os de Andre Scholler talvez não soubessem o impacto que isso teria na vida dos meninos que hoje integram o grupo Colecionadores do Vale e organizam mais um Encontro Regional de Numismática que ocorre neste sábado, em Estrela.

A numismática é o estudo e coleção de moedas, medalhas e cédulas. Muito antes de saber disso, o professor de educação física Daniel batia de porta em porta na vizinhança e pedia doações para compor seu pequeno acervo. “Como temos muitos imigrantes da Alemanha, alguns tinham guardadas moedas de lá, dos parentes”, conta.

Volta ao mundo

A partir de então, a prioridade passou a ser colecionar e organizar cédulas e moedas de todos os países do mundo. Das peças que circulam nas nações mais conhecidas até praticamente esquecidas no mapa, Daniel soma hoje mais de 3 mil peças.

Nos próximos meses, a coleção de Sehn vai sofrer uma grande redução, em função da nova forma de organização. Dessa forma será possível conferir moedas de diferentes países com facilidade, já que elas estão uma ao lado da outra, junto da bandeira que representa seu país de origem.

A existência do grupo Colecionadores do Vale, que integra desde 2018, alavancou a sua coleção. “A numismática é muito mais que um hobby, é uma terapia e uma oportunidade de aprender, de agregar conhecimento cultural enorme e interessante”, conclui. Além do aprendizado, a numismática trouxe para Daniel novos amigos, como André, idealizador do grupo.

O Brasil em moedas

“As primeiras eu ganhei do meu avô e também fazem parte do acervo. Desde lá eu coleciono e são todas brasileiras”, explica André. As peças datam antes mesmo da criação da Casa da Moeda, em 1694. Nesse tempo, elas eram feitas em Portugal e depois circulavam no Brasil.

Depois de 1694, o país chegou a confeccionar moedas para outras nacionalidades, como Angola e Moçambique, que também estão no acervo de André. Sem dificuldades, ele consegue reconhecer o ano e história da moeda na primeira análise do material. “Já são muitos anos estudando, então fica fácil”, brinca.

Encontros e negócios

Desde 2017, é ele quem organiza o Encontro Regional de Numismática com a ajuda dos demais membros do grupo. Hoje, a comunidade de colecionadores do Vale é uma das maiores do estado, somando mais de 100 membros. O grupo foi criado para falar, em especial, de numismática, tirar dúvidas, aprender, divulgar conhecimento, trocar materiais, vender e comprar.

A amizade entre André e Daniel também rendeu frutos e hoje eles administram juntos o site Central Numismática. Como André é profissional de tecnologia da informação, ele se encarregou de projetar a página. Nele, é possível comprar moedas e cédulas nacionais e estrangeiras.

Colecionador de histórias

Felix Eduardo Bischoff, 51, é um colecionador de moedas desde 1985. Mais do que guardar os objetos, no entanto, o que ele gosta é de conhecer a cultura, geografia e a economia dos países, assim como a história por trás de cada moeda.

“Isso que me motivou, ainda que lenta e gradualmente, a inserir moedas antigas em meu acervo, como as romanas, bizantinas, gregas, árabes e outras anteriores, sem contar que mesmo as mais recentes têm representação histórica”, destaca.

A pesquisa é pela internet, em livros e na televisão. Documentários sobre o assunto também são materiais que ele aprecia. O que descobre, compartilha nos grupos de numismática que participa, com informações sobre um personagem que dá cara às moedas. No seu acervo, há mais de 100 personagens guardados em um arquivo PDF.

Bischoff se considera um colecionador eclético, e guarda as nacionais, estrangeiras, antigas, notgelds – moedas de necessidade –, e até tokens, que são fichas similares a moedas. Mas seu foco está nas emitidas a partir do século XVIII. A primeira que adquiriu está guardada em um recipiente de acrílico. Hoje, são mais de 6 mil moedas e quase 5,5 mil delas de diferentes tipos.

Durante os anos, além das moedas e personagens, ele também coleciona histórias curiosas no meio. “Em 1988, quando eu estava para entrar em campo numa partida de futebol amador em Arroio do Meio, ouvi um som metálico debaixo da chuteira, e achei uma moeda do Equador em muito bom estado”, lembra.

Personagens

Desde um governante como Elizabeth II, até pessoas de destaque histórico, como Nelson Mandela ou Marie Curie, e esportistas como Ayrton Senna podem dar rosto a uma moeda. Também há figuras históricas como Barão do Rio Branco, Abraham Lincoln e alguns ditadores como Bokassa, Stálin ou Mobutu.

“Há uma gama infinita de personagens. O Brasil mesmo emitiu uma série para brasileiros ilustres entre 1936 e 1938. O México homenageou seus revolucionários recentemente e os EUA lançaram uma série de dólares com seus presidentes já falecidos”, descreve Bischoff.

Para ele, saber a história por trás de cada moeda é fundamental, e acredita que buscar as origens aumenta o interesse do colecionador. “Quanto mais você sabe sobre a moeda que tem nas mãos, mais portas abre para ampliar sua coleção”, conta.

Uma das atividades que Bischoff mais gosta é pegar moedas simples e imaginar quantas e quais mãos passaram por elas. Este ano, ele leva o filho de sete anos para o encontro em Estrela.

Do acúmulo à coleção

Apesar de guardar moedas há 37 anos, este é o primeiro evento de numismática que Marcio Blau, 42, participa. O lajeadense lembra que em 1985, um familiar apresentou uma coleção com moedas de todo o mundo, inclusive, com exemplares em ouro. Ele recebeu algumas peças de presente, a mais antiga era brasileira, de 1869, e desde lá, se interessa pelo assunto.

Entre compras na internet e em casas numismáticas, Blau chegou a ganhar de um amigo mais de 100 moedas. “É minha paixão, então coleciono de todos os tipos, nacionais ou de outros países, assim como medalhas, fichas telefônicas, tokens”, comenta.

Mas faz pouco tempo que ele deixou de ser um acumulador e começou a catalogar as peças com a ajuda do site Numista. “Separo cada moeda em envelopes pequenos, ou cápsulas de acrílico para proteger mais. Não é definitiva a forma de arquivo, estou aprendendo muito com os colecionadores”, ressalta.

No acervo, ele tem 1112 moedas catalogadas, mas ainda faltam algumas. Blau garante que seu fascínio pelas moedas não é só pela beleza ou raridade das peças, mas pela história de cada uma.

De acumulador de moedas, Marcio Blau se tornou um colecionador e participa do seu primeiro evento neste sábado. Crédito: Arquivo Pessoal

Sobre o evento

O Encontro Regional de Numismática ocorre neste sábado, 16, das 8h às 16h, em Estrela, na rua Venâncio Aires, nº 239. Não é necessário fazer inscrição e a entrada é gratuita. Haverá exposição e comercialização de itens numismáticos, cédulas, moedas e itens para guardar e gerir a coleção.

 

 


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