“A viagem dos sonhos se tornou uma frustração”

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“A viagem dos sonhos se tornou uma frustração”

Nevasca no Chile bloqueia rodovias na região das cordilheiras e impede passagem de turistas. Moradores de Teutônia e Estrela estão entre os isolados na alfândega. Condições do tempo dificultam remoção da neve e liberação das estradas

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“A viagem dos sonhos se tornou uma frustração”
Na alfândega chilena, grupo de Teutônia e Estrela permanece no ônibus para se aquecer enquanto aguarda liberação das estradas. Crédito: Divulgação
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A mais de 2 mil quilômetros de casa, 34 moradores do Vale do Taquari estão retidos na área de fronteira entre Chile e Argentina. O grupo saiu do Vale do Taquari na semana passada e tinha como destino a cidade de Santiago. A forte nevasca impediu o avanço da viagem e também não permite o retorno ao Brasil.

Os turistas brasileiros, na maioria de Teutônia e Estrela, estão desde sábado em um abrigo na alfândega da região de Paso de Los Libertadores, próximo do túnel internacional Cristo Redentor. A camada de gelo supera um metro de altura e bloqueia a rodovia Rota 60 em diferentes pontos, inclusive no interior da cidade argentina de Mendoza.

Apesar das condições extremas e escassez de alimentos nas primeiras 32 horas, o Exército chileno garante a entrega de mantimentos e trabalha para desobstruir as estradas. No entanto, a previsão de mais neve nos próximos dias causa apreensão.

O grupo do Vale pretendia ficar quatro dias em Santiago, mas está a 150 quilômetros do destino. Com o incidente, não sabem quando poderão sair do ponto do serviço de imigração. O governo brasileiro, por meio do Ministério das Relações Exteriores, mantém contato com as autoridades locais e monitora a situação.

Sobre a retirada dos turistas brasileiros, o Itamaraty estima a liberação do trecho chileno para a partir de amanhã. No entanto, os indicativos de novas precipitações na quinta-feira, 14, podem comprometer o deslocamento na região montanhosa.

Além dos ônibus de turismo, há mais de 300 veículos trancados em meio à neve entre os dois países, de acordo com a imprensa local. Ainda no fim de semana, o Exército da Argentina auxiliou na remoção de 120 pessoas, muitos deles, caminhoneiros.

Viagem marcada há mais de dois anos

Ainda em 2020, a designer de interiores Lia Mendes Kich, de Teutônia, e o marido Luiz Henrique, contrataram o pacote da viagem com a agência Betetur, de Lajeado. Por conta da pandemia, o passeio foi adiado em duas ocasiões.

“A viagem dos sonhos se tornou uma frustração. Apesar das dificuldades, começamos a ter um atendimento melhor por parte do governo chileno”, conta Lia. Ela mantém contato frequente com os familiares no Vale do Taquari a fim de tranquilizar sobre as condições do grupo. “Estávamos mais de um dia sem comida e três sem banho. Após conversar com o diretor da alfândega eles compreenderam nossa situação e passaram a oferecer um atendimento melhor”, relata.

Lia diz que as autoridades locais não estavam preparadas para isso. “Há muitos anos não era registrada uma nevasca tão intensa.” Sem mesmo completar a viagem, o desejo é poder logo voltar para casa e estar em segurança com a família.

Os responsáveis pela agência de viagem preferiram não se manifestar sobre a situação, mas asseguram assistência ao grupo. Sobre as condições da viagem, se limitaram a dizer que a autorização para cruzar a fronteira e fazer o percurso das cordilheiras é do próprio governo chileno.

Acomodados no ônibus

Com temperatura de -18°C, as estimativas dos governos da Argentina e do Chile é que mais de 200 pessoas estejam fora de casa e retidas com a nevasca. Embora o grupo do Vale tenha conseguido abrigo na aduana chilena, eles dormem e permanecem a maior parte do tempo no veículo.

“O ônibus está ligado desde que chegamos aqui. Não sabemos por quanto tempo ainda vai ter diesel”, relata Gerson Henrich da Silva, de Estrela. Sem o combustível, o sistema de aquecimento para de funcionar.

Silva viaja com a esposa e a filha de seis anos. Ele comenta que entre os passageiros a maioria são idosos, uma delas com 84 anos, e com isso aumenta a preocupação. “Ficamos três dias sem banho, as condições no início eram complicadas, não havia assistência por parte do governo local.”

Ontem à noite, Exército do Chile removeu alguns grupos para abrigos. Crédito: Divulgação

Ontem à noite o Exército chileno mobilizou soldados para encaminhar os turistas e caminhoneiros em abrigos próximos da aduana. “Nosso grupo optou em permanecer aqui por já conhecer as pessoas e há expectativa de avançar por algum trecho a partir de hoje”, destaca Silva.

Críticas aos governos

A falta de alerta sobre as condições extremas na região montanhosa repercutiu com críticas nas redes sociais. Conforme turistas, o habitual é orientar a população e estrangeiros em casos de nevasca e bloquear o acesso ao Chile ainda no túnel internacional Cristo Redentor.

Desta vez, apesar do serviço meteorológico da Argentina prever a precipitação de neve, não foram implementadas ações preventivas para a segurança dos visitantes. As primeiras ações de apoio aos brasileiros foi outra queixa. Após um dia e meio no abrigo da alfândega, o grupo recebeu a primeira refeição e atendimento.

Maior nevasca em décadas

Os institutos de meteorologia do Chile consideram essa como uma das maiores nevascas desde 1971. Essa também é a percepção do casal Ivan e Cristiane Pretto, de Teutônia. Eles fazem o passeio pelas cordilheiras há 15 anos, seja de carro ou de moto. Desta vez devem concluir o trajeto hoje.

“Em uma das viagens totalizamos mais de 11 mil quilômetros. Nós passamos pela área onde está o grupo do Vale. Desde o fim de semana ficou muito forte a neve, escapamos em tempo”, comenta Pretto. O casal conta que é comum os bloqueios de estradas, mas não desta forma em que viajantes ficam isolados.

Neve sobre as estradas provoca bloqueios entre a Argentina e o Chile. Crédito: Divulgação


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