Vida nas alturas

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Vida nas alturas

O aeroclube mais próximo do Vale do Taquari fica em Santa Cruz do Sul. É lá que muitos pilotos da região são formados. Outros procuram o estudo na capital, ou fora do país. Mas o processo não é fácil, e entre a informação, o custo e as oportunidades, é preciso coragem e habilidade para seguir a profissão

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Jansen Volkmer, 29, é piloto executivo e mora em Santa Catarina, de onde sai para voos em diferentes estados e fora do país. Crédito: Arquivo Pessoal
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Cada dia, uma paisagem diferente pela pequena janela do avião. Essa é a rotina da lajeadense Ana Carolina Mallmann, 26. Comissária de bordo em Dubai, o emprego nos ares permite que ela conheça o mundo entre viagens. Mas, apesar de gostar do cargo, seu sonho é estar na linha de frente, e ser piloto de profissão.

Jansen Volkmer, 29, é piloto executivo e mora em Santa Catarina, de onde sai para voos em diferentes estados e fora do país

Ana quer entrar para a lista das mais de 27 mil mulheres que receberam a habilitação desde 1950 no Brasil. Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), até o momento, foram expedidas 304 licenças femininas em 2022. Em 2019, antes do início da pandemia, foram 741. Mas esse número já chegou a 1.148, em 1998.

Para muitos pilotos, como Ana, o alto custo da formação pode atrasar o sonho de estar na cabine de comando. Mas desistir não é uma opção. Formada em Engenharia Metalúrgica, a lajeadense sempre gostou da área e, hoje, busca alternativas para colocar o estudo em prática.

“Sempre tive um interesse muito genuíno por aviação, mas achei que era normal. Nunca tinha pensado em trabalhar com isso”, conta. Até 2017, quando foi para a Austrália para um intercâmbio, e, entre viagens, ganhou ainda mais gosto pelo avião.

Um passo de cada vez

No início, a ideia era ser comissária, e em 2019, tentou um processo seletivo. Ela não passou de primeira, e a pandemia deixou os planos para depois. “Achei que as coisas não iam voltar a melhorar. Nesse meio tempo, fiquei muito parada e me veio a ideia: o que tenho que fazer para ser piloto?”, conta Ana.

Decidiu experimentar e, com algumas horas de voo, se apaixonou pela ideia. “Fiquei encantada, me encontrei de uma forma absurda naquilo. Eu ia só no final de semana e quando chegava o domingo, parecia que aquilo tinha sido um sonho”, conta.

Depois disso, uma nova seleção para comissária foi aberta, e ela viu ali uma oportunidade de conhecer novas culturas e ter experiências com a aviação. O processo seletivo foi em 2021, e ela embarcou para Dubai em janeiro deste ano. A experiência tem sido positiva e serve como preparo para os próximos planos saírem do papel.

Vida de piloto

Desde a década de 50, assim como as mulheres, o número de homens na área também diminuiu. Mas ainda há procura. De acordo com a Anac, 2013 foi o ano em que o maior número de licenças para pilotos de avião foram expedidas, chegando a 6.882.

Entre privado e comercial, a habilitação permite que os pilotos trabalhem em grandes companhias ou para proprietários de aeronaves, como Jansen Volkmer, 29. Natural de Porto Alegre, ele foi criado em Estrela e saiu do Vale para exercer a profissão.

Hoje, é piloto executivo e mora em Santa Catarina, de onde sai para voos em diferentes estados e fora do país. Apesar de ser também habilitado para helicópteros, sua demanda principal é a pilotagem de aviões de pequeno porte.

A rotina depende da demanda de voos do proprietário da aeronave, que utiliza o transporte como ferramenta de trabalho para otimizar as agendas. A primeira tarefa do comandante é o planejamento completo do voo que será feito. Desde a meteorologia prevista no período, informações das localidades de destino e rotas alternativas.

Concluída esta etapa, são cumpridas as verificações técnicas do equipamento. Por fim, é feita a pilotagem da aeronave. “Uma vez que o voo esteja concluído, o ciclo se reinicia para a preparação da próxima missão”, descreve Jansen.

A trajetória

O piloto ainda lembra do seu primeiro voo de avião. Foi em 1999, quando ele tinha 7 anos. “Eu brinco que a aviação me escolheu antes de eu decidir”, destaca. Com boas referências na família, com aviadores militares de destaque, foi em casa que Jansen buscou exemplo e orientação. Ele começou a estudar a área em 2012, quando fez vestibular para Ciências Aeronáuticas, pela PUC/RS, em Porto Alegre, e também lembra da primeira vez que assumiu o comando de um avião.

“O voo teve duração de aproximadamente uma hora, onde executamos uma gama de exercícios previstos para “afinar” as técnicas de pilotagem. O sentimento foi um misto de ansiedade com nervosismo e insegurança. Mas em nenhum momento, o medo”, conta.

Na capital gaúcha, conciliou a rotina de estudos do bacharelado com o curso prático de voo no aeroclube. Ao fim da formação, Jansen recebeu da Agência Nacional de Aviação Civil, as habilitações de piloto comercial e instrutor de voo em aviões, competências que possibilitaram que ele entrasse no mercado de trabalho.

Formação

Uma curiosidade sobre a carreira de aviador, é que se “pilota” desde o primeiro voo. Depois de passar por um exame médico e um teste de conhecimentos teóricos, o aluno pode conduzir um voo real com manobras básicas, assessorado por um instrutor.

Na região, o aeroclube mais próximo é o de Santa Cruz do Sul, onde são formados de 8 a 12 pilotos por ano. Na instituição, há cursos para piloto privado e comercial. O primeiro não possibilita trabalhar na área. Já o segundo é a habilitação necessária para ser piloto profissional.

Todo o processo leva um ano e meio ou mais, que varia de acordo com o investimento. A formação, hoje, custa mais de R$ 16 mil. Cachoeira do Sul, Porto Alegre e El Dorado são outras cidades que também oferecem os estudos para pilotos. Em geral, os alunos do Vale vão para Santa Cruz do Sul. Entre eles, está Douglas Luís Ballus, 24, morador de Lajeado.

Em curso

A vontade de ser piloto vem da infância, e Douglas foi incentivado por familiares que trabalhavam na aviação. Na adolescência, a paixão pela área aumentou e, mesmo antes de sair da escola, ele já buscava informações sobre os passos que deveria seguir.

Douglas Luís Ballus (d), 24, e o seu instrutor em um voo de Porto Alegre a Santa Cruz do Sul. Crédito: Arquivo Pessoal

A formação iniciou em 2015, aos 16 anos e esta foi a primeira vez que pilotou. “Foi um momento de felicidade, gratidão e muita paixão por estar realizando meu sonho”, conta. Mas, no ano seguinte, trancou o curso para cumprir o serviço militar.

Douglas só voltou a voar em 2021, para finalizar o curso de piloto privado e obter Certificação de Habilitação Técnica (CHT).

As aulas iniciaram com cinco disciplinas: teoria de voo, conhecimentos técnicos de aeronaves, meteorologia, navegação aérea e regulamentos de tráfego aéreo, que duraram cerca de cinco meses. Depois de cumprir o tempo necessário para a certificação, hoje ele acumula 56 horas como piloto no ar.


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