Menor oferta na indústria limita venda de leite nos mercados

Economia

Menor oferta na indústria limita venda de leite nos mercados

Queda de produção e dificuldade em importar comprometem estoques das indústrias. Com menor disponibilidade, empresas adotam estratégias para desestimular consumo e frear aumento de preços

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Atualizado terça-feira,
28 de Junho de 2022 às 08:08

Menor oferta na indústria limita venda de leite nos mercados
Preço do litro do leite supera os R$ 6. Alguns supermercados limitam a venda da bebida a cinco caixas por consumidor. Crédito: Felipe Neitzke
Vale do Taquari

Supermercados da região começam a limitar a quantidade de leite UHT que o consumidor pode adquirir. Essa prática surge em meio aos frequentes reajustes responsáveis por elevar o litro da bebida a mais de R$ 6. A justificativa é evitar a falta do produto nas prateleiras tendo em vista a menor disponibilidade nas propriedades rurais.

Para conter a escalada de preços e manter o equilíbrio do setor, as indústrias e os mercados tentam frear o consumo, é o que sustentam as entidades representativas. Por outro lado, o valor pago ao produtor ainda é considerado insuficiente para suprir os prejuízos de 2021 e deste ano com o aumento do custo de produção e impactos da estiagem na nutrição animal.

Outro fator indicado pela redução da produtividade no campo é o desestímulo ao produtor. Na avaliação do presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), de Lajeado, Lauro Baum, há, pelo menos, dez anos reduz o número de famílias na atividade leiteira.

Dados da Emater/RS-Ascar divulgados em setembro do ano passado, indicam que o Vale do Taquari perdeu 2,3 mil produtores desde 2015. “Esse é um cenário que não tem como reverter de uma hora para outra. Leva pelo menos três anos até que uma vaca tenha plenas condições de produtividade”, reforça Baum.

O presidente do STR indica um cenário similar ao da carne bovina. “Foi a elevação de preço que freou o consumo diante da falta de produto no mercado. No caso do leite a situação é pior, pois se trata de um item da cesta básica e não é tão simples de substituir.”

Baum lembra que em outras épocas com a importação do leite era possível equilibrar os preços internos, mas este ano o cenário internacional desfavorece as negociações. Ele alerta ainda para os impactos no aumento de preço dos derivados de lácteos.

Preço defasado

Os frequentes reajustes são reflexo da defasagem em relação a 2021, destaca o secretário executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat), Darlan Palharini. Ele argumenta que no período o preço do UHT acompanhou o percentual da inflação, cerca de 10%, enquanto que queijo mussarela e leite em pó tiveram alta de 5%.

Palharini enfatiza ainda a margem apertada para o produtor. “O cenário de pandemia fez todo o setor segurar ao máximo o repasse de qualquer aumento de custos. Chegou um momento no qual é impossível sustentar essa conta.”

Ainda de acordo com o secretário executivo do Sindilat, os preços subiram de maneira repentina e causaram maior impacto ao consumidor. “Para o produtor a indústria repassou em 12 meses 42% de aumento e nos supermercados chega a 57% o leite UHT e 45% no caso do queijo e leite em pó”, reitera Palharini.

Além dos custos de produção em alta, a menor oferta de produto em relação a anos anteriores, pressionam a cadeia produtiva. Mesmo assim, o dirigente da Sindilat afasta risco de faltar leite nos supermercados.

“Nosso estado é exportador de leite e tem produção maior que o consumo. A redução de preço vai depender muito da dinâmica do mercado, pode demorar alguns meses ainda”, considera Palharini.


Entrevista com Antônio Longo, presidente da Agas

A redução do consumo é alternativa indicada pelo presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) para conter a elevação no preço do leite. Ele descarta o desabastecimento, mas reconhece a limitação por parte das indústrias em cumprir os pedidos.

A Hora – Item da cesta básica, o leite apresenta rápida elevação de preço. No Vale do Taquari é encontrado nos supermercados por mais de R$ 6. A que se deve essa disparada e quais são as projeções para os próximos dias e meses?

Antônio Longo – Há uma série de fatores que incidem sobre o preço do leite, como o aumento nos custos de insumos, fatores climáticos e os desdobramentos econômicos da guerra na Ucrânia. Historicamente os preços do produto sobem entre abril e agosto, mas em 2022 essa alta está muito fora dos padrões e do que o consumidor pode absorver.

Junto da alta de preços, os supermercados limitam a venda do produto. Há risco de faltar leite e derivados nas prateleiras dos supermercados?

Antônio Longo, presidente da Agas. Crédito: Divulgação

Longo – Não há risco de faltar, mas alguns fornecedores seguram as entregas, por isso os estoques estão menores. No entanto, esta medida visa refrear o consumo, já que a única forma de baixar o preço do leite, é caindo seu consumo. O setor supermercadista está cumprindo seu papel social, neste momento, vendendo em geral o leite abaixo do seu preço de custo em muitas lojas.

Qual é o percentual do reajuste no preço do leite ao consumidor este ano?

Longo – Não temos dados por meio de pesquisa, mas cerca de 40%.

Como o consumidor pode fazer para amenizar o impacto do preço do leite no orçamento. Há produtos deste segmento que podem ser alternativa e não sofrem com a escalada de preços?

Longo – Como falamos, a redução no consumo é a única medida que poderá refrear esta alta de preços. Sugerimos que o consumidor utilize o leite em pó, faça sua mistura e garanta um rendimento melhor ao seu leite. É uma das alternativas.


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