Ocupação de UTIs em Lajeado e Estrela se aproxima dos 85%

SAÚDE

Ocupação de UTIs em Lajeado e Estrela se aproxima dos 85%

Doenças respiratórias de inverno elevam demanda sobre ambulatórios, pronto atendimentos e hospitais. Dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES) mostram que, nas duas maiores instituições da região, há pelo menos 27 pacientes em leitos de Terapia Intensiva

Por

Ocupação de UTIs em Lajeado e Estrela se aproxima dos 85%
Conforme o Estado, há seis tipos de vírus em circulação. Quatro ligados a sintomas respiratórios (H1N1, H3N2, covid e VSR) (Foto: Filipe Faleiro)
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

A pressão sobre o atendimento nas maiores instituições de saúde da região aparece nos números. Os hospitais Bruno Born (HBB) e Estrela estão com 84,3% de ocupação dos leitos de UTI. São 27 pacientes internados, conforme acompanhamento da Secretaria Estadual de Educação (SES).

As duas instituições de saúde representam mais de 60% de todas as vagas disponíveis no Vale do Taquari para pacientes graves. Conforme a Secretaria de Saúde de Lajeado, o aumento na procura por atendimento ambulatorial vem desde março. Como consequência, há também mais demanda sobre as casas de saúde.

Pelo acompanhamento feito em todo o RS, há seis vírus em circulação, inclusive com confirmações na região, diz o secretário Cláudio Klein. Entre os quais estão o H1N1, o H3N2, o VSR (vírus sincicial respiratório), o adenovírus, a covid e a dengue.

De acordo com ele, há uma sazonalidade de maior demanda sobre a estrutura de saúde com a chegada do inverno. A diferença neste ano é que a circulação dos vírus de gripe começou mais cedo.

Sobre a ocupação nos hospitais verificado pelo painel da SES, às 16h de ontem, o HBB tinha 19 pessoas internadas na UTI. Deste total, 17 por enfermidades diversas e duas por covid. Dos 22 respiradores disponíveis, 14 estavam em uso.

Em Estrela, dos dez leitos de UTI disponíveis, oito estavam em uso. Dois por covid ou suspeita e seis por outra enfermidade. Dos dez respiradores mecânicos, três estavam sendo usados.

Em alerta

A experiência do ano passado, quando no primeiro trimestre a variante Delta da covid levou ao hospitais gaúchos ao colapso serve de alerta, pois a experiência trouxe a necessidade de alteração nos processos de atendimento e da atuação da rede de saúde em momentos de alta na procura. Inclusive o próprio HBB, em comunicado na noite da sexta-feira passada, orientava pacientes a procurarem outras casas de saúde devido à superlotação.

Em Estrela, o cenário é semelhante. O crescimento na procura começou a ser sentido faz mais de três meses. Conforme o coordenador médico da Emergência, o médico Gabriel Klecius, os pacientes estavam com influenza ou pneumonia. Também se percebeu mais casos de covid nos últimos 20 dias.

Parte desses pacientes são crianças, diz. “Isso muda a complexidade do atendimento, pois os pequenos têm um perfil diferente, muitas vezes com evolução desfavorável mais rápida do que um adulto, o que exige internação e uso de oxigênio. Essas situações geram abalo psicológico e insegurança para a família.”

Ocupação da UTI

Hospital Bruno Born

  • 22 leitos de UTI Adulto (84,3% de ocupação)
  • São 19 pacientes internados
  • Destes, 2 com covid-19
  • 17 por outras enfermidades

Hospital Estrela

  • 10 leitos de UTI (80% de ocupação)
  • São oito pacientes internados
  • 2 por covid ou com suspeita
  • 6 por outras enfermidades

No RS

  • 2.495 leitos de UTI adulto (72,2% de ocupação)
  • São 1.802 pacientes internados
  • Destes, 144 com covid-19
  • 59 suspeitos
  • 1.599 por outras enfermidades
Dados atualizados às 16h40min de ontem. Disponível em covid.saude.rs.gov.br/

ENTREVISTA | Guilherme Carmo, médico coordenador do Pronto Socorro do HBB

“Não sabemos até quando essa demanda de pacientes graves vai continuar”

A Hora – Como está a situação hoje? Quais os motivos principais de internações?
Guilherme Carmo – Estamos no limite e a situação não mudou entre sexta-feira e hoje (ontem). Temos a UTI lotada e também as oito vagas na sala crítica. Não são os mesmos pacientes, mas assim que um sai, é necessário encaminhar outro. E todos estão em uma situação grave. Giramos, damos vazão, mas não é a que gostaríamos.
Sobre os motivos, eles têm várias causas. Não há uma doença específica, como tivemos no ano passado, com a covid. Vemos pacientes com doenças descompensadas, talvez mal assistidos nos últimos dois anos e agora com a dengue e com diversos vírus respiratórios de inverno.
Isso resulta em um volume de pacientes críticos que não costumamos receber. Nos últimos dois meses, houve um aumento de 300 pessoas atendidas na emergência. Nossa média era 700 por mês, em abril e maio, ultrapassou as mil.

– Tendo em vista a alta procura, isso é um indicativo que teremos um inverno de dificuldade nas instituições de saúde da região?
Carmo – Interessante a pergunta. Se antecedemos a situação do inverno, se teremos uma sobreposição dos vírus respiratórios do atendimento? É difícil responder essa pergunta. Esperamos que essa alta demanda de pacientes críticos ceda nos próximos meses. Mas se sustentar e somar aumento de síndromes respiratórias graves, características do inverno, teremos sim dificuldades. Seja de leitos, de vagas em isolamento. Mas não consigo dizer que vai acontecer, não posso prever isso. Porque, se voltarmos ao fluxo habitual de pacientes, conseguiremos absorver os pacientes dos vírus sazonais. Agora, se entramos no inverno com esse número de pacientes críticos, com lotação máxima, e mais pacientes com vírus sazonais, teremos problemas. Esperamos que não aconteça, mas estamos trabalhando com essa possibilidade.

– Quais as diferenças e semelhanças deste momento para o que foi vivenciado no primeiro trimestre de 2021, quando o Estado e a Região estiveram em bandeira preta devido a covid?
Carmo – Eu diria que, talvez a principal semelhança da situação do covid com o quadro de hoje é o desafio. Todo o dia chegamos no hospital e não sabemos quantos pacientes vamos atender. Não sabemos até quando essa demanda de pacientes graves vai continuar. É exatamente isso que vivíamos com a covid.
Naquele período, olhávamos os gráficos e ficávamos imaginando que ia diminuir mais cedo ou mais tarde, mas não sabíamos quando. Hoje temos uma situação muito parecida com o que vivíamos no ano passado.
Outra grande semelhança é sobre o trabalho das equipes assistenciais, médicas e de enfermagem, em ter que atender um número crescente de pacientes, com volume grande, lidando com lotação e até superlotação em alguns momentos. Também para a gestão, em ter que buscar mais leitos, mais recursos, todos os dias para que as pessoas recebam a melhor medicina possível.


Acompanhe nossas redes sociais: WhatsAppInstagram / Facebook

Acompanhe
nossas
redes sociais