As doenças negligenciadas

Opinião

Hugo Schünemann

Hugo Schünemann

Médico oncologista e diretor técnico do Centro Regional de Oncologia (Cron)

As doenças negligenciadas

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Existe um grupo de doenças que matam muito, mas pelas quais há pouco interesse. Causadas por agentes infecciosos ou parasitas, são consideradas endêmicas em populações de baixa renda.

Doenças tropicais como malária, doença de chagas, doença do sono, leishmaniose e esquistossomose são alguns exemplos de doenças que matam muito mundo afora, incapacitam e representam desafios médicos.

Essas doenças, junto com a tuberculose, representam 11,49% da carga global de doença. Entre 1975 e 2004, foram beneficiadas com apenas 1,33% dos medicamentos desenvolvidos no período (21 de 1556).

Entre as características dessas doenças há o fato de afetarem populações pobres da África, Ásia e da América Latina. Os métodos preventivos para muitas delas são conservadores, mas não disponíveis.

Dados disponíveis mostram que apenas 5% do financiamento das pesquisas sobre as doenças foram destinados a essas doenças, embora elas atinjam quase 500 milhões de pessoas.

Claro que o desinteresse da indústria farmacêutica se baseia-se no fato de que se tratam de doenças que afetam populações pobres em países sem poder político e isso não traz a rentabilidade e lucro desejado por essas empresas.

A equação é complexa. No atual sistema econômico, as empresas precisam dar lucro. E se o medicamento desenvolvido não for lucrativo – ou ainda, numa outra classe, em que o tratamento existe, mas tem custo proibitivo – não há interesse no seu desenvolvimento. E doenças que já poderiam estar dominadas, assolam milhares de pessoas.

Por outro lado na pandemia de covid, os governos de muitos países despejaram milhões de dólares, a título de pesquisas, para o desenvolvimento de vacinas anti-covid, cujo o resultado se fez presente em pouco tempo e abreviou a pandemia.

O conflito lucro X custos, sofrimento X tratamento, estará presente em nosso mundo por muito tempo.
Se por um lado há movimentos como o da Fiocruz / Butantan, que buscam vacinas para doenças que nos assolam – como é o caso da DENGUE, agora – sabemos que falamos de investimento público. E este, sobretudo nos últimos tempos, anda escasso.

Por outro lado, as doenças negligenciadas, estão associadas à pobreza, a problemas de saneamento e a falhas de educação. Poderíamos, por exemplo, enfrentar a dengue de forma distinta, com revisão de questões de saneamento e campanhas educacionais intensas e prolongadas, ainda que exista vacina em desenvolvimento.

O enfrentamento dessas doenças é importante. No Brasil elas apresentam impacto, sobretudo na região norte e nordeste. Mas agora que vivemos epidemia de dengue, esta preocupação atinge a todos.


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