Minha colega Fernanda

Opinião

Hugo Schünemann

Hugo Schünemann

Médico oncologista e diretor técnico do Centro Regional de Oncologia (Cron)

Minha colega Fernanda

Por

Nos idos dos anos 70 e 80, quando completei meu segundo grau, havia uma colega chamada Fernanda.
Era uma menina de cabelos negros, brilhantes, olhos castanhos e de um grande sorriso. Bonita, querida e sempre de bom humor. Todos gostávamos dela. Jogava vôlei pelo time feminino da escola, onde arrancava suspiro de muitos meninos.

Com o fim do terceiro ano, perdi contato e fiquei muito feliz em reencontrá-la pelo Facebook, muitos anos após. Casada, com filhos, continuava bonita e sorridente. Mas confesso que num primeiro momento, fiquei chocado. Os bonitos cabelos negros deram lugar a cabelos grisalhos, quase brancos. Precisei de um tempo para acostumar-me. E pensei, como as mulheres sofrem com esses padrões estéticos que a sociedade impõe a elas.

Como deve ser difícil isso tudo. Vejo em casa e no trabalho este esforço de vencer o tempo, como se isso fosse possível.

Percebo, muitas vezes, falando com pacientes, que cuidados estéticos estão acima de cuidados com a saúde. Em geral pintar cabelo, fazer botox e arrumar as unhas, muitas vezes, é mais importante que ir a ginecologista. A pressão para que estejam sempre jovens e bonitas é imensa. É sofrida. E a Fernanda libertou-se disso.

Depois dela vi outras mulheres seguirem seu caminho. Fernanda era artesã e viveu em vários lugares do mundo. Seu Facebook é recheado de fotos. Ela era realmente dedicada, não se importando com estas questões estéticas do padrão de hoje.

Eu entendo, é difícil para as mulheres, a pressão para seguir os padrões – e o sacrifício que isso pode trazer – e a coragem para se libertar deles, assumindo padrões antagônicos aos preconizados pela sociedade.
Acho que as mulheres, estas grandes guerreiras, sofrem pelo que a sociedade impõe a elas.

Hoje vemos, lentamente, mais e mais mulheres assumindo cabelos platinados, felizes. Afinal, a felicidade e sentir-se bem é o que importa. A vida é o que importa.

Fernanda não está mais entre nós. O destino levou-a precocemente. Mas sempre que vejo alguma mulher de cabelos grisalhos ou brancos, lembro-me dela.


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