Acidente abrevia sonhos de jovens militares do Vale

Tragédia

Acidente abrevia sonhos de jovens militares do Vale

Colisão entre caminhão, carro e ônibus, que transportava militares, causou a morte de seis pessoas. Três vítimas eram jovens de Teutônia de 18 e 19 anos. Há três anos, tragédia semelhante ocorreu na mesma estrada com soldados de Lajeado

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Atualizado terça-feira,
29 de Março de 2022 às 10:51

Acidente abrevia sonhos de jovens militares do Vale
Colisão na madrugada dessa segunda-feira causou a morte de seis pessoas, em Rio Pardo. Outras doze pessoas ficaram feridas

Mal súbito, sono do condutor ou uma pane mecânica no veículo. Conforme a Polícia Rodoviária Federal (PRF), essas são as causas mais prováveis do acidente que vitimou seis pessoas na madrugada de segunda-feira, 28, na BR-290, em Rio Pardo.

Entre os mortos, estão três moradores de Teutônia. Dois jovens de 18 anos e um de 19 voltavam de folga para cumprir serviço militar, na região central do estado.

A PRF pediu análise de peritos da corporação especializados em acidentes de trânsito. Além disso, o Instituto Geral de Perícias (IGP), de Santa Cruz do Sul, iniciou análise e divulga os resultados em 15 dias. Com base nesses laudos, a Polícia Civil (PC) abre inquérito que será encaminhado à Justiça.

Vistoria preliminar da PRF, no momento do acidente, não encontrou buracos, ou algum obstáculo que necessitasse de desvio no local. “É um trecho com muito movimento, em especial, de veículos de carga que transportam toras de madeira. É uma carga que aumenta os danos e lesões em casos de acidentes”, diz o chefe de comunicação da PRF, Felipe Barth.

A colisão frontal do caminhão e um ônibus com militares a caminho do 9º Regimento de Cavalaria Blindado do Exército, em São Gabriel, foi causada por uma invasão na pista contrária. A batida foi em uma reta com boa visibilidade, segundo a PRF.

O motivo da mudança de pista é o principal ponto de investigação da polícia. Até o momento, a apuração descarta ultrapassagem indevida. Também não há indícios de animais na pista ou buracos mais graves no asfalto.

“A pista não está em perfeita condições de conservação, tem alguns buracos, mas não tem nenhuma situação diferenciada naquele ponto específico”, afirma Barth.

Ele pondera que a inspeção foi feita à noite e havia toras de madeira espalhadas pela rodovia, porém não há registros de reclamações anteriores às condições do trecho.

A má conservação do acesso aos municípios, nos arredores do local do acidente, é alvo de críticas dos agentes rodoviários. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) fez alguns reparos recentes e sinalizou os limites de velocidade.

Expectativa de duplicação

O projeto para ampliar a extensão da pista se arrasta por décadas. Para a PRF, só assim a segurança dos condutores aumenta.

“A quantidade de movimento em pista simples torna o trecho perigoso. A BR-290 faz a ligação entre a capital e a fronteira. Isso faz com que a acidentalidade seja alta”, avalia Barth.

De acordo com ele, a característica da rodovia amplia a incidência de batidas de frente. “A colisão frontal é um dos tipos de acidentes mais letais nas rodovias porque o impacto é o resultado de duas velocidades opostas somadas”, acrescenta.

O Dnit afirma que a demanda por melhorias no local é superior a capacidade de investimento. O orçamento do órgão para manutenção de rodovias no RS é de R$ 294 milhões neste ano. Para atender às exigências logísticas, o aporte ideal seria de R$ 360 milhões, estima o Departamento.

O governo estadual anunciou na sexta-feira, 25, o encaminhamento de R$ 490 milhões para melhorias em duas estradas federais. A aprovação da verba tramita na Assembleia Legislativa. O recurso deve ser utilizado de forma imediata pelo Dnit, mas não no local do acidente.

O órgão federal optou por investir nos locais onde há contratos em andamento, como de Camaquã a Crystal, na BR-116, e de Pântano Grande a Butiá, na BR-290. Entre Cachoeira do Sul e Rio Pardo, há necessidade de uma nova licitação.

Sonho de ser militar

Um dos naturais da região que foi vítima do acidente era Silas Gabriel de Azevedo de Barros, de 18 anos. Filho mais novo de uma família com três meninos, ele queria seguir os passos do irmão mais velho, que trabalha na Brigada de Teutônia.

Segundo o pai, Marino de Barros, o jovem chegou a ser dispensado, mas insistiu para continuar no Exército e teve o pedido acatado. A família é da Vila Esperança, e há pouco tempo, se mudou para Linha Possas.

O filho do meio, Leonardo Barros, respondeu durante toda a manhã de ontem mensagens de amigos. “De nós três, o Silas era o mais carinhoso e o mais querido também. Ele foi a melhor pessoa que eu conheci”.

O sonho de fazer carreira militar era compartilhado com outra vítima. Lucas Rodrigo Altevogt, de 19 anos, já estava no quartel há dois anos. Ele era extrovertido e atencioso com os amigos. O jovem confidenciou ao irmão, Eduardo, que ajudava um colega das forças armadas que enfrenta depressão.

Lucas se preparava para uma prova de oficial do Exército. Caso não desse certo, a alternativa era o vestibular para ciências da computação, ou outra área da informática estimulado pelo fascínio em jogos eletrônicos.

Quem são as vítimas

Lucas Rodrigo Altevogt – 19 anos, morador do bairro Teutônia. Será sepultado hoje. Conforme familiares e vizinhos, era um jovem alegre e extrovertido. Há dois anos no serviço militar, se preparava para prova de oficial do Exército.

Silas Gabriel de Azevedo – 18 anos, morador da Linha Posses. Foi sepultado na noite de ontem. O grande sonho de Silas era ser militar. Segundo relato de familiares, o jovem era comunicativo e tinha muitos amigos.

Vinicíus Bedra – 18 anos, morador da área central do bairro Canabarro. Foi sepultado na noite de ontem. Vinícius terminou no ano passado o Ensino Médio na escola Reynaldo Affonso Augustin. Dedicado, estudava à noite pois durante o dia trabalhava na mesma fábrica de calçados do que a mãe.

Joice Luísa Monteiro Costa – 34 anos. Fisioterapeuta e professora em Cachoeira do Sul.

Wesley da Silva Paulo – 20 anos, natural de São Gabriel. Militar, veio para região visitar amigos.

Josuel Vieira Machado – 28 anos, natural de São Gabriel. Motorista que dirigia o ônibus onde estavam os militares. Ele deixa mulher e filho.

*Os feridos foram encaminhados a duas instituições de saúde. Três para um hospital de Rio Pardo e outros nove para uma casa de saúde em Cachoeira do Sul. Duas pessoas foram encaminhadas para o Hospital Ouro Branco e o outro indivíduo foi liberado.


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