O final do ano se aproxima e, com ele, a perspectiva do encerramento de mais um ciclo na vida das pessoas. Um momento único para contabilizar ganhos e perdas materiais e afetivas, bem como para vislumbrar novas oportunidades de crescimento e evolução. Não é raro chegarmos cansados ao findar desse período, já que vivenciamos a persistência de uma pandemia e os esforços emocionais advindos dela para a continuidade da existência.
Como seres que simbolizam, temos a necessidade da elaboração psíquica sobre os acontecimentos da realidade no sentido de fechar um ciclo como processo existencial de toda a experiência humana, que contribui para o funcionamento saudável do organismo.
Nos estudos da psicologia, encontramos a expressão e abordagem Gestalt, que é uma palavra de origem alemã, significando um todo e referindo-se a ciclos que se fecham e se abrem ao longo da vida, cuja dinâmica auxilia a recuperação do equilíbrio das pessoas. Conquanto possamos tolerar uma considerável quantidade de situações inacabadas, essas direções incompletas realmente buscam a inteireza, sendo que, quando as Gestalts são fechadas, sentimos uma profunda harmonia com o mundo à nossa volta. Uma readaptação nem sempre é um processo fácil, visto que despendemos muita energia emocional na reorganização do caos interno.
Por outro lado, quando um ciclo se fecha, consiste na necessidade de realizarmos algum aprendizado naquele contexto até a próxima etapa. De acordo com a psicóloga e pesquisadora Maritza Montero, a característica de não refletirmos constantemente, mas apenas em alguns momentos limites, existe certamente como facilitadora da vida social, pois se os indivíduos tivessem que refletir continuamente sobre cada ação que fazem para produzir a cotidianidade, provavelmente, deixariam de fazê-lo, já que precisariam estar conscientes e despertos em todos os momentos da vida.
Portanto, fechar um ciclo representa a compreensão de que tudo tem um fim, através da percepção de uma morte em vida, assim como a ideia de renovação e transformação implicadas nesse processo. Mas saber se beneficiar dele e entendê-lo como um aspecto natural e esperado acaba por produzir sentido e conexão individual e coletivo. Viver e se renovar, eis a questão.
