O rio já foi praia e já sediou campeonatos de barco a motor. Por décadas, foi um dos motores da economia e era pelas águas que as embarcações carregavam mercadorias e riquezas . Com o tempo, as barcas deram lugar aos carros e caminhões, e o rio perdeu forças no Vale do Taquari. Hoje, com a busca por qualidade de vida e espaços de lazer, ele volta a ser frequentado pela comunidade e reúne centenas de barqueiros nos fins de semana.
Leonardo Abreu, 35, é um deles. Natural de Porto Alegre, faz oito anos que é morador de Lajeado. Ele cresceu em Tapes, na Lagoa dos Patos e, desde criança, já gostava de água. Mais tarde, começou a praticar o kitesurf, e se interessou por embarcações.
Hoje, além de ter cota em uma balsa no município, também possui um jet ski e uma lancha. E é com ela que costuma ir ao Rio Taquari todas as semanas. Empresário na área de seguros, já teve dias em que levou o notebook para a lancha para trabalhar. Mas também gosta de pescar e convidar os amigos para um churrasco.
“Isso aqui é muito lindo, especialmente a vista durante a noite. Aqui tu pode ter um contato com a natureza, pode pescar, desopilar a cabeça, sair do teu mundo turbulento do dia a dia”, destaca Abreu.
Pelo trajeto nas águas do Rio Taquari, já foi para Estrela, Cruzeiro do Sul e Bom Retiro do Sul. Abreu também costuma parar no chamado paredão, onde se formou uma pequena praia de cascalhos. “Em virtude do rio não ser tão largo, a questão de segurança é maior. O rio também é mais calmo”, ressalta o empresário.

Leonardo Abreu frequenta o rio toda semana, de lancha ou jet ski. (Foto: Bibiana Faleiro)
O primeiro catamarã
Mas a história dos barcos de passeio é mais antiga em Lajeado. O que se conta é que em 2011 um grupo de jovens alugava uma plataforma como uma balsa construída com tambores. A estrutura não tinha como ser retirada das águas toda vez que era utilizada e, em uma enchente, foi destruída.
Naquela época, não havia mais balsas para alugar e o grupo de amigos resolveu construir uma nova, parecida com a anterior. Por sugestão de um morador das redondezas, no entanto, utilizaram tubos de reaproveitamento comprados em sucatas e construíram o primeiro barco catamarã que a comunidade daquele tempo viu navegar nas águas do Rio Taquari. Materiais como ferro e madeira também foram utilizados, e o barco custou R$ 15 mil.
Com o tempo, as pessoas passaram a se interessar pela embarcação e fizeram réplicas. Assim, a atividade tornou-se uma opção de lazer para os moradores e hoje, também são construídas com churrasqueira, pia, chuveiro, mesas e cadeiras. Cinco novos catamarãs devem chegar ao município, com valores entre R$ 100 mil e R$ 200 mil.
85 barcos na marina
A Marina do Vale também passou a funcionar em Lajeado, administrada pela família Ferri. E, junto a licença ambiental, o espaço recebeu uma autorização de acesso ao rio, que permitiu a colocação de embarcações nas águas do Taquari.
Ademar Paulo Ferri conta que, no início, a marina guardava apenas uma lancha de fibra e um barco de alumínio. Hoje, são 85 embarcações, com 56 lanchas, 19 jet skis e 10 balsas. A marina também possui uma balsa para passeios de até 15 pessoas. “Seu Telmo Quadros foi o primeiro a colocar lá. Depois foi crescendo a coisa, com bom atendimento e assim chegamos onde estamos hoje”, destaca.
Ele ressalta que os últimos três anos demonstraram grande aumento de adeptos das opções de lazer na água. E, com a chegada do verão, mais de 50 embarcações são colocadas no rio nos sábados e domingos.
Mas durante a semana, muitas pessoas também vão à marina depois das 17h. “Nos últimos anos houve uma procura muito grande de pessoas comprando barcos próprios. Muitos porque gostam de pescar. Tem paisagens muito bonitas pelo rio”, destaca Ferri. No dia 27 de novembro, programa um evento de abertura do verão, no chamado Caixassaço, e mais de 90 embarcações já foram confirmadas.

Além dos barcos de passeio, o rio também recebe atividades esportivas, como a canoagem. (Foto: Caetano Pretto)
O rio e as cidades
Em meados do século XIX, quando cidades situadas entre Taquari, Encantado e Muçum foram colonizadas por descendentes de imigrantes alemães e italianos, o rio tornou-se importante para as comunidades que se formavam ao redor daquelas águas e para o escoamento da crescente produção que se instalava na região.
Durante pelo menos 90 anos, esta foi a única via de transporte de passageiros e de mercadorias entre o Vale e a capital do estado. Naquela época, para o trajeto, eram utilizados vapores ou “gasolinas” movidas a diesel, conforme conta o historiador Wolfgang Collischonn no livro “À minha querência”.
Antes disso, nos anos 60, as praias eram o principal ponto de encontro da comunidade no verão. Aos fins de semana, ficavam lotadas de pessoas que frequentavam o lugar para se banhar, fazer churrasco, namorar ou apenas aproveitar a sombra e a água fresca. Até mesmo um concurso para eleger a Rainha das Praias foi organizado no local.
As corridas de barco a motor também eram sediadas no Rio Taquari nos anos 70. As primeiras corridas foram disputadas em 1972 e 1973, na prova do Costão, no bairro Carneiros.
Collischonn destaca que à medida em que foram construídas rodovias e pontes, a navegação fluvial decaiu a ponto de restringir-se, hoje, ao transporte de areia para construção de obras de concreto. O rio e seus afluentes, no entanto, permanecem importantes como fornecedores de água para o consumo das cidades e vilas da região e, cada vez mais, os municípios voltam a olhar para as orlas do Taquari.
“Com a alta do custo do petróleo, o transporte por rodovias impactou muito nos fretes e passagens. A capacidade de carga muito maior dos barcos em relação a dos caminhões e o custo menor de investimento e manutenção das vias fluviais em comparação com as rodovias, fazem com que muitas autoridades e empresários voltem a ver o rio com outros olhos”, destaca o historiador.
Hoje, a atividade mais comum nas águas do Taquari é a pesca artesanal, tanto por moradores locais como por visitantes. Algumas pessoas também acessam o rio para passeios de caiaque e stand up paddle, quando as condições são favoráveis.
Além disso, os municípios que são banhados pelas águas do Taquari também investem em melhorias nas orlas e em espaços de lazer voltados para o rio, como praças, ciclovias e calçamentos, assim como novos acessos que ligam as cidades às atividades aquáticas.

Nos anos 60 e 70, além de um transporte de mercadorias, o rio também foi palco de corridas de barco a motor e de banhistas que frequentavam a praia de cascalho. (Fotos: Arquivo Pessoal)