“A cultura nos alimenta como cidadãos”

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“A cultura nos alimenta como cidadãos”

Da infância em Taquari, Tiago Jucá foi a Porto Alegre fazer faculdade. Ele é fundador da revista O Dilúvio, referência no jornalismo cultural e independente, que chegou a ser distribuída para 18 estados brasileiros na primeira década dos anos 2000. 

“A cultura nos alimenta como cidadãos”
(Foto: Arquivo Pessoal)
Vale do Taquari

Como está a revista hoje? Ainda tem edições impressas?

Já faz 12 anos que foi feita a última edição impressa, mas acabamos de passar em um edital com mais de 100 mil inscritos da Lei Aldir Blanc para digitalizar todas as edições de O Dilúvio. Elas estão disponíveis em odiluvio.com.br. Ser um dos 100 projetos contemplados, mostra um pouco a importância da revista no retrato de uma época, de um jornalismo independente e combativo. Junto com a revista trazia CDs com bandas do RS e de outros lugares.

A revista surge em 2003, quando Gilberto Gil era ministro da Cultura e hoje não temos mais Ministério da Cultura. Teria espaço para uma revista como O Dilúvio nos dias atuais?

Quanto pior a sociedade está, as reações culturais e jornalísticas têm que ser mais contestadoras. Queremos dar continuidade para O Dilúvio também para combater. Na época, a cultura tinha certo apoio. O boom do cinema dos anos 90. Haviam várias publicações que não tem mais. Tinha a Rolling Stones, a Trip, a Bundas, a Palavra. O Dilúvio surge aí também. A gente precisa de cultura assim como precisa de pão, de um teto, de um ônibus. A cultura nos alimenta como cidadão. A gente tem bastante inspiração no manguebeat, “Da Lama ao Caos”. O Dilúvio tem um pouco a ver com a Arca de Noé, mas também com o arroio fétido e sujo que corta Porto Alegre, mas que dali saem movimentos interessantes.

Tu fizeste uma menção ao manguebeat e à música do Chico Science. Um movimento cultural de Pernambuco. Como O Dilúvio chegava a outros estados?

O Orkut foi muito importante para a revista. A gente tinha uma comunidade. Lá, apareceu um tópico para disponibilizar link de CDs. E aquela comunidade começou a bombar. Se não tinha acesso a um disco, as pessoas faziam o download ali. Tinha mais de 300 álbuns por ano. Começa a aparecer gente de muitos estados. Eu passei a ter assinantes de Pernambuco, Ceará, São Paulo, Minas Gerais. Chegou um momento em que a gente distribuía a revista  para cerca de 18 a 20 estados. O manguebeat inspira um pouco o nosso conceito histórico e ideológico, mas também, a parte musical que a gente gosta de ouvir. Inclusive, foram encartadas duas bandas do Recife, Eddie e Academia da Berlinda.

Da infância em Taquari ao jornalismo, como foi a tua trajetória?

Meu pai é de Taquari, veio para Porto Alegre, e voltou já com a família. Eu tinha 8 anos. Estudei no colégio Pereira Coruja, onde fui presidente do Grêmio Estudantil, em 1992. Ali eu começo a minha militância. Além de jornalista, sou militante político. E aí em 1993, eu venho tentar a vida em Porto Alegre, fazer cursinho e já entro no vestibular. Saí faz tempo de Taquari, mas não perdi as amizades. Tenho amigos em Lajeado também. Faz parte da minha vida. Dali começam as primeiras bagagens culturais e políticas.

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