Empresa suspende produtos tradicionais e promete novidades

INCÊNDIO NA FLORESTAL

Empresa suspende produtos tradicionais e promete novidades

Fogo em um dos pavilhões compromete produção de balas duras e pirulitos. Produtos devem ficar fora do mercado por até um ano. Para compensar, direção prepara novas opções de doces. Em nota, gigante do setor projeta retomada da indústria para a próxima semana e funcionários serão realocados

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Empresa suspende produtos tradicionais e promete novidades
(Foto: Aldo Lopes)
Lajeado
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Quinta maior empresa de Lajeado em Valor Adicionado Fiscal (VAF), a Florestal Alimentos sofreu um baque em sua trajetória de mais de 80 anos de existência. A empresa, uma das maiores do segmento de doces da América Latina, teve 25% de sua produção local afetada por um incêndio de grandes proporções.

O fogo iniciou na madrugada de domingo, 19, e logo chamou a atenção de vizinhos e também de pessoas que circulavam nas imediações da BR-386. Foram cerca de 13 horas ininterruptas de trabalho até que o incêndio fosse controlado. Passado o drama, agora a empresa se mobiliza para a reconstrução.

Em nota divulgada ontem à tarde, a Florestal Alimentos garante que não haverá demissões em razão do incêndio. Segundo a empresa, os funcionários que atuavam nas linhas atingidas pelas chamas serão realocados para outras linhas de produção.

A empresa está concentrada em agilizar a retomada da indústria com todas as linhas de produção, o que deverá acontecer no início da próxima semana. A fabricação de balas duras e pirulitos de formato bola, dois dos itens mais tradicionais, está suspensa na unidade. “Teremos muito trabalho pela frente para reconstruir o que foi perdido, e iremos procurar fazê-lo no menor tempo possível. Contamos com um time valoroso e resiliente, que não medirá esforços para tornar a Florestal ainda maior”, cita.

Quanto à nova linha, a Florestal Alimentos informa que ela será dedicada à produção de balas de gomas, gelatinas e pectinas. As operações devem iniciar ainda este mês. Faz parte do processo de expansão da empresa. O investimento nesta linha, segundo o gerente de marketing, Adriano Orso, é de aproximadamente R$ 25 milhões.

Risco de colapso

Bombeiros de seis municípios – Lajeado, Estrela, Encantado, Venâncio Aires, Teutônia e Santa Cruz do Sul – se mobilizaram para controlar as chamas, que iniciaram em uma das linhas de produção. Não havia trabalhadores na empresa no momento do incêndio, segundo o tenente e comandante do Corpo de Bombeiros Militar de Lajeado, Fausto Althaus.

O incêndio no pavilhão durou o dia inteiro, já que as chamas na glicose, utilizada para a produção de balas, foram difíceis de ser apagadas. Ontem, foi feita uma vistoria na empresa, com análise das estruturas afetadas. Como não há indícios de incêndio criminoso, a empresa acionou a seguradora. “Os peritos irão verificar as causas do incêndio e a situação estrutural dos bens”, aponta.

As partes atingidas continuarão isoladas até a vistoria da seguradora. Althaus lembra que há risco de colapso do Centro Administrativo, que também foi afetado pelo fogo. “Boa parte da estrutura ficou condenada”, avalia. No local, um dos problemas foi o assoalho, feito com uma parte de plástico. O Líquido Gerador de Espuma foi utilizado no combate às chamas para que o calor fosse abafado.

No total, 8 mil metros quadrados foram atingidos, sendo 6 mil no pavilhão e 2 mil no prédio administrativo. Não houve feridos.

“A Florestal faz parte da minha vida”

Paulo Austria trabalha na Florestal desde 1989. É o primeiro e único emprego do operador de máquinas (Foto: Felipe Neitzke)

A Florestal é o primeiro e único emprego do operador de máquinas Paulo Austria, 58, natural de Soledade. Ele reside em Lajeado desde 1989 e conquistou a vaga na linha de produção por indicação do irmão. “Trabalhei em diferentes funções, mas sempre no pavilhão das balas duras e pirulitos. Ainda não sei como será o retorno à empresa, na primeira noite após o sinistro não consegui descansar direito.”

A informação repassada por seu superior é que será realocado para outro departamento, mas não sabe quando volta ao trabalho. “Por enquanto estou em casa, posso ser chamado a qualquer momento. São 32 anos de empresa, a Florestal faz parte da minha vida”, conta o funcionário.

Na tarde dessa segunda-feira ele foi ao local ver de perto as proporções do estrago. Austria recorda da aquisição do novo maquinário. Segundo ele, faz cerca de dois anos que a linha de produção passou por modernização. “Eu controlava a máquina que recebia a massa e modelava o pirulito de bola. Era um equipamento de muita tecnologia”, explica.

Austria trabalha no primeiro turno da Florestal. Sua jornada inicia às 5h e se estende até às 14h43min. “Com o aumento de exportações a empresa operava com três turnos. O expediente na linha de produção encerrou às 9h de sábado, por isso não havia ninguém no local no momento do sinistro”, cita.

“O treinamento para situações de risco era frequente”

Zelindro Vargas, 58, é funcionário da Florestal faz 33 anos. Ele está de folga e em viagem, soube através dos colegas do sinistro. “Custei a acreditar, pois durante todo este período de empresa nunca houve qualquer problema parecido”, conta o assistente de produção.

Ele já foi coordenador de equipe e integrou a brigada de incêndio, explica que os treinamentos são frequentes, além de três simulados anuais envolvendo todos os setores. “Quanto tocava a sirene eram colocados em prática os protocolos de evacuação. Nós temos treinamento para diversas situações”, explica o funcionário.

Vargas acredita que nos pavilhões afetados pelo incêndio trabalhavam cerca de 60 pessoas por turno. “Eram mais de cinquenta máquinas. Balas e pirulitos saíam desta esteira prontas para a distribuição. Era tudo feito ali, desde o cozimento até a embalagem dos doces.”

O setor de caldeiras não foi danificado. Conforme Vargas, isso facilita a retomada das demais linhas de produção. “O incêndio nos deixa muito tristes, mas acredito que cada um fará o seu melhor para superar este momento”, afirma.

Apoio na reconstrução

Secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agricultura de Lajeado, André Bücker foi até a sede da Florestal ainda no domingo. Segundo ele, o município colocou-se à disposição para auxiliar a empresa.

Bücker lembra que a Florestal é um “patrimônio lajeadense” e tem uma importância grande para a economia local. “Seremos parceiros para o que estiver ao nosso alcance legal”, afirma.

O secretário lembra que, no fim de 2020, foi aprovado incentivo fiscal de até R$ 3 milhões à empresa, em função dos investimentos previstos aos próximos anosna cidade. “É uma empresa que dá retorno muito importante, tanto em questão de impostos quanto em número de empregos gerados”.

Trajetória da Florestal

  • A história da Florestal teve início em 1936, quando iniciou-se a fabricação artesanal de balas. O negócio prosperou através dos anos e, em 1941, a pequena empresa se instalou no bairro Florestal, cujo nome deu origem à marca;
  • Aos poucos, a empresa cresceu. Em 1969, inaugurou os primeiros equipamentos mecânicos e expandiu sua atuação para o mercado nacional. A primeira exportação ocorreu em 1978, para o Paraguai. No mesmo ano, transferiu suas instalações para o km 343 da BR-386, no bairro Montanha, onde está até hoje;
  • Os anos que se sucederam foram de novas expansões e reestruturações. Nos anos 90, a Florestal atingiu um novo patamar e assumiu a liderança no mercado de pirulitos no Brasil, conquistando diversos prêmios empresariais ao longo da década;
  • Em 2002, inicia-se a produção de gomas de mascar sem açúcar e a entrada no mercado de chocolates, com a aquisição da Neugebauer. Em razão do reposicionamento e para contemplar as novas linhas, a razão social da empresa foi alterada para Florestal Alimentos S.A.;
  • Após a aquisição da fábrica Boavistense, novas mudanças levaram à venda da Neugebauer e à uma nova composição acionária. Em janeiro de 2013, a Florestal inicia sua linha de produção de balas de goma. No ano seguinte, lança as balas de Pectina, um produto inovador no mercado;
  • Em 2018, a Florestal Alimentos volta ao mercado de chocolates, ao adquirir a tradicional fábrica Chocolates Planalto, de Gramado. No ano seguinte, adquiriu a Caracol Chocolates, outra marca importante da Serra. No fim do ano passado, iniciou a produção de marshmallows, sua novidade mais recente.

Incêndios recentes que chocaram o Vale

Velas Imigrante

• Fundada em 2006, a Velas Imigrante foi atingida por um incêndio em 10 de outubro de 2019, durante a madrugada. A causa foi um curto circuito no roteador da internet, causando prejuízo de R$ 800 mil;
• Foram cinco horas de combate às chamas, com sete mil litros de água e 40 litros de espuma utilizados. A reconstrução ocorreu nos primeiros meses de 2020.

Calçados Beira Rio

• Maior empregadora de Mato Leitão, a Calçados Beira Rio teve 90% de sua estrutura afetada por um incêndio. A fábrica foi atingida por volta das 2h do dia 17 de março e foram necessárias quase cinco horas de combate para controle das chamas;
• Como consequência, cerca de 700 funcionários foram demitidos. Em 9 de abril deste ano, pouco mais de um ano após o incêndio, a empresa reinaugurou a fábrica em investimento de R$ 15 milhões.

Biscobom Alimentos

• Um mês antes do retorno da Beira Rio às atividades, outro incêndio abalou Mato Leitão. A fábrica da Biscobom Alimentos, fundada em 1999, sofreu um grande prejuízo em pleno momento de expansão com um incêndio. As chamas iniciaram por volta de 12h30min do dia 23 de fevereiro;
• Após quatro meses de preparativos, a produção foi retomada no começo de julho, com 50 funcionários.

Carvoaria em Cruzeiro do Sul

• Em 10 de março deste ano, uma carvoaria localizada em Linha Bom Fim, interior de Cruzeiro do Sul, foi atingida por um incêndio de grandes proporções. Dois galpões da Carbo Nego foram destruídos. Um caminhão, avaliado em R$ 150 mil, também foi consumido pelas chamas.

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