Essa tal comparação

Opinião

Caroline Lima Silva

Caroline Lima Silva

Assuntos e temas do cotidiano

Essa tal comparação

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Um dos comportamentos mais violentos que existe é a comparação. Porém, ela não chega a ser uma violência física, marcada pela brutalidade que, não raras vezes, nos choca, mas acaba por ser prejudicial do ponto de vista psicológico. A comparação reduz a dimensão da singularidade de uma pessoa, destituindo-a da história que lhe é própria e, por conseguinte, a beleza de ser única. Podemos comparar objetos, como uma linha em série, mas não seres humanos, porque, ao comparar, corroboramos com o erro e o julgamento de achatarmos a zero histórias singulares. Dessa maneira, há sempre alguém para ocupar um espaço de inferioridade em relação a outro superior, o que alarga ainda mais o abismo das relações humanas tão necessitadas de compreensão, afeto e representatividade.

E por que tal fenômeno ocorre? O ser humano tem a tendência de se distinguir de seus pares, numa tentativa de ser importante. Ao longo da história da humanidade, recebemos o legado de dominação de reis e rainhas, venerados como semideuses encarnados, cujos súditos os tratavam com reverência e subjugação. Hoje vivemos outro tempo, conquanto o ato da comparação seja muito respaldado ainda, não exatamente pela herança de déspotas, mas pelo reforço positivo das redes sociais no condicionamento da psiquê humana. Parece ser mais fácil a preocupação com a vida do outro e da falsa imagem de felicidade constante que ele aparenta do que o olhar para dentro de si, reconhecendo quem somos, de onde viemos e para onde vamos, questões essenciais para a existência. Nesse sentido, há uma falsa ideia de que o que o outro oferece é melhor, mais feliz e mais bem sucedido, o que acaba por colaborar com comportamentos de baixa auto-estima, desvalorização pessoal e paralisação diante da vida. Somente quando se olha para dentro de si, e não para a vida do outro, consegue-se ir ao encontro da própria missão e da máxima: “todos importam e são importantes”. É o momento do “nascimento social” do indivíduo, quando tem a consciência de que existe espaço para todos, cada qual como universo único de múltiplas possibilidades, com cultura, educação, personalidades e valores próprios.

Assim, comparar é violentar sonhos, histórias e individualidades e deixar para segundo plano a própria vida no jogo das aparências. Importante pensar que a vida é uma integração entre dores e alegrias, e não uma fachada bonita que invisibiliza o lado difícil. A comparação nos coloca em eterna falta; a concentração em si nos coloca na existência real.

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