Despedida de Agatha marcada pelo clamor por Justiça

Crime hediondo

Despedida de Agatha marcada pelo clamor por Justiça

Familiares e amigos da família de criança violentada e morta cobram agilidade e rigor na punição contra autor. Investigação aguarda perícia para classificar crime

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Despedida de Agatha marcada pelo clamor por Justiça
Velório ocorreu no fim da manhã dessa segunda-feira. MP pede que suspeito fique na prisão até o julgamento / Crédito: Renata Lohmann
Lajeado

Comoção e o sentimento de revolta marcaram o velório de Agatha Rodrigues Santos. O corpo da menina de 5 anos foi encontrado boiando no Rio Taquari. Ela foi violentada e morta no sábado passado. O sepultamento ocorreu na manhã dessa segunda-feira no cemitério municipal do Florestal.

Um homem de 35 anos, conhecido da mãe da menina, é apontado como autor do crime. Ele foi preso ainda na tarde de sábado. Para os policiais militares que fizeram a abordagem, teria admitido o crime. No depoimento à Polícia Civil (PC) ficou calado e não admitiu o ato.

As circunstâncias do assassinato são apuradas. A investigação aguarda laudo do Instituto Geral de Perícias. “Isso vai dizer se a vítima foi abandonada no rio com vida ou não”, diz o delegado responsável pelo caso, Humberto Roehrig.

Caso a criança tenha morrido durante o abuso sexual, o crime é tipificado como estupro de vulnerável seguido de morte e tentativa de ocultação de cadáver. O Código Penal prevê entre 12 e 33 anos de prisão.

Outra hipótese trata da possibilidade de o assassinato ter sido posterior ao abuso. Com isso, a punição pode chegar a 60 anos de prisão. A diferença é o tempo mínimo em que o autor do crime estará na cadeia. Por lei, o máximo que uma pessoa fica presa de forma direta são 30 anos.

“Ele vai cumprir 30 anos. Depois tem que ver os requisitos da progressões. Crime hediondo é um terço, mas aí e com base em 60 anos, não em 30”, realça Roehrig.

Como Lajeado estava sem médico-legista no fim de semana, o corpo da menina foi levado para Porto Alegre. O laudo esperado pela investigação não tem data para ser entregue. Pelo apelo emocional do crime, a estimativa da polícia local é que seja concluído com mais celeridade.

“Um crime que não se esquece”

O delegado Dinarte Marshall Júnior estava de plantão nesse sábado. Ele foi o responsável pelos primeiros interrogatórios e formalização da ocorrência. “É um caso que deixou todos que trabalharam nele muito chocados pela barbárie que se viu. Um crime que não se esquece”, diz.

O delegado também interrogou o suspeito. “Ele usou o direito de permanecer em silêncio”, relata Marshall Júnior.

O Ministério Público (MP) conta esse aspecto na denúncia. Partiu do promotor plantonista, Neidemar José Fachinetto, o pedido de prisão preventiva ao Judiciário.

Responsável pela promotoria da Infância e da Juventude, Sérgio Diefenbach, realça que o MP agora aguarda a conclusão do inquérito para entrada da denúncia ao Judiciário. De acordo com ele, o pedido é por manter o suspeito preso até o julgamento.

Relembre o caso

O suspeito frequentava a casa da menina, no bairro Praia, faz cerca de três meses. Ele e a mãe da vítima se conheciam por amigos em comum. Em torno das 12h deste sábado, a criança pediu à mãe para acompanhar o homem ao mercado.

A mãe aceitou, já que morava a poucos metros do estabelecimento. Uma hora depois, a menina não havia voltado. A mulher saiu pelo bairro à procura da criança com ajuda de amigos. Às 13h20min, o grupo encontrou uma viatura da BM e informou o desaparecimento.

Os policiais encontraram um homem com as roupas sujas de barro, saindo da mata às margens do Rio Taquari, próximo ao supermercado Rede Super. Com auxílio dos bombeiros, foram iniciadas buscas próximas ao local. O corpo foi encontrado às 14h30.

A criança foi encaminhada ao Hospital Bruno Born (HBB). Conforme o boletim médico, a menina estava com parada cardíaca. Uma equipe de médicos tentou reanimar a criança por 30 minutos. A análise dos profissionais apontava indícios de abuso sexual.


ENTREVISTA – Carine Duarte, psicóloga

“Na emoção, por vezes, queremos Justiça com as próprias mãos”

O sentimento coletivo, de comoção, raiva e ódio surge com frequência em crimes hediondos, em especial quando as vítimas são crianças. Interpretar isso e buscar compreender os sentimentos é um caminho para evitar a continuidade de um ciclo de violência, acredita a psicóloga.

• A Hora – Abusos, estupros e violências contra menores costumam acontecer em casa, por membros da família, ou muito por amigos e conhecidos. A partir disso, como é possível prevenir?
Carine Duarte: A prevenção na infância é muito importante e se faz de uma maneira sensível. Em primeiro lugar, priorizar o diálogo entre pais/cuidadores e crianças acerca da educação sexual. Quanto mais conversar sobre o corpo, as partes do corpo íntimas (e especiais), que não devem e não precisam ser mostradas e que devem ser protegidas. Assim, gerar uma relação de confiança, dos pais, com os cuidadores e com as crianças.
Por vezes a construção deste diálogo pode ser difícil, pois há famílias que não tiveram orientação em termos de educação sexual. Importante que aconteça desde os primeiros dias de vida, ao fazer a troca de fralda, ao darmos banho no bebê. Desde o nascimento ensinar a criança o nome de sua parte íntima e demonstrar respeito. A criança precisa sentir confiança e saber que pode recorrer as pessoas de confiança caso aconteça algo que a deixe incomodada.

• É possível mensurar a dor da família?
Carine: Com certeza a dor é inestimável, mas cada pessoa irá sentir a perda de um jeito. Cada um terá seu tempo e forma específica de luto. O importante é que eles tenham rede de apoio, de escuta, de acolhimento. Alguns profissionais importantes neste momento são da área de psicologia, psiquiatria, assistência social.

• Quanto ao sentimento coletivo. Um ato desses traz consequências na sociedade. Há quem defenda pena de morte, inclusive. Como explicar essas manifestações? Não há uma confusão do que é Justiça e o que é vingança?
Carine: Abuso sexual é crime. Gera mal-estar e danos psicológicos e emocionais em todos envolvidos. Na emoção, por vezes queremos Justiça as próprias mãos. Agora, de forma racional, precisamos ter consciência que a violência não resolve e nem irá erradicar os fatos.
Importante referir que estudos e pesquisas apontam que a grande maioria dos(das) abusadores, já foi em algum momento abusado(a). Ou seja, também já foi vítima. Difícil explicar em poucas palavras a complexidade do abuso sexual, sua origem e forma de acontecer. Precisamos compreender, por mais difícil que seja, que não há um perfil único para o abusador. Para que haja mudanças, precisamos denunciar este crime, para que seja possível cada vez mais coibir.

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