MÚSICA PARA CURAR

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MÚSICA PARA CURAR

Por meio do som, ritmo, melodia e harmonia, a musicoterapia auxilia na prevenção, tratamento e reabilitação de pacientes neurológicos, além de pessoas com transtornos mentais, afetivos e de desenvolvimento

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Atualizado segunda-feira,
23 de Agosto de 2021 às 08:12

MÚSICA PARA CURAR
Ricardo Petter é musicoterapeuta e trabalha a música de forma lúdica com as crianças / Crédito: Bibiana Faleiro
Vale do Taquari

Aos cinco anos de idade, Julia Vargas Corrêa Pacheco, hoje com 10, teve contato com a musicoterapia pela primeira vez. Ao contrário de outras crianças, as aulas musicadas não eram frequentadas para aprender um novo instrumento musical. Os sons ajudavam a despertar a criatividade e foi por meio da prática que ela voltou a falar.

Os pais, Victor Souza Pacheco e Kelen Vargas Corrêa Pacheco procuraram a terapia depois da filha sofrer uma encefalite e apresentar sequelas. Algumas habilidades que ela tinha antes foram perdidas, como a fala e alguns movimentos corporais. Mas com uma fonoaudióloga e diferentes práticas terapêuticas, a menina apresentou melhoras.

“Ela já estava há muitos meses sem emitir uma palavra, apenas sons. Mas no primeiro contato ela já começou a interagir com a música e repetir as palavras cantadas. Foi fantástica a experiência. Ela nos mostrou que sim, ela sabia o que estava fazendo, mas não conseguia verbalizar e com a musicoterapia ela conseguia se expressar”, conta o pai.

Com as aulas, Julia conseguiu pronunciar as palavras outra vez. Nem sempre de forma perfeita, mas voltou a se comunicar. Além da fala, ela também desenvolveu a linguagem corporal e deixou o constrangimento de lado para interagir cada vez mais com os pais e professores.

“Hoje posso dizer que a nossa filha está completamente recuperada, embora a gente saiba que algumas lesões e dificuldades de aprendizado estão presentes e talvez não serão recuperadas. Mas se pensarmos em como ela estava, hoje está muito bem”, destaca Victor.

Há cinco anos preocupados com a reabilitação de Julia, os pais se adaptaram para garantir qualidade de vida à filha. Compraram uma tv maior e instalaram uma nova internet. Assim, a menina coloca as músicas preferidas para tocar e pode passar horas com o ouvido grudado no aparelho. Ela também interage com aplicativos como o Tiktok e Instagram. Basta aparecer um vídeo com música para Julia se alegrar.

Em meio à música, o cuidado

A menina é uma das alunas da Companhia Aprendiz, pioneira na oferta da musicoterapia na região. Na escola localizada em Lajeado, as aulas costumam durar 45 minutos, mas podem variar de acordo com a tolerância dos pacientes e com o objetivo das sessões.

Em um local equipado com recursos sonoros e materiais de apoio, a terapia também pode ser feita à domicílio, ao ar livre ou em outros ambientes. O importante é deixar o paciente confortável durante a atividade.

De acordo com a musicoterapeuta da Companhia Aprendiz Diana Dick, a técnica utiliza música e elementos como o som, ritmo, melodia e harmonia com intervenções terapêuticas para promover saúde e qualidade de vida. Ela atua nas necessidades físicas, emocionais, sociais e cognitivas dos pacientes, e pode ser preventiva ou para tratamentos e reabilitação.

“Entre muitas doenças e transtornos, têm se tornado mais comum o acompanhamento de pacientes neurológicos e pessoas com transtornos mentais, afetivos e de desenvolvimento”, destaca Diana. Entre eles, pacientes portadores de paralisia cerebral, AVC, Alzheimer e Parkinson. Além do autismo, hiperatividade, déficit de atenção e ansiedade.

Segundo Diana, também há uma demanda crescente de pacientes internados ou em atendimentos ambulatoriais, como centros oncológicos, que recebem a terapia.

Foco nas necessidades

Também musicoterapeuta da escola, Ricardo Petter explica que há diferença entre a música e a musicoterapia. “Na aula, o objetivo principal é o desenvolvimento do conhecimento musical, sua teoria e prática e suas técnicas. Já na musicoterapia, o foco é a pessoa e suas necessidades, sendo a música um instrumento para que sejam atingidos objetivos terapêuticos”, destaca.

Por meio da técnica, é possível sentir emoções positivas ou negativas, ativadas em áreas específicas do cérebro. Por isso, a musicoterapia também é capaz de melhorar o humor, concentração, memória e lembranças profundas.

Durante as sessões, quando o paciente é ativo, ele canta junto com o instrutor. No caso de pacientes passivos, eles apenas escutam as melodias. A técnica também pode ser executada em grupos, onde todos tocam e cantam juntos, mas cada um no seu ritmo. Estudos mostram que as sessões ajudam pacientes a se soltarem e expressarem emoções com mais facilidade.

Hoje a profissão é reconhecida no Brasil e estão aptos para exercê-la, profissionais com graduação ou pós-graduação em musicoterapia. No RS, inclusive, existe a Associação de Musicoterapeutas (AMT-RS) que regulamenta e fiscaliza os profissionais.


Benefícios da musicoterapia

• além de tratar doenças, também estimula a memória e o aprendizado;

• auxilia na quebra da tensão dos músculos, comum principalmente em pacientes com ansiedade e depressão, seja esta motivada por alguma situação ou doença;

• as sensações de relaxamento ajudam a motivar pacientes a continuarem com os tratamentos;

• também equilibra o ritmo do coração e da respiração, ajudando a controlar o estresse;

• pode melhorar as frequências cardíaca e respiratória;

• a prática é eficaz no tratamento de sintomas negativos, como a ansiedade e o isolamento;

• serve para tratar sintomas como a demência, comum em doenças como o mal de Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas;

• Pode ameniza sintomas da amnésia;

• no caso do autismo, incentiva a comunicação e a autoexpressão, trazendo qualidade de vida para o portador da doença.

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