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Opinião

Ney Arruda Filho

Ney Arruda Filho

Advogado

Coluna com foco na essência humana, tratando de temas desafiadores, aliada à visão jurídica

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Vale do Taquari
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Quando comecei a cursar Direito, eu ficava indignado com a lista da bibliografia básica de cada disciplina. A impressão que eu tinha era que cada professor estava convicto de que os alunos só tinham aquela matéria para estudar. E que não faziam mais nada na vida além de estudar. Do alto dos meus 18 anos, como a maioria dos colegas, eu trabalhava durante o dia e estudava à noite.

Meu diferencial era que eu já tinha um bebê em casa, geralmente muito alerta, quando do meu retorno, exausto, no final da noite. Bem, escolhas devem ser feitas e eu acabava escolhendo dentre as leituras, aquelas que mais me agradavam. Levei a graduação assim e, confesso, algumas matérias me soam estranhas até hoje. O Direito e o Processo Penal, por exemplo, assim como o Direito Internacional Público.

Nas últimas semanas a gente se deparou com um sem número de comentaristas de redes sociais, falando com convicção sobre a crise humanitária do Afeganistão. No contexto de uma pandemia, a coisa fica ainda pior, pois não faltam “especialistas” a versar sobre assuntos que pouco ou nada sabem, mas sempre cheios de certeza.

É muito estranho que, mesmo sem nenhum conhecimento, essas pessoas tenham tanta certeza, ao ponto de se exporem publicamente. Assumindo minha natureza analógica, mas não abrindo mão da curiosidade, saí atrás de alguma explicação. E não é que encontrei? Descobri que se trata de um fenômeno bastante comum, um mecanismo psicológico batizado de efeito Dunning-Kruger. Trata-se de um problema ligado à metacognição, que nada mais é do que a habilidade do indivíduo de monitorar seus processos cognitivos e de identificar as suas limitações de conhecimento e compreensão em diversas situações.

Esse efeito se manifesta como a incapacidade de reconhecer sua própria ignorância, alimentando, assim, uma ilusão de superioridade e de conhecimento superestimados. De forma mais direta, os psicólogos americanos David Dunning e Justin Kruger concluíram que, quanto mais ignorante a pessoa for em determinado assunto, mais confiante esta pessoa pode se sentir para opinar sobre ele.

É claro que vivemos numa sociedade democrática, onde todos são livres para ter uma opinião e para expressá-la nas redes sociais ou fora delas. Quando uma pessoa exerce seu inalienável direito de expressão e emite uma opinião pouco ou nada embasada, isso pode gerar impacto negativo em termos da influência que esta opinião terá sobre a concepção de outras pessoas. Essa influência é bastante limitada, no caso do cidadão comum. Em geral, se influência houver, ela será limitada a um círculo social restrito, como família e amigos. Ainda assim, me parece de bom tom que externemos opiniões sobre temas a respeito dos quais tenhamos, pelo menos, algum conhecimento.

Na semana que passou, eu senti um forte impulso de me tornar especialista em Afeganistão. Troquei ideias com as minhas sócias e pensei bastante a respeito. Escolhi continuar sendo advogado, para o bem de todos.

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