Perto dos netos para rejuvenescer

Dia dos Avós

Perto dos netos para rejuvenescer

Seja para brincar, cantar, praticar esportes, ensinar e aprender, o convívio traz benefícios para netos e avós e aumenta a qualidade de vida dos idosos. Conheça as histórias de Odécio, Neca e Grete, que encontram nos netos a energia para a longevidade

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Atualizado segunda-feira,
26 de Julho de 2021 às 14:37

Perto dos netos para rejuvenescer
(Foto: Bibiana Faleiro)
Vale do Taquari

Nos fundos de casa, em Arroio do Meio, o músico e farmacêutico Odécio José Petter, de 67 anos, gosta de tocar violão. Ele ensaiou os primeiro acordes aos 12 anos e, desde então, sempre há música na residência.

Quando os filhos de Odécio e da esposa Célia eram pequenos, o pai escreveu uma canção de ninar para cada um. Depois do nascimento das netas, a tradição permaneceu e Isadora, 18, Sarah, 12, e Dora, de 6 anos, costumavam se acalmar assim que o avô tocava as primeiras notas no violão.

“Cada uma delas é diferente e a inspiração veio do interior mesmo. Do sentar, ver e escutar as coisas ao redor. Assim são escritas as músicas”, conta Odécio que hoje faz parte da Banda Os Medievais, ao lado de dois amigos de Estrela.

Mesmo que hoje a prática de um instrumento musical não seja presente na vida das netas, o gosto pela música foi passada pelo avô e elas gostam de acompanhar o artista. “Mesmo quando a banda tem uma apresentação em algum lugar, num festival, em algum pub, minhas netas estão sempre lá”, conta Odécio. A mais nova, Dora, também vem com os pais de Cambará para assistir o avô tocar.

Beatles e Bob Dylan são alguns dos artistas que preenchem a casa de Odécio com melodias e fazem parte do repertório das netas. “Esses dias a Isa me ligou, falou que tava caminhando e ouvindo Eagles. Era isso o que eu queria, que elas carregassem essa parte cultural que eu sempre gostei”, conta Odécio.

No aniversário de 18 anos de Isadora, a família montou um karaokê em casa e neta e avô cantaram juntos a música Perfect do Ed Sheeran.

Odécio vê no papel de avô, a possibilidade de ser um segundo pai para as netas. Ele lembra de quando foi buscar Sarah na pré-escola, quando ela ainda era criança. Já dentro do carro ela perguntou se podia chamar o avô de pai. “A gente também se sente responsável pelos netos, gostaria que todos tivessem a oportunidade de conviver com os seus avós”, diz.

Odécio trabalha na farmácia onde é proprietário. Mas quando chega em casa, gosta de sentar embaixo da árvore de carambola com o violão. Pode passar horas tocando. “A gente vai envelhecendo quando a gente vai parando. Se tu para de tocar, trabalhar, sair à noite com meus amigos, acho que devagar tu vai murchando. Enquanto a cabeça, o físico, emoção e pensamento permitirem, você vai em frente”, acredita.

Na ativa

Aos 60 anos, Angela Angela Hoffmann sobe no tablado para uma aula de muay thai toda semana. Ao lado do neto Bernardo Hoffmann Braun, de 15, não há movimentos que ela não consiga fazer e é um exemplo dentro da academia.

Também avó de Rafaela, de 1 ano, Angela, a Neca, como costuma ser chamada, pratica o esporte há cinco anos e não pretende parar tão cedo. “É uma atividade física muito boa, a gente trabalha todos os músculos, a concentração, porque temos que nos concentrar nos golpes. Então mente e corpo ficam sempre muito ativos”, ressalta.

Para ela, praticar exercício físico é qualidade de vida, assim como passar as tardes na companhia dos netos. “É um amor diferente, um amor com açúcar. Quando a gente tinha filhos pequenos, tínhamos muitos compromissos ao mesmo tempo, agora eu posso sentar e curtir a presença deles, é diferente”.

Além de dividir as aulas de muay thai com a avó, Bernardo também gosta de escutar as histórias que ela conta sobre o passado. A amizade é como ele define o relacionamento com os avós. “Eu estou sempre aprendendo uma coisa nova com eles. A gente tem um vínculo muito bom. Somos muito amigos”.

Neca, de 60 anos, treina muay thai ao lado do neto Bernardo, de 15, toda semana (Foto: Bibiana Faleiro)

Além dos exercícios físicos, Neca também gosta das redes sociais e tem quase 30 mil seguidores na página do Facebook onde compartilha dicas de decoração. “Qualidade de vida para mim está ligada ao exercício físico, mas é também saber aproveitar as fases da vida. Aproveitar a família, amigos, os netos. Eles fazem muito bem pra gente”, diz. Ela também gosta de assistir a seriados e não abre mão do chimarrão.

“Vejo nela uma forma linda de enxergar a vida”

Grete Waldow, de 85 anos, é carinhosamente chamada de “oma” pelos netos. Moradora de Santa Rosa, faz cinco anos que ganhou um smartphone e viu a possibilidades de reencontrar a família que morava longe, ou conversar com pessoas que não tinham telefone fixo.

Ela mantém um caderninho sempre por perto e gosta de anotar, seja as instruções de como ligar a televisão ou fatos importantes da história, como se fossem registros de um diário. “Começamos a anotar também neste caderno, um passo a passo de como usar o WhatsApp e Facebook, e isso trouxe muita autonomia para ela”, conta a neta Bárbara Corrêa, 27.

A partir de então, Grete começou a adicionar pessoas nas redes sociais, procurar músicas alemãs no Youtube e “se virar” no meio tecnológico.

“Sempre vi na minha ‘oma’ uma forma muito linda de enxergar a vida e eu quis trazer isso pra outras pessoas também”, explica Bárbara.

Assim, ela criou o projeto “Vomo que vomo”. Além de ser um curso presencial, também disponibiliza materiais gratuitos para quem quer aprender a usar um smartphone, e utiliza o perfil do Instagram @vomoquevomo, para compartilhar histórias da avó.

Greta, de 87 anos, aprendeu a usar as redes sociais com o incentivo da neta Bárbara (Foto Arquivo pessoal)

Na próxima segunda, do Dia dos Avós, Bárbara e Grete programaram uma live no perfil para contar a história delas e como, juntas, conseguiram garantir mais longevidade para a avó. “Queremos apoiar outros filhos e netos para que façam o mesmo”, diz Bárbara.

Grete vai estar em Santa Rosa e a neta em Lajeado. A live transmitida pelo Facebook do projeto terá convidados e inicia às 19h.

“Eles veem os avós como amigos, e vice e versa”

O médico Geriatra Aldo Pricladnitzki fala sobre a importância da convivência entre avós e netos. Além de proporcionar momentos de lazer e qualidade de vida, a proximidade é capaz de rejuvenescer o idoso. Atividades físicas também são importantes para manter ativos a mente e o corpo.

Quais são os benefícios do convívio entre netos e avós?
É uma pergunta importante. Ele envolve o ser de mais idade com a outra pessoa com menos idade. Nessa relação de avô e neto, o avô traz com ele aquela criança interior que cada um de nós tem. O neto muda tudo, e os avós deixam de ser aquela figura muitas vezes sisuda quando estão juntos. O que devemos fazer é entrar no mundo dos netos e permitir essa alegria, uma conversa. Depois eles vão crescendo e as relações mudam também. Mas sempre fica aquele sentimento de amizade. Eles vêem os avós como amigos, e vice e versa.

O que é considerado qualidade de vida para o idoso?
Depende, tem um diferença entre idoso e velho. Muitas pessoas com 80 anos são idosas, e outras com 50 ou 60 que são velhas. Idoso é quem tem atividade, interage com o mundo onde vive e o velho é aquele que não tem nada a fazer. Tem que ter atividade física, academia, caminhada, pilates, é importante se mexer, isso faz diferença. Faz bem para o corpo e para a mente.

E neste momento de pandemia, em que eles muitas vezes saem pouco de casa e recebem menos visitas, o que é possível fazer para levar qualidade de vida aos avós?
O básico que nós médicos sempre falamos. Com o uso da máscara, distanciamento social e lavando as mãos com frequência, é possível continuar com o convívio. Até mesmo as refeições são possíveis se for em um lugar bem arejado.

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