O conto da lua

Opinião

Hugo Schünemann

Hugo Schünemann

Médico oncologista e diretor técnico do Centro Regional de Oncologia (Cron)

O conto da lua

Por

Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

A campanha eleitoral americana estava a pleno vapor. Disputa acirradíssima. Promessas de todo o tipo para uma nova conquista da hegemonia do mundo por aquela nação. Os republicanos apostando no orgulho, na segurança econômica, no nacionalismo do povo americano. Os democratas, falando em direitos humanos, igualdade de direitos e paz.

Enfim, disputa acirradíssima. Num certo dia, o candidato republicano, num impulso durante o comício, decide que os americanos voltarão à lua em seu mandato, para lá se estabelecerem definitivamente.
Agitação geral.

A imprensa resgata filmes das viagens espaciais dos anos 1970, passam a mostrar repetidamente o filme do primeiro passo na lua… “um pequeno passo para um homem, num salto gigantesco para a humanidade”… Astronautas do programa espacial voltam a ser atração, entrevistas, programas de TV, enfim, um novo fôlego. A nação se empolga com a promessa.

Surgem os críticos, ressurgem aqueles que acreditam no passo na lua e o debate se estende e se multiplica. Surgem acusações de oportunismo, manifestações de positivismo e o assunto ocupa todos os telejornais. São lembrados os que perderiam a vida, os testes das máquinas, dos foguetes.

No meio desta agitação, a agência espacial americana (Nasa) resolve tirar proveito e anuncia que vai redirecionar o telescópio Huble, que se encontra em órbita, para fotografar o local do primeiro pouso lunar, no mar de tranquilidade em solo lunar.

Cria-se a expectativa. Há os que dizem que isso será definitivo. Há os que dizem que será uma fraude ou que vai provar que a fraude existiu.

A Nasa, certa de sua conquista espacial, marca o dia e hora em que telescópio estará melhor alinhado e decide que vai fazer as imagens em tempo real e transmiti-las ao vivo. Expectativa, ansiedade. Gente duvidando. Gente apostando no fim da discussão.

No dia marcado, a Nasa movimenta o telescópio. Alinha as suas lentes e faz as suas fotos. E transmite-as sem edições, em tempo real. E qual a surpresa? Nada da bandeira americana espetada no solo lunar, no auge da tranquilidade, Sr. Neil Armstrong.

O quê?
Os céticos deliraram. Os patriotas piraram. Mas como? Foi tudo uma fraude. O Governo e a Nasa nos enganaram todos estes anos? Nunca fomos à lua? Vergonha nacional.

Surgem protestos, surgem passeatas de cidadãos de orgulho ferido, revoltados… “Como algo assim pode acontecer?”. A mídia passa a constranger os membros e funcionários das missões espaciais dos anos 1970.

Eis que num momento de desespero, um funcionário da Nasa, recalibra o telescópio, quase no final da janela de oportunidade que o Huble tinha para fazer a foto, já que a órbita lunar está levando a lua para longe e teriam que esperar 28 dias para nova oportunidade (quando a eleição já teria passado) e, naquele último momento, o telescópio é acionado e, de repente, ao vivo, surge a imagem da bandeira americana caída semi coberta por poeira lunar.

Delírio! A nação se infla de orgulho! Os nacionalistas e patriotas se sentem incríveis! Os céticos engolem a seco! A imagem fala por si só… a bandeira está lá, caiu após tantos anos, mas está lá! Prova incontestável da presença americana no satélite da Terra! Prova inquestionável da força da engenharia da tecnologia americana!!

A eleição está ganha!!

Enquanto o povo festeja, os políticos festejam, la na sede da Nasa, os funcionários que conseguiram as imagens, que salvaram a honra da agência espacial, no último minuto, percebe sozinho que, sim a bandeira está lá, provando que sim, eles foram à lua.

Mas o trem de pouso, do módulo lunar, estrutura que ficou na superfície da lua, assim como a bandeira, não está mais lá… Alguém a removeu de lá.

Ah, pois é…

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