Organização financeira desafia os pequenos negócios

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Organização financeira desafia os pequenos negócios

Mercado volátil e complexidade tributária exigem atenção especial dos pequenos negócios

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Organização financeira desafia os pequenos negócios

O empresariado brasileiro se acostumou a conviver com uma combinação entre um intricado sistema tributário e um mercado altamente volátil. Ainda mais desafiador diante da crise provocada pela pandemia de Covid-19, o cenário obriga um olhar ainda mais apurado para a organização financeira, em especial nos pequenos negócios.

Tema do Workshop Negócios em Pauta de junho, o assunto foi abordado pela empresária contábil e presidente da Câmara de Indústria e Comércio de Estrela (Cacis), Andrea Zwirtes, pelo diretor da Nexsul, Vagner Felipe Becker e pelo sócio administrador da Suprivale, Douglas Cíceri. O evento foi transmitido pela Rádio A Hora e no Facebook do Grupo A Hora, em formato Live.

Andrea iniciou o debate ressaltando a carência de conhecimento financeiro por parte dos empresários, em especial dos pequenos. Segundo ela, durante a pandemia, muitos os profissionais ficaram sem emprego e decidiram iniciar um negócio, mas sem avaliar o mercado ou elaborar um plano de ação adequado ao momento.

Mesmo quem já tinha um negócio estabelecido precisou investir para se reinventar diante da pandemia. Por isso, Andrea reforça a necessidade de buscar conhecimento sobre as tendências do mercado antes de iniciar um processo de captação de recursos, principalmente em bancos.

Líder de uma empresa com 13 anos de mercado, Douglas Cíceri ressalta os momentos difíceis provocados pela falta de organização financeira. Segundo ele, a empresa cresceu sem controle, sem se preparar para uma queda no fluxo de caixa.

Na época, a Suprivale trabalhava com fornecimento de equipamentos para órgãos governamentais e sofreu com atraso em repasses. “Paramos de vender e tínhamos uma equipe grande para manter. Por falta de experiência, tentei continuar com todas as pessoas até perceber que, se não enxugássemos, acabaríamos fora do mercado.”

Conforme Cíceri, a contratação de um profissional para o financeiro da empresa foi um dos melhores investimentos realizados por ele. “Me sobrou tempo para visualizar melhor os outros setores, inclusive o comercial. Tivemos mais retorno na empresa e financeiro ficou bem mais organizado.”

Vagner Becker considera o planejamento a melhor forma para evoluir diante das mudanças no mercado. Cita como exemplo a Nexsul, cuja trajetória começa como uma empresa de informática, depois passa pelo desenvolvimento de software, até chegar ao modelo atual, como provedor de internet.

“Minha dica para quem quer empreender é manter a cautela, pensar e repensar os investimentos e planejar sempre”, destaca. Conforme Becker, o dinheiro é o ponto mais sensível de qualquer empresa, por isso, todo investimento precisa de uma avaliação criteriosa quanto ao retorno esperado e a real necessidade da aplicação.

Para a presidente da Cacis, a desorganização de uma empresa resulta do fato de os empresários quase sempre estarem consumidos pelas funções operacionais, deixando de lado a gestão financeira e de pessoas. Conforme Andrea, as finanças precisam ser avaliadas e controladas diariamente.

Tributação x crescimento

Planejar o enquadramento tributário e compreender as diferentes alíquotas também evita problemas na lucratividade das operações. De acordo com Cíceri, a diferença na carga tributária dos diferentes estados faz com que muitos empresários paguem para trabalhar quando imaginam estar ganhando dinheiro.

Segundo ele, as principais distribuidoras estão fora do RS devido a tributação mais alta cobrada no Estado. Dessa forma, os produtos são taxados conforme a margem estipulada pelo governo, geralmente em 60%. “No caso de um produto que custou R$ 1 mil, o empresário tem que recolher a diferença sobre os R$1,6 mil que é a margem estipulada pelo governo. Isso tem grande impacto.”

Outra questão importante é perceber o custo dos impostos de acordo com a faixa de enquadramento da empresa. Conforme Becker, as alíquotas do Simples aumentam de acordo com o tamanho do negócio, resultando na diminuição das margens de lucro. “Crescer não representa somente aumentar  o faturamento. Todos os custos aumentam exponencialmente.”

Conforme Andrea, a tributação precisa estar incluída na precificação dos produtos, assim como os custos fixos da empresa. “Muitas vezes o empresário só coloca um percentual aleatório em cima do preço de compra e vende sem uma análise mais aprofundada dos custos.”

Variação cambial

Analisar as tendências do mercado global também deve fazer parte do planejamento financeiro das empresas. No caso da Nexsul, Valdir Becker ressalta a dependência de equipamentos eletrônicos fabricados no exterior, cujos preços variam de acordo com o câmbio. “Nessa semana, o dólar baixo e aproveitei para comprar um equipamento. Com o câmbio alto, todo nosso processo acaba afetado.”

Segundo ele, a escassez global de chips e semicondutores inviabiliza diversos projetos. “Estamos com pedidos de equipamentos atrasados em 45 dias. A venda está efetuada, mas não consigo ativar o cliente por fatores externos.”

No caso da Suprivale, Cíceri ressalta a falta de previsibilidade resultante da variação cambial. Como a empresa trabalha com registro de preços para órgãos públicos, a regra exige que o valor se mantenha o mesmo por 12 meses. “Hoje se tornou inviável, porque o dólar está oscilando muito, falta produto no mercado e os preços sobem. O risco se torna muito maior.”

Para Andrea, o empresário deve entender de economia, estudar bem o negócio, e ainda assim se cercar de profissionais competentes para enxergar oportunidades e minimizar riscos. “Precisamos de empresas sólidas e sustentáveis.”

 

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