Empreendedorismo e momento

Opinião

Ney Arruda Filho

Ney Arruda Filho

Advogado

Coluna com foco na essência humana, tratando de temas desafiadores, aliada à visão jurídica

Empreendedorismo e momento

Lajeado
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O dicionário Oxford define o empreendedorismo como a disposição ou a capacidade de idealizar, coordenar e realizar projetos, serviços e negócios. O conceito está ligado, também, à inovação, à iniciativa de implementar novos negócios, novas soluções. Aqui no Brasil, o Sebrae relaciona empreendedorismo com pessoas, destacando a capacidade humana de identificar problemas e oportunidades, desenvolver soluções e investir recursos na criação de algo positivo para a sociedade. O resultado desta capacidade humana pode ser um negócio, um projeto ou mesmo um movimento que gere mudanças reais e impacto no cotidiano das pessoas. Já o momento é aquele intervalo de tempo indeterminado, que pode durar segundos ou mais: a gente nunca sabe ao certo quando um momento vai dar espaço pra outro, diferente.

Em março de 2020 iniciou o momento mais desafiador enfrentado no século XXI. Pelo menos até agora. Nesse momento, tivemos que enfrentar um inimigo desconhecido. O momento que se pensava iria durar um mês, dois no máximo, já remonta ano e mais. Eu sei que tá todo mundo saturado deste assunto, covid, mas retomo ele por causa da capacidade humana de inventar e de se reinventar. Afinal, o discurso corrente prega que a vida daqueles que ficaram não pode parar, a economia tem que girar, as pessoas precisam trabalhar, produzir, consumir. Nesta linha, o impacto da doença e o indefinido tempo que estão durando os seus efeitos, obrigaram muitos negócios tradicionais a se reinventar durante a pandemia. Comércio, restaurantes, hotelaria, eventos, pra citar apenas alguns, lutam para sobreviver. Alguns pereceram.

Aí entra a capacidade humana de identificar oportunidades. E pra minha surpresa, em meio à maior crise sanitária de que se tem notícia, quando a gente chegava a 450 mil vidas perdidas só no Brasil, alguém identificou uma oportunidade de negócio. Surge um empreendimento na região voltado aos praticantes do tiro. O grupo se define como uma novidade para aqueles que praticam ou desejam conhecer o esporte do tiro em sua totalidade. Com uma equipe de “profissionais capacitados no treinamento e suporte, além de instrutores credenciados voltados à formação especializada através de cursos, aulas particulares, licenças e demais atividades letivas ligadas ao tiro”. Pois bem, eu sei que o tiro é um esporte, inclusive com status de esporte olímpico, e que é praticado no mundo todo. O que eu não fazia a menor ideia é que, neste momento – e voltando à noção de momento – abrir um clube de tiro poderia ser uma ação empreendedora bem sucedida. Por óbvio que as pessoas que buscam os cursos e demais atividades ofertadas não desejam matar ninguém. Imagino que desejam diversão, talvez proteção ou ainda a prática de um esporte. Que assim seja.

Mas isso não diminui a minha surpresa. Ainda que me considere com algum senso empreendedor, eu jamais poderia imaginar que, no momento em que vivemos, de vidas, vínculos e empresas perdidas, a capacidade humana de identificar essas oportunidades.

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