“A gente sofre, a gente sangra. Só temos de estar preparados”

Abre aspas

“A gente sofre, a gente sangra. Só temos de estar preparados”

Natural de Bom Retiro do Sul, o sargento Eloir Pasch, 55, está faz mais de três décadas nos Bombeiros. Ao longo deste tempo, atuou em situações críticas e marcantes. Dessas experiências, procura levar consigo aquelas em que ajudou a salvar vidas. Ainda assim, há memórias difíceis que o acompanham. Como aprendizado, está a certeza da responsabilidade, de que os bombeiros precisam sempre estarem preparados.

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“A gente sofre, a gente sangra. Só temos de estar preparados”
Crédito: Filipe Faleiro
Lajeado

O que fez o senhor virar bombeiro?
Acho que esse é um sonho que acompanha muita gente. Quando criança, via os bombeiros passando, via a atuação deles. Isso mexeu comigo. Quando apareceu a oportunidade, fiz o concurso e passei. Entrei na corporação em 1989. Tinha pouco mais de 20 anos. Fui para Montenegro e depois trabalhei 15 anos em Esteio. Em 2004 veio a oportunidade de atuar em Lajeado, onde estou até hoje.

Ao longo desses 32 anos de corporação, quais episódios mais difíceis?
Uma das ocorrências mais difíceis foi o acidente na serra de Pouso Novo, em que houve seis mortes. Todas as vítimas carbonizadas. Foi algo que foge muito da normalidade. Uma cena que ficou comigo por muito tempo. Outras ocorrências traumáticas são os suicídios. Teve uma tentativa em Estrela, que uma senhora pulou da ponte. Ali consegui salvar. Eu estava esperando lá embaixo. Percebi que ela ia pular. Consegui agir rápido e tirar ela da água. Há episódios muito difíceis, seja pela perda de vidas, ou mesmo pelo risco que os bombeiros correm. Lembro de uma explosão de um posto de combustíveis em Muçum. É um fato de muita tensão. Temos de atuar, mesmo que isso possa custar a nossa vida. São momentos que lidamos com o imprevisível.

E o contrário. Quais ocorrências trouxeram finais felizes?
As marcantes são aquelas que salvamos vidas. Lembro de uma menina, de 8 anos que se afogou na piscina em Arroio do Meio. Fomos chamados, chegamos muito rápido, fizemos a massagem cardíaca e conseguimos salvar. Também teve uma enxurrada no Rio Forqueta, em que um pai e duas filhas ficaram presos na ilha. Eu entrei na água, atravessei o rio e fizemos uma tirolesa para resgatá-los. No geral, as mortes, as tragédias, procuro não carregar comigo. Tento sempre lembrar das que os bombeiros salvaram, daqueles episódios em que fizemos a diferença.

Como era a vida do senhor antes de ser bombeiro? E no que ela mudou?
Ser bombeiro é uma responsabilidade. Antes de entrar, eu trabalhava na indústria de calçados. Ia lá, cumpria o horário, voltava para a casa. Agora, minha obrigação é salvar vidas. Isso é uma mudança muito grande. Sei que quando somos chamados, temos de fazer a diferença entre a vida e a morte.

Muitas pessoas chamam os bombeiros de heróis. O senhor se considera um herói?
Não. Não sou herói. O herói tem superpoderes. Nos somos seres humanos. A gente sofre, a gente sangra. Só temos de estar preparados. Eu saio do quartel e vou fazer exercícios. Tenho 55 anos e cuido muito do meu físico. Corro, nado, vou na academia. Tenho de estar bem para quando precisar atravessar o rio a nado, ou ter força para segurar uma pessoa descendo de rappel. Não posso relaxar.

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