O ano era 1969, eu tinha seis anos de idade e o cara era amigo do meu pai. O nome dele eu sabia: Oswaldo Carlos. O sobrenome era muito complicado e impronunciável na época. Na verdade, eu não sabia o que ele fazia, se era bombeiro ou advogado, se era fazendeiro ou médico. Sabia que ele era divertido, que criava coelhos, que sempre brincava comigo e dizia coisas engraçadas. Para mim ele era velho, pois tinha filhos, mas parecia criança. Ele enxergava a vida com os olhos e também com o coração. Isso bastava para que eu gostasse muito dele.
Naquela tarde de primavera, na velha casa da rua Borges de Medeiros, ele me flagrou brincando de “Perdidos no Espaço”, com campo de força ligado e tudo o mais que a imaginação permitia. Foi recebido à bala, ou melhor, a raio laser, como deve ser recebido o invasor de um espaço sideral privado, onde brinca uma criança, com a extensão dos domínios de sua imaginação infinita. Não lembro bem das palavras, mas foi algo assim, “alto lá invasor, não ultrapasse meu campo de força”. Esse diálogo foi transcrito e publicado, com alguns acréscimos e detalhes, na forma de uma entrevista, na edição de outubro de 1969, da revista “Conheça o Vale do Taquari”, no primeiro ano da publicação, seu décimo número. O redator chefe e também o entrevistador era o Seu Oswaldo. Ele me perguntou o que eu queria ser quando crescesse. Respondi, com o ímpeto infantil, que seria advogado, detetive e chefe de polícia. Certamente aquela revista foi o embrião de outras tantas e do Jornal O Informativo, que o Seu Oswaldo capitaneou por muitos anos.
Até domingo, 18 de abril, não me parecia que tanto tempo havia passado. A revista não circula mais, quase todos os anunciantes da época não existem mais, não lembro a última vez que comi um churrasco de coelho, já passei do meio século e o campo de força parou de funcionar. Eu, que era criança, hoje sou criança e velho, tenho filhos e netos, escrevi livros, plantei árvores. Não fui detetive nem chefe de polícia, me tornei advogado, não por acaso, guiado pelas curvas da vida. Às vezes me arrisco a escrever, sempre guiado pelo coração.
Seu Oswaldo, que continuava criança e velho, com seu sorriso fácil e olhar atento, nos deixou. Nestes anos que se foram, ele construiu um grupo de comunicação regional fortemente inserido nas comunidades onde atua. Muita gente olha pro cara e pergunta como ele conseguiu construir tudo isso. Se perguntassem pra ele, com certeza, ele revelaria os segredos. Certo é que um deles, um dos segredos, já estava lá, naquele bate papo que tivemos, eu com 6 anos, ele com trinta e poucos, naquela ensolarada tarde de primavera de 1969: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Alguns homens esqueceram essa verdade, mas nós não vamos esquecer, né Seu Oswaldo?