Mãos que falam

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Língua Brasileira de Sinais facilita a inclusão de surdos na comunidade

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Atualizado sábado,
24 de Abril de 2021 às 11:52

Mãos que falam
Rosane (e) e Liliana se comunicam por meio das Libras. Fotos: Jéssica R. Mallmann
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Falar sobre inclusão social é oferecer oportunidades iguais de acesso e serviços para todos, independente de classe, idade, raça, deficiência ou gênero. Apesar dos avanços das últimas décadas, sabemos que ainda existem muitas barreiras a serem quebradas na sociedade. Uma delas está relacionada a comunicação que, para os surdos, é um desafio diário.

A falta de estímulos e oportunidades são as principais feridas da sociedade, segundo a estudante Liliana Krüger, 16. A jovem, que nasceu surda, tem a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como forma de comunicação oficial, diferente da sociedade ouvinte que somente possui o domínio do português. “Por vezes, me sinto uma estrangeira em meu país de origem”, revela.

Pela escrita, gestos ou mímicas, Liliana consegue se comunicar com quem não conhece a Libras. Mas há casos em que ela necessita de intérpretes para auxiliá-la em atividades corriqueiras, o que pode gerar dificuldades.

Foto: Jéssica R. Mallmann

“Em cursos, por exemplo, quando minha família menciona na inscrição que é necessário o tradutor intérprete para que eu possa acompanhar e aprender, começam as barreiras. Seja pelo custo que o local terá em contratar o profissional à parte ou também pela indisponibilidade dele no mercado de trabalho”, conta.

Em casa, comunicar-se em Libras sempre foi tranquilo e natural, visto que Liliana nasceu em uma família de surdos. Com o tempo, quando foi inserida na comunidade a jovem aprendeu a se desenvolver melhor e expressar suas vontades. Hoje, ela busca ensinar aqueles que se aproximam a ela, introduzindo a Libras.

 

A experiência de quem ouve

Prima de Liliana, a pedagoga Rosane Krüger, 40, conta que mesmo sendo ouvinte vive o preconceito e os desafios dos familiares com surdez. “Como filha ouvinte em meio aos meus familiares surdos, aprender a Língua Brasileira de Sinais foi algo natural e amoroso. Porém, as dificuldades eu senti perante a sociedade”.

Rosane analisa que hoje há melhores condições para os surdos, devido ao amparo de algumas leis. O reconhecimento da Libras como uma língua oficial brasileira foi um grande passo. “O ideal seria sua introdução desde a educação infantil, assim como para outros idiomas, afim de fomentar a cultura, associações e comunidade surda”, comenta.

Para ela, esse marco não é somente um ato legal, representa a valorização dos profissionais tradutores e interpretes que atuam como elos de comunicação. É a possibilidade de empresas e serviços públicos básicos se capacitarem para melhor atender o cidadão surdo.

“O que nós precisamos é cumprir o que rege a Constituição Federal, na qual diz ‘tratar de forma igual os iguais e de forma desigual os desiguais, assim teremos a chamada equidade social’”.

 

A língua que se vê

Professora da rede estadual com experiência na inclusão de surdos no ensino regular, Letícia Dell’ Osbel, 30, explica que a Libras é reconhecida pela Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, como a língua natural dos surdos e a segunda oficial do país. “Com gramática própria, e, por ser visual/espacial, é aprendida com facilidade pelas pessoas surdas”.

Segundo Letícia, a Libras permite ao surdo, além do desenvolvimento linguístico, o progresso dos aspectos cognitivos e socioafetivo, o que possibilita a construção de suas subjetividades e de marcas culturais surdas. Tais avanços podem ser conquistados também com o auxílio da SignWriting, a escrita própria que expressa “em texto” a Libras.

Entre as dificuldades de quem educa e necessita da Língua Brasileira de Sinais, Letícia destaca a falta de visibilidade e conhecimento sobre este tipo de comunicação. “Há falta de professores e intérpretes que tenham formação para a educação de surdos. A inclusão escolar é ainda, em muitos espaços, ausente e até restrita”, salienta.

 

Quem pode aprender?

Letícia, Liliana e Rosane afirmam que todos podem aprender Libras, para que a comunicação não fique restrita somente aos surdos e intérpretes. De acordo com a professora, é extremamente importante que a língua seja introduzida desde cedo na comunidade escolar, por meio de uma proposta bilíngue, em que se vivencia a interculturalidade entre surdos e ouvintes.

“Além disso, escolas que não têm a inclusão de surdos, ao estudarem a libras e a cultura surda, contribuem para a construção de uma sociedade plural e inclusiva”, reflete Letícia.

Para aqueles que já deixaram a fase escolar também é possível aprender língua de sinais em cursos presenciais ou virtuais. “Recomendo a participação em cursos por se tratar do aprendizado de uma nova língua e o uso de aplicativos e pesquisa para qualificar as aprendizagens. Em nossa região, temos a Universidade do Vale do Taquari – UNIVATES que oferece um ótimo curso de libras. Outra possibilidade é o curso que ministro, para crianças, na Prospera – Academia do Cérebro, em Lajeado”.

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