A impermanência das coisas

Opinião

Caroline Lima Silva

Caroline Lima Silva

Assuntos e temas do cotidiano

A impermanência das coisas

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Há questões na vida que só aprendemos com o tempo. Uma delas é a transitoriedade da matéria e de tudo que dela advém, bens, status, títulos e outros tantos, assim como a permanência da essência, da alma e da centelha divina que há em cada um de nós. Diante de tantas mortes que o momento apresenta, nos deparamos com aquilo que não podemos mudar. Vemos a fugacidade da existência como um sopro, um alento entre um respiro e outro. Nesse sentido, as filosofias orientais ensinam que a respiração cadenciada torna-nos mais conscientes em relação a nós mesmos e, por conseguinte, mais capacitados na interação com o outro. Um mecanismo tão automático que desenvolvemos ao nascer, mas que faz toda a diferença para estarmos vivos, conquanto não nos demos conta do processo. Mas que nos proporciona voltarmos ao nosso eixo, ao nosso cerne e à nossa natureza em momentos limites.

Como dizia Heráclito, filósofo pré-socrático considerado o pai da dialética, “nada é permanente, exceto a mudança”, há no mundo um movimento constante, no qual as certezas se diluem, e o controle por nós é ilusório. Somente quando percebemos que há uma grande harmonia nos caminhos naturais da vida, aceitamos a impermanência, a morte, o sofrimento. Entendemos que a vida é renovação, sendo que, talvez, a grande permanência seja o amor que temos pelos nossos familiares, amigos e irmãos de jornada. A afetividade que nos humaniza, nos conecta e faz viva e relevante a memória de todos que por aqui passam. O sentimento que ainda nos mantém sensíveis diante das contradições aparentes, porque é o fio invisível que nos liga a todos e nos fortalece diante da dor.

Dessa forma, permanecer firmes e estruturados emocionalmente diante da impermanência da existência em tempos de grandes transformações pode parecer um trocadilho de palavras, mas vai além do mero conceito. Significa confiarmos na vida e na evolução natural de tudo, pois habitamos um mundo de muitas formas, da biodiversidade, do múltiplo, das muitas faces, das línguas, das sexualidades. Ao fundo de tudo há tempo e mudança, insuperáveis: nada permanece igual. Portanto, a questão não é como evitar a mudança, a diferença, mas como lidar bem com ela. Muito além do certo e do errado, somente ali nos encontraremos.

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