A liberdade  de dizer “não”

Comportamento

A liberdade de dizer “não”

Mulheres revelam como encaram os desafios da não maternidade

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Atualizado sexta-feira,
12 de Março de 2021 às 21:16

A liberdade  de dizer “não”
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Ser mulher, até pouco tempo atrás, era um caminho já traçado pela sociedade. Basicamente, o destino do universo feminino se resumia em crescer, aprender a cuidar da casa, casar-se, ter filhos e cuidar da família. Com o passar dos anos, esse cenário mudou e elas conquistaram o espaço, passaram a comandar a própria vida e fazer suas escolhas. Hoje, a exemplo, a maternidade deixou de ser uma obrigação para a mulher.

Formada em educação física, Michele Villa (39), conta que o desejo de ser mãe nunca foi algo muito presente em sua vida. Conforme traçava seu caminho o questionamento sobre a maternidade surgia. “Hoje ainda não tenho certeza, pelo fato de como é minha vida e rotina. Não gostaria de ter um filho para não curtir e educá-lo como de fato merece”, afirma.

Ao levantar a possibilidade da não maternidade para a família, Michele conta que, inicialmente, os pais e avós não concordaram muito com a escolha. “Acredito que, culturalmente, para eles o correto seria casar e ter filhos”. Já com os amigos a aceitação foi tranquila, principalmente entre as mulheres, visto que muitas passam pelo mesmo dilema.

Contrariando a crendice de que mulheres independentes são egoístas, a profissional de educação física diz gostar muito de crianças, principalmente dos afilhados. “Penso que ter filho não deve ser um fardo a mulher. Se não estou preparada para me dedicar 100%, não sou egoísta, e sim estou pensando no próximo, em uma vida que, por muito tempo, dependeria praticamente só de mim”.

Há vida, sem maternidade

Motivos não faltam para as mulheres tomarem a decisão de não engravidar. No caso da assistente de RH, Dioneia Ester Grave (37), a consolidação da carreira e a busca pela estabilidade foram as principais causas. “Também me questiono sobre o mundo que a gente vive hoje. Como ia ser a criação dos filhos nesse universo tão imediatista que a gente tem?”, indaga.

Segundo Dioneia, muitas pessoas ainda creem que não cabe a mulher a decisão de ser mãe. “A maioria acha que é essencial ter filhos por causa da velhice. No entanto, filhos não são sinônimo de cuidado e amparo na maturidade”.

Questionada pela família sobre o avanço da idade e a possibilidade de arrependimento sobre sua decisão, a assistente revela não descartar a adoção. “Se um dia eu tiver a vontade de ter uma criança do lado para chamar de filho, ainda tenho a opção de adotar. Ela não precisa necessariamente ser gerada por mim”.

Caso a gravidez ocorra em algum momento, Dioneia garante que irá encarar a situação de frente, como todos os outros desafios já superados. “Não é nem a questão de ser mãe, mas sim o fato de gerar. Não me vejo tendo um planejamento para esse momento, como outras mulheres. Muitas pessoas acreditam que tenho problemas para engravidar, mas não que não quero gerar filhos”.

 

 

 

“Está bem clara a minha vontade”

Diferente de Michele e Dioneia, a jovem Caroline Vitória Birkheuer (22) afirma ter certeza de sua decisão. Entre os principais motivos de sua escolha, a atendente destaca a saúde, visto que é diabética tipo 1.

“A gravidez para a mulher diabética é de alto risco. Eu teria que sair do emprego e ficar afastada durante os 9 meses. Tenho medo do que pode acontecer”.

Questões familiares e mesmo a pressão social também interferiram na decisão. “Não quero carregar essa culpa de largar meu trabalho, minha vida para cuidar de uma criança. Pode soar um pouco egoísta, mas às vezes é importante nos colocarmos em primeiro lugar. No meu caso, coloco minha saúde e é com isso que me importo”.

Mesmo questionada por mulheres mais velhas, Caroline diz estar feliz e acredita que não irá se arrepender no futuro. “Está bem clara a minha vontade. Trabalho dia após dia para amadurecer a ideia, desde os 12 anos, e tenho cada vez mais motivos para seguir com esse pensamento”.

Hoje a jovem tem seus cães e cavalos como filhos e sente-se realizada com os caminhos que percorre. Para ela, o momento é de aproveitar a vida e curtir para viajar, aprender e se desenvolver.

 

Mulher X Mãe 

Manter a decisão de não ser mãe, não é uma tarefa fácil, principalmente com a pressão imposta pela sociedade. Diariamente, mulheres como Michele, Dioneia e Caroline lutam para manter seu posicionamento e liberdade.

Ainda que o pensamento da comunidade tenha mudado, há muito a se fazer para que o sexo feminino se sinta dono do próprio corpo.

Para a educadora física, a assistente de RH e a atendente, o primeiro passo para a mudança é desassociar a mulher a figura materna. Desta forma, ficará mais fácil para a sociedade também aceitar o seu empoderamento.

“A vida é nossa, o corpo é nosso e a opção de ser, ou não, mãe também tem que ser. Ninguém melhor que nós mesmas para saber onde o calo aperta. As escolhas são de cada um e a gente tem que apenas respeitar”, afirma Dioneia.

 

Confira o que a médica ginecologista, Ana Paula da Motta, diz a respeito do assunto

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