Empreendedoras usam criatividade para driblar a crise

Novos negócios

Empreendedoras usam criatividade para driblar a crise

Em 2020, saldo de novas empresas registradas em Lajeado foi de 1401. Cenário adverso exige coragem e formas criativas de empreender

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Atualizado terça-feira,
02 de Março de 2021 às 17:44

Empreendedoras usam criatividade para driblar a crise
(Foto: Bibiana Faleiro)
Brasil

O pátio serviu de estufa e a garagem como linha de produção. É dentro de casa, no bairro Universitário, que as irmãs Vitória (22) e Laurien (30) Portantiolo Klein resolveram empreender. A ideia surgiu durante a pandemia, quando enviaram um presente para a avó que mora longe para que ela se sentisse abraçada pelas netas. A partir de então, viram uma oportunidade no mercado da região, e criaram a Floriteria, que, além de arranjos de flores, também produz cestas com alimentos e bebidas e outros produtos personalizados.

Elas possuem o registro de Microempreendedor Individual (MEI) e fazem parte das 2.161 empresas criadas em Lajeado em 2020. “Lançamos a empresa nas redes sociais e na sequência abrimos o MEI, o que foi bem simples. O registro nos oportunizou a emissão de notas fiscais e vender os produtos para outras empresas, abrindo novos mercados”, conta Vitória.

Os pedidos são feitos pelo Instagram @floriteria_ e a entrega é feita por elas mesmas. Estudante de arquitetura e urbanismo, Vitória é a responsável pelos arranjos e a relações internacionais Laurien pela parte gastronômica, já que tem experiência na área.

Lançamos a empresa nas redes sociais e na sequência abrimos o MEI, o que foi bem simples. O registro nos oportunizou a emissão de notas fiscais e vender os produtos para outras empresas, abrindo novos mercados

Segundo Laurien, um dos maiores desafios de empreender durante a pandemia é na hora de procurar fornecedores e conhecer os produtos. Além disso, também há falta de materiais no mercado.

Por outro lado, o período permitiu que elas trabalhassem em casa e conseguissem dividir o tempo entre a faculdade, outros trabalhos e a Floriteria. Por ser uma empresa pequena, empreender em casa também foi importante para reduzir os custos iniciais até elas se inserirem no mercado com clientela consolidada. Hoje elas procuram um espaço físico para atender os clientes e criar novos produtos.

Arte como negócio

A arquiteta Carolina Feldens Queiroz desenvolveu o gosto pelo macramê na pandemia e aos poucos inclui a prática como um novo negócio (Foto: Arquivo Pessoal)

O momento também incentivou a criatividade. Com um “nó” atrás do outro, as linhas nas mãos de Carolina Feldens Queiroz, 51, se transformam em lanternas, mandalas ou colares. A técnica de tecelagem manual chamada macramê começou a fazer parte da vida da arquiteta desde o início da pandemia, através de tutoriais no YouTube.

Trabalhar de casa já fazia parte da rotina da arquiteta, mas com a pandemia, ela viu uma oportunidade de criar e empreender. Assim, a tecelagem ganhou espaço em seus dias divididos entre a arquitetura, a culinária, que ela também gosta, e a arte.

A arquiteta também se arriscou pelos filtros dos sonhos, suportes de plantas, e colares que, inclusive, foram os presentes de Natal que ela distribuiu no ano passado.

Mais tarde, chegou aos painéis e, por último, desenvolveu alguns utilitários para os praticantes de yoga como bolsas e alças para os tapetes. “Outra coisa que já investiguei foram os anéis e o porta-guardanapo. Meu xodó por enquanto foi o painel sete chakras onde coloquei cristais junto aos nós, uma peça apaixonante que vendi assim que publiquei nas minhas redes sociais”, conta a arquiteta. É por lá que ela divulga seu trabalho e recebe as encomendas.

Meu xodó por enquanto foi o painel sete chakras, onde coloquei cristais junto aos nós, uma peça apaixonante que vendi assim que publiquei nas minhas redes sociais

Por ser um negócio ainda novo, ela tem vendido suas criações para amigos e familiares. Mas já teve uma encomenda que foi para fora do estado. Carolina ainda está avaliando o mercado de trabalho e a melhor opção de oficializar as confecções, mas considera o macramê uma arte e, por isso, acredita não poder colocá-la em uma linha de produção. Por enquanto, as artes são vendidas com a logo C’Alma, uma identidade que ela já vinha desenvolvendo na culinária e que pode ser conferida na página @cozinhacalma.

Saldo de 949 em 2020

Segundo a professora de economia da Univates, Fernanda C. W. Sindelar, a pandemia trouxe graves problemas econômicos para o país com o fechamento de empresas, redução de jornadas de trabalho, perda de empregos e diminuição da renda em trabalhos informais. Além disso, evidenciou as disparidades sociais e econômicas do país, onde pessoas de baixa renda sofrem maior perda e levam mais tempo para se recuperarem.

Diante desse cenário, no entanto, foram criadas 2.161 novas empresas em Lajeado em 2020, entre elas 1.459 foram MEIs e 702 empresas maiores. O município também registrou baixa de 760 empreendimentos. Destes, 510 eram MEIs. Isso significa um saldo de 1.401 empreendimentos no geral, conforme afirma a agente de Desenvolvimento da Central do Empreendedor, Cristiane Seibel Schneiders. Ela também destaca que, dessas pequenas empresas, muitas são prestadoras de serviços que querem garantir os benefícios de um MEI.

No último dia de fevereiro, o município tinha registrado 11.851 empresas com alvará ativo. Destes, 5.167 são Microempreendedores Individuais. Hoje Lajeado recebe em média 40 novas inscrições de MEIs por semana e 55 de empresas maiores.

A economista Fernanda entende que isso é reflexo da busca por alternativas para driblar a situação. “Provavelmente as pessoas perderam o emprego ou tiveram redução da jornada de trabalho, então como alternativas decidiram tentar o empreendedorismo”, comenta.

Mas ela acredita que esta não é a única solução para o cenário e destaca a importância do Auxílio Emergencial e outros incentivos do Governo. Além disso, afirma que o país ainda precisa enfrentar reformas, como a Reforma Tributária.

Outra explicação para o número de novas MEIs registradas no município durante a pandemia também pode estar ligada a esse fator, já que o modelo apresenta uma carga tributária menor. Algumas empresas também podem se dividir para reduzir custos.

A economista acredita que o momento serviu para incentivar as pessoas a tirarem ideias do papel. “Com uma renda fixa, um trabalho estável, é difícil as pessoas largarem tudo para empreenderem. Acredito que o cenário possibilitou a criação desses novos negócios”.

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