Na semana em que o país superou o número de 250 mil mortos por covid e o RS vive o pior momento da pandemia, especialistas em saúde mental alertam também para os cuidados com a mente. Excesso de informações sobre o avanço da covid aumenta a insegurança e provoca reações psíquicas, que podem agravar quadros de síndrome do pânico, depressão e ansiedade.
O estado contínuo de alerta eleva o nível de estresse. Em pessoas com histórico de alguma doença da mente, os efeitos dessa vigília podem ser mais drásticos. Conforme a psicóloga e professora da Univates, Joana Bücker, pesquisadores acreditam que metade das pessoas terão sintomas ligados a esse tipo de enfermidade em meio a pandemia e até após ela ser superada.
Doutora em psiquiatria e ciências do comportamento, Joana frisa a necessidade das pessoas com transtornos psíquicos continuarem com tratamento durante essa crise sanitária, para que a situação não piore e outras comorbidades surjam.
As consequências desse agravo trazem impactos para todas as esferas da vida. No âmbito profissional, pessoas com síndrome do pânico terão dificuldades em se concentrar nas tarefas diárias. Também dentro da família, com um desgaste das relações em função das crises.
Sobre o papel da família, a psicóloga diz que acolher, procurar entender as dificuldades enfrentadas pelo paciente e fazer com que ele se engaje no tratamento são medidas fundamentais.
Conforme pesquisa feita pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) com cerca de 400 médicos de 23 estados e do Distrito Federal (o que corresponde a 8% do total de psiquiatras do país), 89,2% dos entrevistados afirmam ter ocorrido um agravamento de quadros psiquiátricos dos pacientes.
O levantamento mostra também que 67,8% dos médicos receberam pacientes novos, que nunca haviam apresentado sintomas psiquiátricos após o início da pandemia e do isolamento social. Outros 69,3% relataram ter atendido pacientes que já haviam recebido alta médica, mas que tiveram volta dos sintomas.
Medo do conhecimento
O médico cardiologista e um dos precursores da neurolinguística no país, Nelson Spritzer, frisa o misto de emoções deste momento da pandemia. “Por um lado, tivemos notícias boas. A chegada da vacina trouxe esperança de superação desta crise. Com a demora de garantir doses para todos e o cenário de colapso na saúde, todo o medo e a preocupação vista no início da pandemia voltaram.”
Na avaliação dele, há uma diferença no sentimento coletivo com o que foi vivido em março de 2020 e desse novo pico de contágios. No ano passado, era o medo do desconhecido, agora é o medo do conhecimento. “Antes tínhamos poucas informações. Não sabíamos muito bem o comportamento do vírus e como poderíamos nos proteger.”
Passado quase um ano do primeiro caso no RS, agora as pessoas sabem os principais riscos da doença. “De tudo o que superamos no passado, das informações falsas, dos negacionistas, o temor agora é ver a situação que vivemos. Dos hospitais lotados e da insegurança em caso de ficar doente e não poder ser atendido.”
Para Spritzer, o sentimento do medo é normal e não deve ser ignorado. “Temos de conviver com ele. Precisamos entender essa emoção como estímulo para que a gente se cuide ainda mais, para que, se precisar sair, usar a máscara, evitar aglomerações. Ou seja, cumprir os protocolos para reduzir riscos de contágio.”
Como sofrer menos
Há duas ferramentas que podem diminuir os quadros de preocupação, ansiedade e medo, diz o médico Spritzer. Faz parte do conceito de logoterapia, uma abordagem que objetiva encontrar sentido na vida. “Esses mecanismos interligados canalizam as energias”, diz.
O primeiro princípio é fazer planos para o futuro, em médio e longo prazo. “Seja nos negócios, na vida. Ter metas é muito importante. Pensar aonde se quer chegar. Assim ficarmos menos presos no passado ou aflitos com o presente.”
Aliado a isso, a segunda etapa é partir para a ação. “Um soldado na guerra cumpre ordens. Se esta no meio do tiroteio e o sargento manda avançar, ele vai correr e o medo some. Se concentra naquilo que está fazendo.”
Essa analogia serve para este momento, explica Spritzer. “Vamos nos ocupar. Fazer tarefas. Se está em casa e não tem o que fazer, vamos fazer exercícios.”
A psiquiatra e psicoterapeuta Luiza Lucas tem uma opinião semelhante. Em participação no programa A Hora Bom Dia, da Rádio A Hora, afirmou que em meio ao excesso de informações negativas, é preciso ter momentos desconectados, para limpar os pensamentos.
“A pessoa que está em casa o dia inteiro deve organizar uma rotina, tentar colocar atividades produtivas e ter momentos de relaxamento com meditação, vendo filmes ou ouvindo músicas, não ficando o tempo todo conectada”, enfatiza.
Saúde do corpo
Durante a pandemia, o Brasil registra aumento no consumo de medicamentos controlados e de bebidas alcoólicas. A nutricionista Juliana Buch Bertani afirma: manter hábitos saudáveis, com uma alimentação equilibrada, representa força para o organismo conter infecções.
Juliana tem especialização em patologias derivadas do consumo de álcool e explica que a substância age como um imunossupressor, enfraquecendo o sistema imunológico e as defesas do organismo. Outro detalhe para se manter saudável é beber bastante água.
Com o corpo hidratado, há um melhor funcionamento dos órgãos e absorção das vitaminas, diz. “É preciso ter no cardápio fibras, frutas com cascas, verduras e legumes.”