Pandemia agrava e eleva sofrimento psíquico

ENTRE A ESPERANÇA E A APREENSÃO

Pandemia agrava e eleva sofrimento psíquico

A chegada das vacinas e a insegurança pelo risco de colapso nos hospitais provocam reações distintas. Essa mistura de sentimentos interfere sobre a saúde mental, avisam médicos e psicólogos. Especialistas alertam para a necessidade de seguir com os cuidados impostos pelo distanciamento, mantendo a mente ocupada com tarefas e objetivos

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Pandemia agrava e eleva sofrimento psíquico
Conforme estudo da Associação Brasileira de Psicologia, houve um aumento de quase 70% no número de novos pacientes durante a pandemia
Vale do Taquari
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Na semana em que o país superou o núme­ro de 250 mil mortos por covid e o RS vive o pior momento da pandemia, espe­cialistas em saúde mental alertam também para os cuidados com a mente. Excesso de informações sobre o avanço da covid aumenta a insegurança e provoca reações psíquicas, que podem agravar quadros de síndrome do pânico, depressão e ansiedade.

O estado contínuo de alerta eleva o nível de estresse. Em pessoas com histórico de algu­ma doença da mente, os efeitos dessa vigília podem ser mais drásticos. Conforme a psicó­loga e professora da Univates, Joana Bücker, pesquisadores acreditam que metade das pes­soas terão sintomas ligados a esse tipo de enfermidade em meio a pandemia e até após ela ser superada.

Doutora em psiquiatria e ciên­cias do comportamento, Joana frisa a necessidade das pessoas com transtornos psíquicos conti­nuarem com tratamento durante essa crise sanitária, para que a situação não piore e outras co­morbidades surjam.

As consequências des­se agravo trazem impac­tos para todas as esferas da vida. No âmbito pro­fissional, pessoas com síndrome do pânico te­rão dificuldades em se concentrar nas tarefas diárias. Também dentro da família, com um desgaste das relações em função das crises.

Sobre o papel da família, a psi­cóloga diz que acolher, procurar entender as dificuldades enfrenta­das pelo paciente e fazer com que ele se engaje no tratamento são medidas fundamentais.

Conforme pesquisa feita pela As­sociação Brasileira de Psiquiatria (ABP) com cerca de 400 médicos de 23 estados e do Distrito Federal (o que corresponde a 8% do total de psiquiatras do país), 89,2% dos entrevistados afirmam ter ocorrido um agravamento de quadros psi­quiátricos dos pacientes.

O levantamento mostra tam­bém que 67,8% dos médicos rece­beram pacientes novos, que nunca haviam apresentado sintomas psiquiátricos após o início da pan­demia e do isolamento social. Ou­tros 69,3% relataram ter atendido pacientes que já haviam recebido alta médica, mas que tiveram volta dos sintomas.

Medo do conhecimento

O médico cardiologista e um dos precursores da neurolinguís­tica no país, Nelson Spritzer, frisa o misto de emoções deste momen­to da pandemia. “Por um lado, tivemos notí­cias boas. A chegada da vacina trouxe esperança de superação desta cri­se. Com a demora de ga­rantir doses para todos e o cenário de colapso na saúde, todo o medo e a preocupação vista no início da pandemia voltaram.”

Na avaliação dele, há uma dife­rença no sentimento coletivo com o que foi vivido em março de 2020 e desse novo pico de contágios. No ano passado, era o medo do desco­nhecido, agora é o medo do conhe­cimento. “Antes tínhamos poucas informações. Não sabíamos muito bem o comportamento do vírus e como poderíamos nos proteger.”

Passado quase um ano do pri­meiro caso no RS, agora as pes­soas sabem os principais riscos da doença. “De tudo o que supe­ramos no passado, das informa­ções falsas, dos negacionistas, o temor agora é ver a situação que vivemos. Dos hospitais lotados e da insegurança em caso de ficar doente e não poder ser atendido.”

Para Spritzer, o sentimento do medo é normal e não deve ser ig­norado. “Temos de conviver com ele. Precisamos entender essa emoção como estímulo para que a gente se cuide ainda mais, para que, se precisar sair, usar a másca­ra, evitar aglomerações. Ou seja, cumprir os protocolos para redu­zir riscos de contágio.”

Como sofrer menos

Há duas ferramentas que po­dem diminuir os quadros de preo­cupação, ansiedade e medo, diz o médico Spritzer. Faz parte do con­ceito de logoterapia, uma aborda­gem que objetiva encontrar sen­tido na vida. “Esses mecanismos interligados canalizam as energias”, diz.

O primeiro princípio é fazer planos para o fu­turo, em médio e longo prazo. “Seja nos negó­cios, na vida. Ter metas é muito importante. Pen­sar aonde se quer chegar. Assim ficarmos menos presos no passado ou aflitos com o presente.”

Aliado a isso, a segunda etapa é partir para a ação. “Um soldado na guerra cumpre ordens. Se esta no meio do tiroteio e o sargento manda avançar, ele vai correr e o medo some. Se concentra naquilo que está fazendo.”

Essa analogia serve para este momento, explica Spritzer. “Va­mos nos ocupar. Fazer tarefas. Se está em casa e não tem o que fazer, vamos fazer exercícios.”

A psiquiatra e psico­terapeuta Luiza Lucas tem uma opinião seme­lhante. Em participação no programa A Hora Bom Dia, da Rádio A Hora, afirmou que em meio ao excesso de in­formações negativas, é preciso ter momentos desconecta­dos, para limpar os pensamentos.

“A pessoa que está em casa o dia inteiro deve organizar uma rotina, tentar colocar atividades produti­vas e ter momentos de relaxamen­to com meditação, vendo filmes ou ouvindo músicas, não ficando o tempo todo conectada”, enfatiza.

Saúde do corpo

Durante a pandemia, o Brasil registra aumento no consumo de medicamentos controlados e de be­bidas alcoólicas. A nutricionista Ju­liana Buch Bertani afirma: manter hábitos saudáveis, com uma alimen­tação equilibrada, representa força para o organismo conter infecções.

Juliana tem especialização em patologias derivadas do consumo de álcool e explica que a substância age como um imunossupressor, en­fraquecendo o sistema imunológico e as defesas do organismo. Outro detalhe para se manter saudável é beber bastante água.

Com o corpo hidratado, há um melhor funcionamento dos órgãos e absorção das vitaminas, diz. “É preciso ter no cardápio fibras, frutas com cascas, verduras e legumes.”

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