“Muitos haitianos chegam aqui com diploma”

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“Muitos haitianos chegam aqui com diploma”

A assistente comercial Benslie Theus, 18, nasceu em Croix-des-Bouquets, no Haiti. Ainda jovem, foi morar na Venezuela. De lá, veio para o Brasil com a família e desde 2015 mora em Lajeado. Poliglota, fala crioulo, francês, espanhol e português. Este ano encerra o ensino médio e tem como sonho cursar medicina.

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“Muitos haitianos chegam aqui com diploma”
(Foto: Caetano Pretto)
Vale do Taquari

Quando você chegou ao Brasil?
Não vim para o Brasil de forma direta. Saí do Haiti e aos 9 anos fui morar na Venezuela. Era um bom país, mas logo entrou em crise. Como não tínhamos muitas condições lá, meu pai decidiu vir para o Brasil. O resto da família veio um ano depois, em 2015.

Quantos idiomas você fala?
Falo crioulo e francês, que são as línguas oficiais do Haiti, mais espanhol e português. O francês é considerado mais formal no Haiti, enquanto que o crioulo usamos no dia a dia. Os outros idiomas aprendi nos países em que morei.

Foi difícil aprender o português?
Até acho que foi fácil, pois já tinha muitas influências do espanhol e amigos que falavam o idioma. Então peguei com mais facilidade. Mas, quando cheguei na Venezuela, foi muito difícil aprender o espanhol. Era um idioma muito diferente da minha língua materna. Estava na escola e não entendia nada. Por sorte alguns amigos haitianos me ajudaram e com o tempo aprendi.

Por que escolheram Lajeado?
Quando meu pai veio para o Brasil acabou direto em Lajeado, pois era uma região de muito emprego. O resto da família, ao chegar no Brasil, moramos um mês em Boa Vista, capital de Roraima, e então viemos para Lajeado.

Qual a sua profissão?
Sou assistente comercial no Instituto Mix. Ajudo os haitianos, principalmente na questão do idioma. Traduzo para os que não sabem o português. Também ajudo nos laboratórios e faço outros serviços.

Como é a recepção da nossa região com os imigrantes haitianos?
Eu considero muito tranquilo. Alguns não são acostumados ao jeito estrangeiro, assim como nós também não estamos habituados a questões do Brasil. São países diferentes, com regras e costumes diferentes. É comum termos problemas, mas não vejo nada sério. A recepção da região, em geral, é muito boa.

O que acha que poderia melhorar?
A questão do emprego. Estão vindo muito imigrantes, então alguns lugares e empresas poderiam abrir mais as portas. Muitos haitianos chegam aqui com diploma e formação superior, mas, por causa do idioma, não podem exercer o seu emprego. Poderiam ter mais cursos ofertando aulas de português, por exemplo. Pois a pessoa se especializa, trabalha, termina uma faculdade e, quando chega aqui, vai tudo por água abaixo. Deveríamos ter mais cursos de idiomas, para cada vez mais os haitianos aprenderem o português e, consequentemente, arranjarem empregos melhores.

O que você almeja para o futuro?
Atualmente estou terminando o ensino médio. Quero fazer o Enem e tirar uma boa nota para entrar na faculdade de medicina. Me interesso pela área de cirurgia. Se não conseguir a medicina, penso em fazer enfermagem.

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