O que o Vale precisa para sair da bandeira preta

Pandemia no RS

O que o Vale precisa para sair da bandeira preta

Risco iminente de restrições às atividades produtivas mobiliza empresários, autoridades públicas e profissionais de saúde. Conscientização da sociedade aliada a fiscalização rigorosa contra aglomerações são apontadas como saídas para evitar novas contaminações

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O que o Vale precisa para sair da bandeira preta
Procura por atendimento por parte de pacientes com sintomas respiratórios aumentou nos últimos dias (Foto: Filipe Faleiro)
Vale do Taquari

Com quase 86% dos leitos de UTI ocupados, o Estado passa pelo momento mais preocupante desta pandemia. Profissionais de saúde alertam para o risco iminente de um colapso no atendimento à população. Ao mesmo tempo, o Piratini reage para tentar conter a propagação do coronavírus.

No Vale do Taquari, autoridades públicas, profissionais de saúde e representantes de entidades empresariais traçam estratégias para tentar conter o avanço da doença. Como houve uma elevação nos números nas últimas semanas, há uma suspeita de que novas cepas do vírus já estejam presentes na região.

“Temos de controlar a disseminação do vírus e como se faz isso? O primeiro é respeitar as orientações dos especialistas em saúde. Se estiver com sintomas, procure o médico e se isole, não contamine outras pessoas. Também evitar aglomerações, usar a máscara e manter a higiene”, destaca o prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo.

De acordo com ele, as próximas semanas serão desafiadoras. Diante do cenário estadual, de crescente ocupação dos leitos hospitalares, Caumo frisa a necessidade de manter a autonomia dos municípios e regiões. “Com bandeira preta não temos muitas alternativas. Ficamos à mercê das definições do Estado.”

As bandeiras de risco de cada uma das regiões do Estado são definidas a partir de 11 critérios. Cada indicador é pontuado pelo o comportamento dos contágios nos últimos sete dias e também após duas semanas. A nota da região considera a disponibilidade de leitos no RS, além das notas de Cachoeira do Sul e de Santa Cruz.

Em caso de risco mais elevado, de bandeira preta, as definições sobre o que abre e fecha dependem do decreto estadual. De acordo com o Piratini, embora seja o nível mais alto, a bandeira preta não é o mesmo que lockdown. Significa que tanto a capacidade hospitalar como o contágio por coronavírus alcançaram níveis críticos. Por isso, indica a necessidade de cuidados mais rígidos do que os já adotados na bandeira vermelha.

Risco iminente

O presidente da Câmara da Indústria e Comércio da região (CIC-VT), Ivandro Rosa, afirma: “o risco é iminente de novas restrições às atividades produtivas.” Em agosto, o Piratini alterou alguns critérios para regiões em bandeira preta. Essas mudanças flexibilizaram algumas regras, como o funcionamento das indústrias.

No entanto, há impactos sobre o comércio e alguns serviços. “Precisamos que no mínimo haja o compre e leve para o comércio. Do contrário teremos prejuízos sociais e econômicos.”

Para a região conseguir deixar o alto grau de contágio, Rosa destaca aspectos citados pelo prefeito Marcelo Caumo e acrescenta: “não é nas empresas, nas indústrias ou no comércio que estão ocorrendo as contaminações. Isso se trata do foro íntimo das pessoas, de participar de festas clandestinas, de aglomerações, não tomarem as precauções.”

Na avaliação do presidente da CIC-VT, há cenários distintos entre as próprias cidades da região. Por isso é preciso adotar medidas pontuais, sem restrições que penalizem comunidades onde não há um alto grau de transmissão da covid-19.

Somado a manutenção do sistema de cogestão, Rosa defende ainda mais rigor dos órgãos de fiscalização contra aglomerações.

Pandemia pela região

No Vale do Taquari, a ocupação dos leitos de UTI alcançou 90% na tarde de segunda-feira, 22. Das 65 vagas, 59 estão ocupadas. Deste total, 36 são de casos suspeitos ou confirmados de covid-19.

No maior hospital da região, o Bruno Born (HBB), de Lajeado, os últimos dias foram de aumento nos casos confirmados, inclusive com uma sequência de elevação nos atendimento de pacientes com sintomas respiratórios.

Na tarde de segunda-feira, o número de pacientes na UTI Covid alcançou 93% de ocupação. Nos leitos de internação, o índice estava em 77%. Já na observação, o total superou a capacidade máxima, com 180% em uso.

Do total de internados, 13 são pessoas jovens, dos 20 aos 49 anos. Para o secretário municipal de Saúde, o médico pneumologista Claudio Klein, esse é um indicativo de que novas cepas do vírus estejam presentes na região. “Tanto eu quanto outros profissionais suspeitam da circulação dessas variantes. Os sintomas e a condição dos pacientes estão diferentes do que era no ano passado.”

Redução na segunda semana de março

Frente ao novo quadro da pandemia, o comitê de enfrentamento à covid-19 foi reativado na região. Participam equipes técnicas da Univates, da Unimed, do HBB e do município.

Em reunião na tarde de segunda, os integrantes debateram estratégias para conter as contaminações.

Na análise do grupo, hoje há um alto grau de contágio em todo o RS. “Está homogêneo. Antes tínhamos algumas regiões com a situação controlada. Agora estamos muito próximos do limite em diversas localidades”, afirma Klein.

Um dos principais motivos para isso tem haver com as férias. “As pessoas relaxaram. Foram para o litoral, tiveram momentos de confraternização. Isso fez com que voltassem às suas cidades infectadas com o vírus.”
Pela tabulação do grupo, estima-se que os próximos dez dias ainda sejam de altas nas confirmações de casos.

“A partir da segunda semana de março acreditamos que haja uma redução nos contágios”

“Voltamos à estaca zero”

Em entrevista à Rádio A Hora na manhã de segunda-feira, o plantonista da UTI Covid e coordenador do Atendimento 24h do Hospital Bruno Born (HBB), o médico Juliano Dalla Costa, destacou que Lajeado passa por picos de atendimentos que não foram vistos no ano passado.

“Isso demonstra um fenômeno de aceleração no número de casos e consequentemente um aumento da necessidade de leitos de UTI com pacientes graves. Não que a doença esteja pior, mas o número de casos disparou em todo o Estado.

Dalla Costa lembra que na mesma época, no ano passado, falava-se em um colapso no sistema de saúde e nas medidas a serem tomadas. “Hoje enfrentamos uma situação com muito mais casos, mais consultas e pacientes internados e as coisas permanecem abertas.”

Ele acredita que se a situação não mudar, o município vai ter ainda mais complicações em pouco tempo. “Voltamos à estaca zero, mas agora com mais casos. Isso nos preocupa”, afirmou.

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