A pandemia, as aulas remotas e o aprendizado

Opinião

Carlos Cyrne

Carlos Cyrne

Professor da Univates

Assuntos e temas do cotidiano

A pandemia, as aulas remotas e o aprendizado

Por

Lajeado

A partir da reportagem, apresentada na edição do Jornal A Hora de 14 janeiro de 2021, “Aprendizagem pode retroceder até quatro anos sem aulas presenciais”, que se refere à pesquisa realizada pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), busquei o relatório completo, que pode ser acessado (mediante cadastro anterior).

Primeiramente os pesquisadores buscaram na literatura referências sobre a interrupção das aulas em outros contextos (como por exemplo em situações de nevascas), os resultados são “simulações” baseadas no estudo do Banco Mundial “Simulating the potential impacts of covid-19 school closures on schooling and learning outcome: a set of global estimates”. A descrição da metodologia utilizada pelos pesquisadores pode ser acessada na íntegra no link acima. Para a simulação, foram considerados três parâmetros: aprendizado em um ano típico; tempo de interrupção das aulas e eventual aprendizado com o ensino remoto. Os principais resultados foram apresentados na reportagem do A Hora.

Importante destacar que os resultados são distintos para cada uma das regiões (e estados) do país, sendo que a região sul tem melhor desempenho. Este fato pode estar associado a variáveis que estão sob domínio dos alunos, como por exemplo o tempo de dedicação ao estudo remoto, a escolaridade da mãe (assim como seria no caso das aulas presenciais), porém, de outra sorte, o acesso aos recursos tecnológicos que permitem a conexão com os conteúdos, professores e colegas, foge da ingerência dos estudantes. Este é um desafio para o Estado, que tem o dever de disponibilizar as condições para que o estudante possa ter contato com os conhecimentos.

Me parece que uma variável, se assim pode ser denominada, que deixou de ser considerada e que reputo como fundamental para que os resultados possam ser tomados como verdadeiros, mesmo que decorrentes de simulações (que por si só, já são limitadas), é a figura do Professor. Em momento algum, por opção dos pesquisadores (provavelmente), se avaliou as competências dos professores para o ensino remoto. Em discussão realizada pelo Programa Pense, tivemos a oportunidade de discutir a questão e foi possível concluir a importância de que os professores fossem “instrumentalizados” para o uso das tecnologias que permitem um ensino remoto mais eficiente e eficaz, a despeito da dedicação dos alunos.

No caso do RS, na rede pública especificamente, viu-se uma morosidade para reagir ao fenômeno. As escolas ficaram sem uma política que orientasse suas ações levando aos diretores a tomarem iniciativas diversas para mitigar o impacto da paralisação. Para que o ensino remoto possa alcançar bons resultados, não basta que os alunos se dediquem, os professores precisam estar habilitados a utilizar as ferramentas que permitem a mediação do conhecimento e, me parece, o Estado falhou neste quesito.

Não desconsidero os resultados da pesquisa, mas é preciso relativizá-los frente a esta limitação. Espero que os Estados possam colocar mais atenção sobre os professores, ofertando o suporte necessário para que possam realizar seu trabalho com qualidade e contribuindo para que as perdas de aprendizado pelos alunos sejam mitigadas. Fica a dica.

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