“Quando o negro veio para cá, não tinha registro de nada”

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“Quando o negro veio para cá, não tinha registro de nada”

Comunidade quilombola do bairro Planalto recebe projeto de centro cultural. Iniciativa contou com a parceria do município e da Univates.

“Quando o negro veio para cá, não tinha registro de nada”
Moradores defendem a importância de um espaço para a manifestação e o registro da cultura e da história. Foto Ramiro Brites
Lajeado

Lajeado

Teobaldo da Silva foi escravizado. Teobaldo fugiu dos grilhões e do trabalho forçado e buscou um local seguro para constituir sua família.

“Nos orgulhamos de ser negros, da nossa etnia e da nossa família. Mas não nos orgulhamos do passado, do tempo da escravidão. Se meu bisavô não tivesse fugido, hoje eu não estaria aqui”, afirma a moradora Tatiana da Silva.

Mais de um século depois, a comunidade quilombola do bairro Planalto, em Lajeado, avança no sonho de ter um espaço onde sua história possa ser contada e registrada para a posteridade.

“Essa sede é muito importante para que a gente possa ter registro. Quando o negro veio para cá, não tinha registro de nada. Meu bisavô foi escravo. Ele morreu aos 112 anos e se contava pelas colheitas, não tem como afirmar a idade dele, porque não tem papel”, diz Camila Marques.

A proposta de uma sede cultural para a comunidade quilombola foi apresentada nessa quinta-feira, 26. O projeto inclui uma construção principal, para encontros, além de outras estruturas ao redor, como cozinha, zeladoria e espaço para benzeduras. Ao todo, serão cerca de 500 m².

 

Parceria entre município e Univates

Projeto prevê espaço para atividades, cozinha, zeladoria, local para benzedura e horta comunitária. Reprodução

A iniciativa integrou a prefeitura, o Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo (Emau) e o projeto de extensão Patrimônio Vivo, da Univates.

O trabalho iniciou em 2019, com estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo, que realizaram oficinas culturais e visitas às famílias quilombolas. Em 2020, a aproximação ocorreu de forma virtualizada. O grupo foi coordenado pelos professores Guilherme Osterkamp e Jamile Weizenmann.

A proposta conta com a responsabilidade técnica da administração municipal e com a supervisão do secretário do Planejamento, o arquiteto e urbanista Giancarlo Bervian.

De acordo com o secretário, o objetivo é que o local receba atividades culturais, além de cursos profissionalizantes, aulas de reforço e horta comunitária. Após construído, o espaço deve servir não somente aos moradores da comunidade

“Fiquei bem feliz com a reação até emocionada por parte deles. O papel da prefeitura também é vislumbrar, dentro das comunidades, projetos que venham a somar para a população como um todo”, afirma Bervian.

 

Orçamento

Agora, a projeto passa para a próxima etapa, na qual o município fará o orçamento. Com o material entregue e a previsão orçamentária, a comunidade quilombola poderá recorrer a fomento externo e editais de captação de recursos. A obra não deve contar com verba do município.

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