Mecânico transforma sucata em arte em Lajeado

Hobby vira oportunidade

Mecânico transforma sucata em arte em Lajeado

Rodrigo Giovanella descobriu uma nova aptidão. Há seis meses começou a transformar peças usadas em personagens, como o “Equilibrista” e o “Pescador”. Da vivência, dos detalhes sobre os familiares e da necessidade de ocupar a mente, encontrou na criatividade a libertação

Mecânico transforma sucata em arte em Lajeado
Rodrigo Giovanella tem 39 anos e começou a produzir peças em metal faz seis meses. O que era para ser um hobby se tornou em uma nova fonte de renda (Foto: Filipe Faleiro)
Lajeado

“Eu andava muito nervoso. Estava passando por dificuldades e minha mãe me deu uma ideia.” Foi assim que Rodrigo Giovanella, 39, começou a usar sucatas para criar peças de arte. Molas, parafusos, engrenagens, velas usadas. Tudo que iria para o lixo se transformou em matéria-prima para o mecânico.

Filho de Heloísa e de Mauro, (o Pingo, como é conhecido), Rodrigo começou a trabalhar muito cedo. Saia do colégio e ia ajudar o pai na mecânica da família no bairro São Cristóvão, em Lajeado.

Ficar em meio aos motores sempre fascinou o jovem. Desmontar peças, depois os brinquedos e descobrir como as coisas funcionavam se transformou em mais do que uma brincadeira. Essa vontade de entender o funcionamento das coisas também abria portas para a imaginação.

“Gostava muito de desenhar, de criar. Mas, com o passar do tempo, deixei isso de lado e passei a me dedicar somente a trabalhar na mecânica mesmo.” Foi durante a pandemia, quando algumas incertezas, angústias e dificuldades ficaram mais afloradas, que Rodrigo começou a aprender um novo hobby. “Comecei a fazer as peças, a criar os personagens, para me ocupar. Nas minhas folgas, pegava as peças, o soldador, e fui vendo até onde ia.”

Buscou na internet algumas dicas de como usar as ferramentas e como poderia fazer as peças. Também pela rede de computadores estudou o que a necessidade de material e quais figuras poderia criar. Mas a principal inspiração vinha daquilo que estava vivendo e dos gostos da família.

Fez às duas filhas três pessoas de metal envoltas em um coração. Era ele de mãos dadas com elas. Em seguida, criou o “equilibrista”, uma alusão às próprias experiências. “É como a nossa vida. Estamos sempre tentando nos equilibrar”, compara. Para o pai, criou o “pescador”. “Ele gosta muito de pescar, então pensei em fazer algo para ele.”

No pouco tempo do mecânico como artista, chamou atenção de alguns amigos. Mandou algumas fotos das peças e começou a receber pedidos. Aos poucos, o hobby se transformou em uma oportunidade, em uma nova perspectiva de renda. “Não pensava em ganhar dinheiro, mas levei algumas peças para expor em um encontro de carros antigos, e muitos gostaram e quiseram comprar.”

Rodrigo nunca tinha usado a solda. Pesquisou na internet como fazer as peças. Para ele, o trabalho de criar os personagens se tornou uma terapia (Foto: Filipe Faleiro)

Liberdade em criar

Houve anos de dificuldades para a família. Rodrigo enfrentou um inimigo que nunca acreditou que teria pela frente, a dependência química. “Eu estava no fundo do poço. Nunca fui de beber, de qualquer coisa disso. Sempre trabalhei. Só que tinha sentimentos ruins, não valorizava aquilo que tinha conquistado e comecei a usar drogas.”

Quando começou a perder aquilo que mais amava, pediu ajuda. Houve aqueles que se afastaram. Foram os pais que uniram esforços para ajudar o filho. “Ninguém está livre de passar por algo assim. Sempre confiei no meu filho, conheço ele, sei que é trabalhador. Conversamos e decidimos que sairíamos dessa juntos”, conta o pai, Pingo.

Rodrigo foi internado em uma clínica de desintoxicação. A união da arte e da religiosidade ajudou o mecânico a encontrar um refúgio. “Tenho uma sensação de liberdade quando estou criando.” Esse sentimento, diz, afasta angústias e faz com que ele se reaproxime daquilo que espera para o futuro.

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