A produção industrial acumula cinco meses de alta. É o que mostra a Pesquisa Industrial Mensal (PIM), do IBGE.
O estudo foi divulgado na manhã de ontem e aponta um cenário acima das expectativas do mercado. Em termos gerais, o instituto considera que na somatória dos estados, há uma retomada em “V” no setor industrial (uma forte queda seguida de rápida recuperação).
No RS, o indicador produtivo ficou em quase 99 pontos, o maior patamar de 2020. Inclusive melhor do que janeiro e fevereiro. Pelo levantamento, setores como o metalmecânico, moveleiro e calçadista, estão entre aqueles com elevação produtiva.
No período de restrições, em especial no mês de abril, foram os segmentos com mais impacto negativo, relembra o presidente da Câmara da Indústria e Comércio do Vale do Taquari (CIC-VT), Ivandro Rosa. “A indústria é o setor que mais emprega na nossa região. É a renda do trabalhador que garante melhores condições de vida à comunidade. O setor calçadista foi o que mais fechou vagas e agora começa a recontratar”, avalia.
De acordo com o IBGE, a manufatura gaúcha em setembro teve avanço produtivo de 4,5%. Índice menor do que o visto no mesmo mês de 2019, quando o percentual foi de 5,8%. No acumulado do ano, o indicador é negativo. Nos últimos 12 meses, a indústria gaúcha teve queda de 8,6%. O PIM considera mais de 230 produtos fabricados no país.
Força regional
O potencial do Vale na produção alimentícia e na construção civil estão entre as apostas da CIC-VT para a ascensão econômica do último trimestre e também para os próximos períodos. “O grande desafio ainda é a falta de insumos, em especial na construção. Faltam metais, PVC, plástico. Ainda assim, vemos uma retomada consiste”, destaca Rosa.
Outra preocupação para os próximos meses é a estiagem. “Isso nos limita. Por mais que tenhamos condições de industrializar os alimentos, a seca reduz a capacidade de produção. Se não conseguimos beneficiar os produtos, isso pode frustrar a nossa retomada.”
Apesar desses riscos, Rosa acredita que 2020 irá fechar com resultados positivos na indústria regional, em especial devido ao fortalecimento das cooperativas de alimentos do Vale.
ENTREVISTA
André Nunes de Nunes, economista-chefe da Fiergs
• O nível de crescimento da produção industrial não deve perdurar por muito tempo, acredita o economista. Para André Nunes de Nunes, essa evolução vista pelo IBGE tem relação com a demanda reprimida pelos meses de maior isolamento.
“É muito improvável manter um crescimento tão elevado para os próximos meses”
• A Hora – O que essa retomada na produção indica sobre a indústria gaúcha?
André Nunes de Nunes – Já era esperado. A crise que enfrentamos entre março, abril e maio foi provocada pela necessidade de isolamento social. Não teve interferência da economia em si, ou de questões financeiras. Tivemos uma queda muito intensa e depois entramos em uma sequência de crescimento. Ao restabelecer o mesmo patamar de antes da pandemia não significa que as dificuldades ficaram para trás.
• Qual a perspectiva para os próximos meses e para 2021?
Ainda temos perdas acumuladas. Pelos nossos cálculos, o ano será de uma retração de 10% na indústria. O cenário fica mais preocupante quando olhamos para o futuro. É muito improvável manter um crescimento tão elevado para os próximos meses.
Os motivos são vários. Vemos uma restrição na oferta de produtos, preços de insumos subindo muito e várias cadeias com dificuldade em atender a demanda. Essa alta na produção ocorre devido a uma demanda reprimida. Para 2021, a tendência é de um ritmo de crescimento menor do que esses apontados pelo IBGE.
• O Vale do Taquari concentra sua economia na indústria alimentícia. Ainda assim, há segmentos importantes, como o calçadista. Esse setor vive um momento de retomada?
O calçadista, digamos que está passando por uma “despiora”. Mas não é uma retomada. O setor foi duramente atingido pelo distanciamento. Houve uma restrição na demanda interna e externa. Muito pela característica dessa pandemia, das pessoas ficarem em casa e comprarem menos calçados. Essa é uma compra por impulso ou para acompanhar a moda, algo que perdeu sentido.
Nos alimentos, as indústrias gaúchas sustentaram a demanda, ainda que os serviços como hotéis e restaurantes tenham sofrido muito. A preocupação agora é uma nova estiagem, que faz com que apesar do aumento das vendas no mercado internacional, a indústria e os produtores não tiveram um crescimento expressivo no faturamento, pois os insumos ficaram mais caros.