Velho vilão da produção leiteira regional, o leite em pó estrangeiro volta a preocupar o setor. Dados da Secretaria Nacional de Comércio Exterior revelam que as compras de outros países subiram 90% em setembro deste ano na comparação com o mesmo período de 2019.
Em um cenário já prejudicado pela pandemia e seus efeitos na economia, o setor do leite enfrenta dificuldades significativas, com a alta do dólar, aumento dos custos de produção e perspectiva de uma nova estiagem na região sul do país.
Para o Vale, terceira maior bacia leiteira do RS, a situação é preocupante e inspira a atenção de líderes locais. Na contramão de fortalecer a agricultura familiar, as grandes empresas do ramo alimentício estão optando por importar leite em pó estrangeiro, o que provoca um desequilíbrio na cadeia e pode fazer com que muitas famílias abandonem a atividade.
Mais uma vez, é necessária a união de todos os segmentos que compõem esse importante pilar da economia regional. É preciso sensibilizar as autoridades a intervirem nesse quadro para proteger as centenas de famílias que ainda se mantêm na produção.
Em 2017, em um dos piores momentos recentes vividos pelo segmento no RS, situação semelhante levou produtores de leite às ruas para protestar contra as importações do produto. Grande empresas atraídas ao território gaúcho por meio de generosos incentivos fiscais, em vez de prestigiar a produção local, optam por adquirir o produto do exterior. E o quadro se repete agora.
A Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) já se posicionou a respeito do tema e pede a intervenção do governo federal, com uma suspensão temporária das importações, para tentar reequilibrar a cadeia. Na avaliação da entidade, caso se mantenham os patamares de compras do exterior, outubro deve bater o recorde de leite importado desde 2007.
Com a alta nos custos de produção, nova estiagem, redução no preço pago ao produtor, a cadeia leiteira já vê no horizonte as nuvens de uma nova tempestade.