Um reforço para os bons presságios

Comportamento

Um reforço para os bons presságios

Especialista ensina as origens das superstições e porque crenças antigas ainda se perpetuam no imaginário coletivo

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Um reforço para os bons presságios
Vale do Taquari

Figa, trevo de quatro folhas, olho grego e pé de coelho são objetos conhecidos por atrair sorte ou espantar os maus presságios. As superstições acompanham a humanidade há séculos e, ao longo do tempo, as histórias por trás de cada uma sofreram modificações e novos significados foram incorporados, mas continuam se perpetuando no imaginário popular.

Conforme o professor de História e Sociologia do Colégio Madre Bárbara e diretor do Núcleo Estadual de Jovens e Adultos e de Cultura Popular de Lajeado (Neejacp), especialista em História Regional, Josselito Brandão, toda sociedade tem lendas e superstições como parte de sua cultura.

Apesar de muitas vezes confundidas, as crenças apresentam uma diferença significativa, explica. As lendas costumam ter como base um elemento real, como uma personalidade ou fato, que se junta ao imaginário para criar uma história ficcional.

“Para personificar os medos, criaram-se as lendas urbanas, por exemplo. A lenda do Negrinho do Pastoreio, uma das mais populares do folclore gaúcho, tem como componente real a escravidão, assim como a boa vontade de Deus com quem sofre, que é real do ponto de vista religioso. Existem elementos verdadeiros ou possíveis nesta narrativa”.

Por sua vez, as superstições são crenças fantasiosas, sem base em conhecimentos científicos ou componentes reais, mesmo quando surgem de um fato ou costume popular. Um exemplo é a prática de cruzar os dedos para atrair boa sorte.

“Cristãos costumavam fazer o gesto como uma forma discreta de invocar proteção divina em uma época em que o Cristianismo era perseguido. Não há provas de efetividade, apesar de haver uma explicação de como surgiu”.

Há superstições bonitas e até divertidas, mas quando nos limitam ou geram preconceitos, devem ser abandonadas e combatidas”

O especialista ensina que tanto as lendas, quanto as superstições, nascem e se perpetuam a partir de um sentimento, como o desejo de proteção. Lendas folclóricas, como o Saci Pererê ou o Boitatá, por exemplo, procuram explicar algum mistério, orientar um comportamento ou resolver um problema, explica.

Histórias antigas

Muitas superstições acompanham a sociedade desde a Idade Média, como a ideia de que gatos pretos dão azar. “Na época, acreditava-se que um gato preto era uma bruxa disfarçada, então passaram a ser perseguidos. Um pouco desta crença resiste até hoje, quando se acredita que eles atraem algo negativo”.
A cor escura da pelagem do animal, que na cultura ocidental é associada ao luto e a morte, fez com que o gato preto fosse relacionado ao mau agouro. O mesmo acontece com o urubu, pela cor e características de sua alimentação.

Apesar de a maioria das crendices populares serem muito antigas, elas podem surgir em diferentes momentos. Segundo Brandão, as superstições nascem e ganham força a partir de coincidências.
“Muitas vezes os fatos coincidem e as pessoas acabam reproduzindo a situação na busca de experimentar mais uma vez a experiência positiva. É o percentual de acerto que impulsiona a crença”.

Conforme o especialista, de forma geral, as superstições são inofensivas, mas é preciso estar atento aos limites, para não supervalorizar o imaginário. A ideia de que gatos pretos trazem azar, por exemplo, já resultou em episódios de violência contra os animais e, inclusive, dificulta a adoção dos felinos em abrigos, destaca.

“Tudo depende da consciência das pessoas. Há superstições bonitas e até divertidas, mas quando nos limitam ou geram preconceitos, devem ser abandonadas e combatidas”.

Traço cultural

As superstições, assim como as lendas, são parte da cultura de um povo. Em um mundo globalizado, é comum uma sociedade absorver traços culturais de outra e até mesmo integrá-lo aos seus costumes, como é o caso do Halloween, celebração muito popular nos Estados Unidos e que ganha cada vez mais força no Brasil.

Porém, Brandão destaca a importância de não esquecer das tradições locais. “Nós brasileiros temos um conjunto de lendas e superstições muitas vezes desconhecido. Abandamos nossas lendas em favor de outras”.
Um exemplo, conforme o especialista, é a popularização de personagens folclóricos como fadas, duendes e gnomos entre as crianças, enquanto lendas nacionais, como o Curupira e a Cuca, ainda são desconhecidos por muitos.

As lendas e superstições de outras culturas são apresentados e incorporados ao imaginário popular brasileiro por meio do cinema e da televisão, explica. O encontro de culturas pode ser benéfico e enriquecedor, quando ambas são valorizadas. “Por meio da arte, podemos não só enaltecer, mas preservar aquilo que tem origem na nossa terra e no nosso povo”.

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