Quem tem medo de bruxa?

Opinião

Amanda Cantú

Amanda Cantú

Jornalista

Colunista do caderno Você

Quem tem medo de bruxa?

Por

Lajeado
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Cabelos grisalhos e desgrenhados, um nariz grande, talvez com uma verruga na ponta, um rosto envelhecido e roupas surradas. No imaginário popular, é assim que as bruxas são retratadas.

Se você procurar a definição do termo em um dicionário ou buscador na internet, logo perceberá a vinculação da personagem com uma aparência considerada feia.

Mas por que será que esta imagem foi atribuída às bruxas?

Se você prestou atenção nas aulas de História, deve lembrar da Santa Inquisição. Durante a Idade Média, esta espécie de tribunal religioso condenava quem apresentasse um comportamento diferente do considerado correto, segundo os conceitos estabelecidos pela Igreja. Um dos principais alvos eram as chamadas bruxas.

Quem eram elas? Mulheres.

Em maioria, camponesas que utilizavam plantas e outros recursos naturais para curar doenças, por exemplo. Conhecimentos que passavam de mãe para filha, não muito diferente daquele remédio caseiro que você aprendeu com a sua mãe, que ela aprendeu com a mãe dela, e assim por diante.

Muitas vezes, eram apenas mulheres independentes, que ousavam manifestar seus conhecimentos, não só medicinais, mas também religiosos e políticos. Na época, isso era motivo para fogueira.

Some a necessidade de controle da classe dominante com uma sociedade ignorante e supersticiosa, sem acesso ao conhecimento, e temos mulheres sendo oprimidas.

Agora um teste rápido: pesquise na internet por imagens de bruxas. Depois, procure por imagens de bruxos. Nota a diferença?

O mesmo personagem é retratado de formas muito distintas conforme o gênero. O homem, com uma postura forte e poderosa. Já a mulher, com a descrição com a qual iniciei este texto. Por quê? Porque nossa sociedade aprendeu a temer mulheres sábias e independentes, e carrega este traço até hoje.

Quando uma mulher não se encaixa no papel designado a ela, continua sendo, até hoje, caçada e “queimada”.

A mulher historicamente tem sua aparência objetificada. A ela não deve interessar conhecimento e independência, porque eles trazem poder. À mulher deve interessar apenas ser bonita, porque a busca incessante por um padrão de beleza inalcançável é um sedativo poderoso.

E como à mulher deve caber apenas o papel de ser bela, e não sábia e independente, a primeira coisa a se atacar em uma mulher que incomoda é a sua aparência.

Então, se ser uma bruxa feia é sinônimo de incomodar, é também sinônimo de resistência, força e coragem de buscar o fim de padrões de comportamento que deveriam ter ficado na Idade Média.

Acompanhe
nossas
redes sociais