Aceitação: o primeiro passo para a mudança

Comportamento

Aceitação: o primeiro passo para a mudança

Romper com os padrões de beleza ajuda a conquistar corpo e mente mais saudáveis

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Aceitação: o primeiro passo para a mudança
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Desconstruir a ideia de que precisava se encaixar em um padrão foi o passo fundamental para a confeiteira Franciele Rodrigues Ponciano, 35, fazer as pazes com a autoestima e aprender a amar a sua beleza natural.

O processo foi longo e complexo, lembra. Até a adolescência, vivia de dietas, buscou apoio de nutricionista e fez reeducação alimentar. Hoje, Franciele se aceita e sente-se realizada com a aparência. “Não foi fácil, foi preciso muito questionando interno, mas hoje acredito que o corpo ideal é aquele em que você se sente bem”.

Para ela, muitas pessoas ainda julgam o outro pela aparência. “A gordofobia também é um tipo de preconceito, mas muita gente ainda não enxerga desta maneira”.

Franciele Rodrigues Ponciano

Apesar de difícil, a busca pela aceitação e pelo amor-próprio é libertadora, pois ensina a importância de não se limitar, não se culpar e não sofrer com a opinião das outras pessoas, apenas se permitir ser quem se é. “Seu corpo é lindo do jeito que é. Não deixe que ninguém faça você duvidar do seu valor por causa de um corpo, somos muito mais do que isso”.

Débora Amanda Simonis

Em função da genética, Débora Amanda Simonis, 23, sempre foi considerada alta e muito magra. A aparência costumava ser motivo de críticas, lembra. “Sofri muito com os comentários, isso mexe muito com o psicológico”.

Porém, hoje a jovem não se deixa abalar e se sente feliz por estar saudável. Há alguns anos, para participar de concursos de beleza, precisou reduzir ainda mais o peso, mas todo o processo contou com o auxílio e supervisão de profissionais de saúde, destaca.

Na época, além de procedimentos estéticos e alimentação regrada, precisou intensificar os exercícios físicos, hábito que virou paixão. Apesar de não seguir mais o mesmo protocolo de cuidados, acredita que o processo influenciou muito na aceitação e na forma física atual. “Hoje me mantenho saudável e sou uma pessoa que ama se exercitar e se alimentar de forma nutritiva”.

Para Débora, o padrão de beleza é ser feliz e se aceitar. Cada um vive as suas experiências e é impossível agradar a todos, aconselha. “Não devemos nos preocupar com imposições ou comentários. O mais importante é ser, estar e se sentir bem consigo mesmo”.

Gustavo Garcia, 26, acredita que o corpo ideal é aquele no qual “a pessoa não sente vergonha em mostrar, seja ele magro, gordo, definido ou musculoso”. Quando alguém tem receio e não se sente bem, a autoestima pode ser prejudicada e problemas psicológicos se desenvolvem.

Gustavo Garcia

Praticante de atividade física diária, Garcia acredita que sua autoestima e bem-estar estão relacionados as atividades físicas. “Sempre fui muito ativo. Quando movimentamos nosso corpo, ele libera hormônios de recompensa e prazer, fazendo com que melhore o dia a dia”, destaca.

Para construir o corpo definido e com boa massa muscular, o jovem conta que é preciso ter paciência, pois levou quatro anos para atingir a simetria desejada e, até hoje, permanece com uma dieta especial.

Às vezes criticado, Garcia revela que no início se incomodava com a opinião de terceiros. Hoje, os julgamentos passam despercebidos. “Eu quero ser a minha melhor versão sempre, principalmente mentalmente e depois fisicamente”.

A quem está no processo de aceitação do corpo ou mesmo deseja adotar algum novo hábito para se sentir melhor, Garcia aconselha não dar ouvidos a opiniões alheias de pessoas que não são importantes ou que não conhece. “Você faz o que quiser da vida, só não deixe suas escolhas atrapalharem sua mente e autoestima”.

 

Beleza: um conceito cultural

Definir um “padrão de beleza” é falar sobre um conjunto de características físicas interpretado pela sociedade como a aparência ideal para uma pessoa ser considerada bonita, explica a mestra em Design e coordenadora do curso de Design de Moda da Univates, Josiane da Costa.

Durante o mestrado, Josiane estudou as mudanças na percepção do corpo feminino ao longo da história e, segundo ela, durante muito tempo o ideal de beleza foi um corpo grande. Resquícios de obras de arte do período pré-histórico revelam que, para as mulheres, por exemplo, o bonito era ter barriga saliente, quadril largo e seios grandes.

“O ideal de beleza era voltado para a procriação. Mulher bonita era aquela considerada apta a ter muitos filhos a partir da questão corpórea. Esse ideal feminino perdurou durante boa parte da história”.

Além da forma física, outros aspectos também influenciam no que é considerado beleza. Conforme Josiane, durante o século XIX, a aparência europeia, com pele, olhos e cabelos claros, representava o ideal de beleza da época.

A pele bronzeada virou moda por acaso, pois até década de 1930, apenas pessoas de classe mais baixa, que trabalhavam sob o sol, eram bronzeadas, conta. “A estilista Coco Chanel transformou o bronzeado em padrão de beleza por acidente. Ao se bronzear em uma ida a praia, ela passou a defender a pele bronzeada como bonita e saudável, então ela começou a ser admirada e virou moda”

Na busca por alcançar os padrões de beleza de cada época, a humanidade também inventou diversos recursos, como os espartilhos, muito utilizados entre o fim do século XIX e começo do século XX para moldar o corpo feminino e reforçar uma silhueta mais curvilínea, mas com uma cintura bem marcada e fina.

Nesta mesma época já haviam registros da venda de comprimidos com substâncias para emagrecer, o que já mostrava indícios de um futuro padrão estético mais magro, destaca Josiane.

A mídia sempre teve grande importância ao pensar e perpetuar os padrões de beleza. Até a década de 1950, com o advento da televisão, o ideal de beleza ainda eram as mulheres curvilíneas e a aparência americana, representadas pelas pin-ups e pela atriz Marilyn Monroe, esteriótipo reproduzido no Brasil por meio das vedetes, explica Josiane.

A partir dos anos 1970 o conceito de beleza muda de forma radical com o surgimento da primeira supermodelo, a britânica Twiggy, que apresentou ao mundo uma beleza considerada exótica na época. “Ela era muito jovem e magra, tanto que a expressão twiggy, como ela ficou conhecida, significa graveto”.

A magreza como ideal de beleza se perpetuou pelas décadas seguintes e ganhou ainda mais força com a popularização das top models na década de 90, quando surgiram nomes como Gisele Bündchen e Cindy Crawford.

Para chegar ao que é considerado beleza nos dias atuais, além da mídia, o crescimento da indústria cosmética e o advento das cirurgias plásticas também têm papel fundamental, considera a especialista. “O padrão ainda é voltado para a magreza, mas com uma estética mais malhada, que transmita uma imagem mais saudável”.

 

Aceitação masculina

Diferente das mulheres, que viram o ideal de beleza física mudar ao longo do tempo, os homens sempre tiveram a força associada ao padrão de beleza, explica a especialista. “O ideal masculino está relacionado ao físico maior, ao aspecto da força muscular. O que muda, é que hoje os homens se permitem ingressar no universo da beleza”

Além da televisão, da publicidade e das revistas, hoje as redes sociais são uma grande força na perpetuação dos padrões de beleza. “As redes são voltadas para a questão da imagem, onde cada vez mais as pessoas querem se parecer com o que estão vendo ali, mesmo cientes de que as fotos são manipuladas e que cada um posta apenas a melhor versão de si”.

A especialista considera difícil estar imune aos padrões, mas acredita ser preciso entender a beleza como um processo de autoconhecimento e aprender a trabalhar a autoestima.

“Temos muitos recursos para nos sentirmos bem com a nossa aparência, mas o mais importante é entender o que te faz bem e não tentar pertencer a algo que não é seu ou virar refém de um padrão pré-determinado”.

Para Josiane, apesar de ainda existir um padrão de beleza considerado ideal, é possível notar uma maior democratização no que é considerado belo para a sociedade. “A beleza está no olho do quem vê, tem muita relação com nossas experiências, cultura e o lugar onde vivemos. Acho que cada vez mais estamos conseguindo perceber que a beleza não tem uma única forma ou um único estilo”.

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