O dilema das redes

Opinião

Jonas Ruckert

Jonas Ruckert

Diretor do Colégio Teutônia

Assuntos e temas do cotidiano

O dilema das redes

Por

Vale do Taquari

Nesta coluna de opinião compartilho reflexões que não são somente minhas. Iniciando, para localizar os leitores, faço referência ao título traduzido para o português do documentário The Social Dilemma que assisti na Netflix. Na tela, depoimentos de ex-diretores do Google, Facebook, Twitter, Instagram e demais empresas que lidam com inteligência artificial. Na cronologia dos fatos, contrapontos entre entrevistas e representações de cenas do cotidiano me ajudaram na compreensão e elaboração de tudo que estava ouvindo. Enquanto assistia, meu peito apertou, meu coração disparou e me vi dentro do contexto como pai que sou. Me abalei diante da constatação da verossimilhança dos modelos que pude ver na tela. Foi quando entendi que estava à frente de uma produção ímpar, trazendo à tona uma verdade muito pontual: fomos seduzidos por um modelo de extorsão de atenção que está acabando com o tecido social saudável.

Dias depois de assistir ao documentário, li um texto de Martha Medeiros, escritora que admiro por demais, do qual compartilho dois parágrafos que seguem:

“Quando a gente era criança, nossas mães nos proibiam de aceitar balas de estranhos: vá que dentro houvesse alguma substância tóxica. Dessa maneira, evitavam que nos tornássemos vítimas de traficantes imaginários. Mas foi questão de tempo até que outro tipo de intoxicação nos contaminasse. Somos a última geração a vivenciar a era analógica antes de entrar na era digital. As crianças de hoje não tiveram a mesma sorte, se lambuzam com tecnologia desde cedo, e quem vai tirar o doce da mão delas? Tente.

Não desgrudamos das redes por medo de perder alguma coisa, seja um convite, uma cantada, uma fofoca, um elogio, como se não pudéssemos ser alcançados de outra forma e dependêssemos de gigas para existir. O problema é que a perda já se deu – não dentro das redes, mas fora. Conversas presenciais, a observação do entorno, o contato visual com outras pessoas, o ouvido atento para a música e os ruídos da natureza, o tempo para leitura e a capacidade de chegar a conclusões por raciocínio lógico, e não por indução. Perdemos a paz. Somos fisgados e manipulados de manhã, à tarde e à noite, freneticamente. Vídeos, fotos, memes, propaganda, todas essas postagens “casuais” são programadas para atender a corporações que comandam o mundo através de nossas clicadas. Não sou eu que estou dizendo. São os especialistas que criaram o bicho e desistiram dele ao ver que o monstro estava fora de controle.”

É certo que O Dilema das Redes não é uma produção hollywoodiana em se tratando de sonoplastia, efeitos ou cenas especiais. Também não se trata de uma produção extremista. Como otimista que sou, recomendo aos leitores que assistam ao documentário em família. Garanto que nenhum celular será jogado pela janela!
Não sou contra a tecnologia. O que teria sido de nós sem ela nesta pandemia? Tratamos aqui das questões que a tecnologia nos proporciona e, cá entre nós, estamos dispostos a assumir que os maus resultados ou hábitos são frutos de nossas escolhas? Está em nossa decisão mudar os meios e os fins das redes sociais.

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