A primavera e a criança

Opinião

Ardêmio Heineck

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A primavera e a criança

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Atualizado sábado,
10 de Outubro de 2020 às 07:30

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Após a Segunda Guerra Mundial, dois projetos concorrentes entre si, vencedores daquele conflito, tentavam dominar o mundo: o capitalismo, liderado pelos Estados Unidos, e o comunismo, pela Rússia. Países europeus eram “loteados” e obrigados a aderir a uma destas correntes. A Tchecoslováquia coube aos russos, formando, junto com outras nações, a União Soviética. No entanto, o desenvolvimento desses regimes acabou mostrando que as ações ordenadoras capitalistas e comunistas não conseguiriam suplantar as demandas das futuras gerações. Um exemplo do seu fracasso totalizante aconteceu em 1968, quando a Tchecoslováquia apontou para uma nova direção. Apesar de alinhada às diretrizes soviéticas, seus dirigentes começaram a empreender reformas que pretendiam dar uma “face mais humana” para o regime. Liderado por jovens, este movimento de um renascer, de um resgatar de valores civis e individuais foi denominado de “Primavera de Praga”. Contudo, em 1969, aquele movimento de renovação, foi suplantado com a ocupação do país por tropas russas.

Diz um dito popular que, se há uma coisa certa na vida, é a morte. Já outro nos consola ao dizer que nos eternizamos através dos filhos. Me cativam duas passagens bíblicas. Uma, a ordem divina, aos homens: crescei e multiplicai-vos. A outra, quando impediam que chegasse perto de Jesus Cristo um grupo de crianças, este ordenou: “Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque deles é o Reino dos céus”. As crianças, além do encantamento que trazem em si, embutem uma importância transcendental: asseguram a continuidade da espécie humana e representam a fase da vida da mais pura inocência, a ponto de o Senhor nos dizer que esta sua maneira de ser leva aos céus.

Nesta linha de raciocínio, me pego questionando quanto à atenção que estruturamos com relação aos idosos – justa, imprescindível – mas que tem um contraponto triste e dolorido com o descaso com que tratamos as frágeis crianças, com uma vida pela frente, para a qual, milhões delas, não são dotadas, pela humanidade, das ferramentas imprescindíveis. Cena indelével na minha mente foi a vez em que, parado em Porto Alegre esperando o sinal abrir, final de tarde frio e chuvisquento, ouvi uma batida frágil no vidro. Do lado de fora, o rostinho bochechudo de uma menininha de, no máximo, 6 anos, com a expressão de quem está com frio e fome. Ajudei a debelar ao menos esta, com algumas barras de cereais que carrego comigo.

E a primavera? De pronto peço desculpas a ela. Iniciou oficialmente em 22 de setembro e apenas hoje faço alusão a ela. Podia tê-lo feito antes. Me deixei levar pelo turbilhão de acontecimentos do nosso cotidiano para, há duas semanas, escrever sobre algum deles, não sobre ela. Mesmo que usufruindo dos perfumes, das cores e dos inúmeros sinais que a primavera mostra – sutil, gratuita e gostosamente – dando a certeza de mais um lindo renascer. De longe, a melhor das estações. Depois de um verão escaldante, de um outono que introduz um inverno murrinha, eis que chega ela: a primavera. Pior que não nos apercebemos, não lhe damos valor, não a homenageamos. E ela, dia após dia, se vai e se esvai dentre os dedos, ano após ano. Tal qual a “primavera de Praga” que, por apenas um ano, permitiu aos tchecos se embevecer da sensação do novo, do renascer, da inovação.

Dois temas, dois significados, duas fases imorredouras fantásticas que andam de mãos dadas e lembradas em datas próximas: 22 de setembro e 12 de outubro. Mas embutem um só sentimento que pode nos guiar e nos mitigar a ansiedade nos momentos em que a vida parece por demais dolorida:Após a Segunda Guerra Mundial, dois projetos concorrentes entre si, vencedores daquele conflito, tentavam dominar o mundo: o capitalismo, liderado pelos Estados Unidos, e o comunismo, pela Rússia. Países europeus eram “loteados” e obrigados a aderir a uma destas correntes. A Tchecoslováquia coube aos russos, formando, junto com outras nações, a União Soviética. No entanto, o desenvolvimento desses regimes acabou mostrando que as ações ordenadoras capitalistas e comunistas não conseguiriam suplantar as demandas das futuras gerações. Um exemplo do seu fracasso totalizante aconteceu em 1968, quando a Tchecoslováquia apontou para uma nova direção. Apesar de alinhada às diretrizes soviéticas, seus dirigentes começaram a empreender reformas que pretendiam dar uma “face mais humana” para o regime. Liderado por jovens, este movimento de um renascer, de um resgatar de valores civis e individuais foi denominado de “Primavera de Praga”. Contudo, em 1969, aquele movimento de renovação, foi suplantado com a ocupação do país por tropas russas.
Diz um dito popular que, se há uma coisa certa na vida, é a morte. Já outro nos consola ao dizer que nos eternizamos através dos filhos. Me cativam duas passagens bíblicas. Uma, a ordem divina, aos homens: crescei e multiplicai-vos. A outra, quando impediam que chegasse perto de Jesus Cristo um grupo de crianças, este ordenou: “Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque deles é o Reino dos céus”. As crianças, além do encantamento que trazem em si, embutem uma importância transcendental: asseguram a continuidade da espécie humana e representam a fase da vida da mais pura inocência, a ponto de o Senhor nos dizer que esta sua maneira de ser leva aos céus.
Nesta linha de raciocínio, me pego questionando quanto à atenção que estruturamos com relação aos idosos – justa, imprescindível – mas que tem um contraponto triste e dolorido com o descaso com que tratamos as frágeis crianças, com uma vida pela frente, para a qual, milhões delas, não são dotadas, pela humanidade, das ferramentas imprescindíveis. Cena indelével na minha mente foi a vez em que, parado em Porto Alegre esperando o sinal abrir, final de tarde frio e chuvisquento, ouvi uma batida frágil no vidro. Do lado de fora, o rostinho bochechudo de uma menininha de, no máximo, 6 anos, com a expressão de quem está com frio e fome. Ajudei a debelar ao menos esta, com algumas barras de cereais que carrego comigo.
E a primavera? De pronto peço desculpas a ela. Iniciou oficialmente em 22 de setembro e apenas hoje faço alusão a ela. Podia tê-lo feito antes. Me deixei levar pelo turbilhão de acontecimentos do nosso cotidiano para, há duas semanas, escrever sobre algum deles, não sobre ela. Mesmo que usufruindo dos perfumes, das cores e dos inúmeros sinais que a primavera mostra – sutil, gratuita e gostosamente – dando a certeza de mais um lindo renascer. De longe, a melhor das estações. Depois de um verão escaldante, de um outono que introduz um inverno murrinha, eis que chega ela: a primavera. Pior que não nos apercebemos, não lhe damos valor, não a homenageamos. E ela, dia após dia, se vai e se esvai dentre os dedos, ano após ano. Tal qual a “primavera de Praga” que, por apenas um ano, permitiu aos tchecos se embevecer da sensação do novo, do renascer, da inovação.
Dois temas, dois significados, duas fases imorredouras fantásticas que andam de mãos dadas e lembradas em datas próximas: 22 de setembro e 12 de outubro. Mas embutem um só sentimento que pode nos guiar e nos mitigar a ansiedade nos momentos em que a vida parece por demais dolorida: sempre há um novo, um renascer, uma esperança, algo de bom vindo por aí.

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