Viver bem é viver sem cigarro

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Viver bem é viver sem cigarro

O tabagismo é fator de risco para diversas doenças e, apesar de difícil, pode ser superado com apoio profissional

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Atualizado segunda-feira,
31 de Agosto de 2020 às 10:31

Viver bem é viver sem cigarro
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

O cigarro fez parte da vida da jornalista e social media Circe Precht e Souza, 24, por sete anos. A jovem começou a fumar no fim da adolescência. Já havia experimentado quando mais nova, mas a prática se tornou um vício aos 17 anos, quando a rotina passou a ser mais pesada.

Trabalhava durante o dia e estudava a noite. Natural de Taquari, a espera pelo ônibus que a trazia para Lajeado, onde cursava a graduação, era o momento propício para estar na companhia do cigarro e facilitou a adesão ao vício, lembra.

Decidiu para em 2018, depois de terminar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). “Na época pensava que seria uma tarefa fácil, após o fim da faculdade e de alguns fatores estressantes externos. A tentativa não durou mais do que uma manhã”.

No ano seguinte, Circe decidiu buscar por um estilo de vida mais saudável e, com ajuda profissional e apoio da família, já está há dez meses longe do vício.

Conforme a médica pneumologista Iloni Riedner Barghouti, o tabagismo é considerado pelo Código Internacional de Doenças como uma doença crônica, a doença da dependência nicotínica.

A nicotina é uma substância psicoativa, responsável por criar no fumante uma dependência física e comportamental, semelhante à causada por outras drogas. Quando alcança o cérebro, a nicotina determina a liberação de neurotransmissores que provocam a sensação de prazer e bem-estar, o que leva ao uso repetido, explica a médica.

“É comum ouvirmos dos pacientes que o cigarro acalma, que a pessoa fuma quando está nervosa. Quando não fuma, fica angustiado e repete o processo. A dependência gera um comportamento compulsivo, ou seja, a pessoa precisa fumar cada vez mais e, quando não fuma, sofre com os efeitos da abstinência, como inquietação, tremores, sudorese e um mal-estar muito grande, o que a leva a ceder e voltar a fumar”.

“O cigarro é o maior fator de risco para múltiplas doenças”

O tabagismo traz prejuízos ao organismo como um todo, adverte Ilone. Além de contribuir para o surgimento de vários tipos de cânceres, como câncer de boca, de esofago, de pulmão, de trato gastrointestinal e urinário, o cigarro ainda é fator de risco para doenças cardiovasculares, como o infarto, derrame cerebral, oclusões que podem levar ao amputamento de membros, entre outras enfermidades.

A mais comum, segundo a médica, é a doença pulmonar obstrutiva crônica, que causa progressiva falta de ar, tosse crônica e insuficiência respiratória crônica.

Além disso, o fumante tem o trato respiratório vulnerável, o que o torna mais suscetível a infecções, como tuberculose, pneumonias e viroses, a exemplo da Covid-19.

“Quando o Coronavírus chega em um pulmão doente, com suas defesas reduzidas, causa um dano ainda maior”.

Pessoas que convivem em ambientes com fumantes sofrem tantos danos quanto quem fuma, ou até mais, alerta a médica.

A fumaça que sai da ponta do cigarro e se difunde no ambiente contém mais nicotina, monóxido de carbono e até mais substâncias cancerígenas que a fumaça inalada durante o ato de fumar.

O tabagismo passivo pode causar, a curto prazo, crises alérgicas, como rinite, além de asma e conjuntivite. A longo prazo, pode propiciar o surgimento das mesmas doenças que atingem quem fuma.

Parar de fumar é difícil e exige apoio profissional, destaca Ilone. Substitutos ao cigarro são vendidos como uma promessa de ajuda, como é o caso do cigarro eletrônico e dos vaporizadores. Porém, a substituição não é eficaz e, inclusive, prejudica ainda mais a saúde.

Populares entre os mais jovens, os cigarros eletrônicos e vaporizadores causam uma doença chamada Evali, sigla em inglês para a injúria pulmonar associada a cigarros eletrônicos, que acomete o fumante em um espaço de tempo menor que o cigarro convencional e causa grave dano pulmonar, aleta Ilone.

Parar de fumar é difícil, mas é possível

No processo de libertação do vício, Circe contou com acompanhamento psicológico e psiquiátrico. “Não utilizei nenhum método específico, foquei na manutenção e adesão de práticas saudáveis, como a corrida, o ioga e a meditação”.

A médica Ilone destaca que é comum, durante o processo, que as tentativas sejam muitas até que uma delas seja bem sucedida.

“Parar sozinho, sem ajuda de um profissional, é ainda mais difícil, mas não impossível”.

Para Circe, os efeitos da abstinência ainda são diários e a vontade de fumar ressurge sempre que vê alguém fumando.

“Mas entendi que o prazer momentâneo do cigarro não compensa o prazer que sinto de não cheirar a fumaça, de não sentir falta de ar, de ter controle do meu dinheiro, a boca limpa e o paladar de volta. O prazer de não ser refém do vício é o que me faz seguir firme”.

O ideal, segundo Ilone, é que o fumante abandone o cigarro antes dos 40 anos pois, no caso de alguém que começou a fumar aos 20, por exemplo, aos 40 já apresenta sérios problemas estabelecidos no pulmão ou em algum outro órgão.

Ajuda psicológica é fundamental

Conforme a psicóloga Laís Regina de Carvalho Schwarz, que atua na Associação de Apoio a Pessoas com Câncer, a AAPECAN, inúmeros fatores levam uma pessoa a iniciar o uso do cigarro, como a publicidade direta ou indireta, o fácil acesso, a influência de figuras de autoridade que cultivam o hábito, como um famoso ou alguém da família, elementos emocionais como ansiedade ou estresse e, em especial no caso dos mais jovens, a necessidade de ser aceito em um grupo.

“Podemos destacar o exemplo do Narguilé, que vem se disseminando entre os jovens, mas que também utiliza derivados do fumo e causa dependência”.

O apoio de um profissional de psicologia ou psiquiatria é fundamental no processo de libertação, uma vez que este ajudará o fumante a compreender a origem do vício e quais técnicas podem ajudar de acordo com cada caso.

A Hora – Como podemos determinar o que é um vício?

Laís Schwarz – A Organização Mundial da Saúde (OMS) caracteriza um vício como uma doença física e psicoemocional. Quando pensamos em vício, logo associamos à dependência de drogas, mas vai além. Temos também a dependência aos jogos, por exemplo, e a dependência às tecnologias, que vem crescendo no cenário atual. O limite entre um hábito e um vício é quando ele causa prejuízos na vida da pessoa. No campo da psicologia, buscamos compreender quais são as motivações, as origens e as características do vício, para auxiliar a pessoa a compreender sua relação com ele e superá-lo.

 

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