Enchente: previsão mais eficiente para evitar surpresas

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Enchente: previsão mais eficiente para evitar surpresas

Cheia desta semana expõe falhas no monitoramento do nível do Rio Taquari e desafia a sociedade regional para a busca de soluções. Em debate na Rádio A Hora 102.9, autoridades políticas e especialistas avaliam o que funcionou e o que precisa melhorar para que catástrofes naturais tragam menos prejuízos sociais, econômicos e de infraestrutura

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Enchente: previsão mais eficiente para evitar surpresas
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Em 30 horas de chuva, o Rio Taquari alcançou um nível que não era visto há mais de 50 anos. Passou dos 27 metros e alterou a rotina nas cidades de Encantado, Arroio do Meio, Estrela e Lajeado. Como resultado, prejuízos sociais, econômicos e nas ruas, calçadas e moradias.

A situação de calamidade pública traz algumas certezas e também ensinamentos. Certeza de que é fundamental ter mais meios de análise, monitoramento e previsibilidade em termos do avanço das águas.

De outra ponta, o aprendizado de que é necessário sempre se preparar para o pior. Esperar a água chegar no pé da casa, ou entrar por baixo da porta pode ser tarde demais. Esses foram os aspectos principais do programa Debates A Hora dessa sexta-feira.

A atração foi transmitida das 15h às 17h e contou com a presença dos prefeitos de Encantado, Adroaldo Conzatti, de Arroio do Meio, Klaus Schnack, e de Lajeado, Marcelo Caumo. Representando o governo de Estrela esteve o ex-coordenador da defesa civil do município e chefe do gabinete, Jorge Both. O debate também teve a participação por telefone do pesquisador e professor do Departamento de Hidromecânica e Hidrologia da Ufrgs, Walter Collischonn.

O mediador do programa e diretor-geral do Grupo A Hora, Adair Weiss, abriu a discussão com um diagnóstico dos acontecimentos anteriores a enchente. A partir disso, questionou sobre quais os caminhos possíveis à região ter um plano integrado de prevenção e monitoramento, sobre o que faltou para uma previsão mais assertiva.

Onde ocorreram as falhas?

“Em toda a noite do dia 8 e também no dia 9, acompanhávamos a situação. Sabíamos que viria uma enchente, mas não imaginávamos que seria nessa proporção”, admite o prefeito de Encantado, Adroaldo Conzatti.

Pelos registros da cidade, diz, a cheia desta semana ultrapassou as marcas dos maiores episódios, nos anos de 1941, 56, 90, 2001 e 2011. “O rio passou dos 20 metros. Isso nunca tinha acontecido na história.” Como consequência, mais de 700 famílias tiveram de deixar suas residências.

Na descida do curso da água, a próxima cidade atingida foi Arroio do Meio. “Dentro da realidade que temos, em uma avaliação geral, podemos todos ter falhado. Tentamos fazer o melhor. Começamos a retirar as pessoas das casas à meia noite dessa quarta-feira”, relembra Klaus Schnack.

De acordo com o prefeito, o alerta sobre o avanço era de conhecimento das equipes municipais. No entanto, em determinado momento, chegou a informação de que o Rio Taquari havia estabilizado em Encantado. Como a medição é feita a partir da cidade vizinha, se calcula seis horas para a chegada em Arroio do Meio.

No meio disso, houve desencontro de informações e a água atingiu um patamar fora do previsto. “Dentro disso, tivemos uma situação peculiar no bairro Navegantes. Com a lacuna de informações, teve lugares que não conseguimos chegar.”

O representante de Estrela, Jorge Both, afirmou: “Cada enchente tem suas peculiaridades. Temos um monitoramento da bacia do Vale e esse episódio foi diferente.”

Segundo ele, a transferência de famílias de áreas alagáveis para moradias populares reduziu o número de flagelados, pois elevou a cota de inundação antes em 19 metros para 22. Com experiência de ter sido o coordenador municipal da Defesa Civil em Estrela, acredita ser necessário haver mais réguas de monitoramento, em especial na barragem de Veranópolis, em Guaporé e nos rios Fão e Forqueta.

Para Marcelo Caumo, em que pese a enchente ter sido acima do previsto, afirma que houve mais acertos do que erros. “Pecamos em alguns pontos, mas são muitas variáveis para uma cheia. Tivemos 30 horas de chuva. Foram duas noites. Remover famílias à noite é muito mais complexo”

Na avaliação de Caumo, essa foi a primeira grande prova do sistema de monitoramento instalado na região há cinco anos. “Como autoridades da região, precisamos preparar um modelo paralelo.”

Monitorar toda a bacia hidrográfica

O pesquisador e professor da Ufrgs, Walter Collischonn, realça que as peculiaridades da bacia hidrográfica da região tem um processo acelerado de inundação. Algo incomum em todo o Brasil.

Para ele, há diversos meios para qualificar o monitoramento das águas e da chuva, mas que devem partir para os 130 municípios que compõem a bacia do Taquari\Antas. Na análise de Collischonn, é insuficiente medir o avanço das águas apenas no Rio Taquari e a partir de Muçum.

A rede de acompanhamento atual tem dez pontos de análise. “Falta mais locais para apoiar as equipes técnicas. Falta redundância. Também é necessário estender a capacidade medindo a vasão dos outros afluentes. O monitoramento é precário em toda a bacia. Isso precisa ser melhorado.”

Encaminhamentos

Os participantes se comprometeram em criar uma comissão regional, unir entidades como a Univates, Conselho de Desenvolvimento Regional (Codevat), e as associações dos municípios (Amvat e Famurs) para a retomada do sistema de monitoramento iniciado por meio de recursos da Consulta popular há cinco anos. Também de buscar audiências com os órgãos responsáveis pelo monitoramento das situações climáticas para ter uma resposta sobre como ocorreu a análise dos dados sobre essa enchente.

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