“O voleibol mudou minha vida”

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“O voleibol mudou minha vida”

Multicampeão com Seleção Brasileira, Lucas Saatkamp, o “Lucão”, vive o sonho de participar de mais um Jogos Olímpicos

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“O voleibol mudou minha vida”
Foto: Arquivo Pessoal
Estrela
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Campeão Olímpico, Mundial, Brasileiro e Gaúcho, Lucas Saatkamp, o “Lucão” é um dos atletas com mais títulos no voleibol nacional. Mas a história vitoriosa, do atleta natural de Colinas, poderia ter sido muito diferente.

O que pouca gente sabe é que o início no voleibol foi meio que por obrigação. Dos 12 aos 15 anos, Lucão era jogador de basquete e frequentava as aulas do professor Ademir Uebel. Quando completou 15 anos e frequentando o primeiro ano do ensino médio no Colégio Martin Luther, viu a modalidade ser extinta e precisou migrar para outro esporte para seguir com a bolsa de estudos, foi quando surgiu o voleibol.

Foto: Arquivo Pessoal

Com uma boa estatura, se deu bem no esporte desde o início. No primeiro ano atuando no time, já foi convocado para a Seleção Gaúcha, sendo o primeiro atleta da região a ser convocado. “Fui muito bem pois tinha estatura e uma facilidade muito grande para atacar.”

Sem pretensões de ser atleta profissional, Lucão usava o esporte para alcançar os objetivos no estudo. Foi assim no Grêmio Náutico União, onde jogou para conseguir fazer o cursinho pré-vestibular e também na Ulbra, onde pretendia cursar biologia. Aprovado no vestibular, iria começar estudar na segunda-feira, mas a convocação para a Seleção Brasileira Adulta veio na sexta-feira e mudou todos os planos do atleta.

Como não existia faculdade a distância, optou por trancar os estudos e agarrar a oportunidade dada. “Na Seleção tu tem que se dedicar muito, passa as vezes cinco, seis meses viajando, e tu não tem muito tempo para estudar presencialmente. Foi uma escolha que fiz e não me arrependo.”

Quando encerrar a carreira pretende terminar os estudos, mas longe da biologia. “Hoje mudou muito meu pensamento, quero seguir no meio do esporte, talvez vá cursar marketing, publicidade ou até mesmo me tornar técnico, estou vendo o que vou fazer ainda.”

Seleção Brasileira

“Era um sonho impossível. Sinceramente não imaginava ser convocado para o time adulto.” No momento que foi convocado apenas participava do Campeonato Gaúcho pela Ulbra e atuava na Seleção Gaúcha.

Ele chegou no time adulto como quinta opção para ser meio de rede e em três meses de treinamento virou titular e novo xodó de Bernardinho. Segundo o jogador, o fato de ser maior que os concorrentes e o fato de saber atacar melhor recebeu mais oportunidades.

Na Seleção pode trabalhar com atletas que eram referência na posição como Gustavo, André Heller e Rodrigão. “Eu observava muito eles, pois jogavam na mesma posição que eu.” Destaca que nunca teve um ídolo no voleibol, até porque teve toda uma geração para se espelhar, não só pelas vitórias, mas pelo comprometimento e empenho para permanecer no auge. “Foi uma geração inteira que me espelhei e aprendi bastante.”

Treinadores

Desde o começo na Ulbra, Lucão trabalhou com treinadores referência no Brasil e cada um tem uma peculiaridade que ajudou no desenvolvimento no esporte. Treinador responsável por colocar o atleta na Seleção, Marcos Pacheco é tido como um comandante que sabe trabalhar com atletas jovens. Sobre Bernardinho, Lucão resume em poucas palavras. “Ele é referência e unanimidade no mundo quando tu fala em voleibol.”

Além deles, trabalhou também com Marcelo Fronckowiak, Renan Dal Zotto e Angelo Lorenzetti que deu a oportunidade de jogar na Itália. “O Lorenzetti é um dos melhores técnicos que peguei na minha carreira. Ele era completo. Mas resumindo, eu só trabalhei com fera.”

Referência

Sem se vislumbrar, Lucão começou a perceber a importância que virou a carreira por causa da agenda, calendário e por jogar longe do Rio Grande do Sul. Segundo ele, como não tem uma equipe competitiva no RS, o vínculo com a cidade e estado se perde um pouco. “Sempre que volto para casa, a gente vê que tem muita gente que acompanha e se espelha e isso é uma satisfação grande, levo com carinho e tento passar minha experiência de vida para as pessoas.”

Segundo ele, a vida é feita de oportunidades. “Precisamos de pessoas que abram esse caminho, que nos dê essa oportunidade para alcançar e quando ter essa oportunidade não podemos deixar escapar.” Cita o apoio da família como muito importante para ter alcançado o sucesso.

Foto: Arquivo Pessoal

Olimpíadas

O atleta acredita que não vai ter Olimpíadas sem ter uma vacina. Para ele é muito difícil ver uma competição desse porte sem público. “Fazer um evento desse porte sem público não tem graça.” Outro destaque que o atleta aponta é que na Europa algumas seleções estão se reunindo para treinamentos, cita como exemplo Rússia e Polônia. “O voleibol é um dos esportes mais coletivos do mundo, pois aquele contato para saber como o teu colega está faz muita diferença. Ficar um ano sem ter contato com as pessoas muda bastante.”

Cita que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) pretende encaminhar algumas delegações para a Europa e fazer três semanas de treinamentos. “Torço para que em agosto e setembro podemos nos juntar para poder realizar algum treinamento.”

Aposentadoria

Com o passar dos anos, a vida útil do atleta melhorou muito. Segundo Lucão, os materiais de treinamento melhorou. “Eu me sinto melhor agora do que quando tinha 23, 24 anos.” Com 34 anos, vai vivendo ano após ano.

Sobre as Olimpíadas, comenta que queria que fosse realizada esse ano, pois um ano na vida de um atleta é uma lacuna muito grande. “Eu estou me preparando muito bem, para ficar bem fisicamente e poder seguir na Seleção Brasileira.”

Sonhos

Quando iniciou a carreira no esporte o foco era se formar e seguir a carreira longe das quadras e o sonho principal era poder jogar em uma Seleção Brasileira de base. “Eu saí de uma cidade pequena e consegui vencer. Cheguei onde nunca pensei que chegaria. Ser campeão Olímpico, Mundial, não existe sonho maior para o atleta.” Ele reflete que as conquistas são bonitas e ficam na parede, mas garante que tem que continuar jogando em grande estilo para não cair no esquecimento dos torcedores.

Indagado se fosse recomeçar do zero disse que faria tudo de novo. A grande maioria dos contratos que assinou com os clubes, sempre olhou para o lado profissional e nunca para o financeiro. A única vez que fez isso, se arrependeu. “O atleta tem que buscar uma estabilidade mental para render bastante, sempre busquei isso na minha carreira e fui muito feliz”.

Foto: Arquivo Pessoal

Pandemia

Desde que parou, no dia 13 de março, o único momento que ficou parado foi por quatro dias, quando veio a Colinas visitar os familiares. No restante do período está mantendo as atividades no ginásio esportivo da cidade de Taubaté, em São Paulo, onde reside. Todos os dias, mantêm os treinamentos com bola e físicos na academia. Segundo ele, estava previsto para o início do mês o retorno dos atletas, mas foi cancelado pela direção.

Para ele, a pandemia vai atrapalhar no desenvolvimento do esporte, uma vez que algumas equipes tem mais aporte financeiro que outras. Além disso, cita que no voleibol as equipes são geridas por empresas e não por clubes e uma crise econômica como essa que está se instalando no Brasil, faz com que os times desistam das competições.

Ele cita o Sistema S como exemplo. O Sesc fechou o time no masculino, já o Sesi jogará a Superliga feminina com um time juvenil. Outro exemplo que dá é o fato de vários jogadores que poderiam jogar na Seleção Brasileira estarem desempregados, além de uma debandada grande de jogadores para o exterior. “É o reflexo do país, pois não existe uma segurança muito grande aqui. A gente vive ano após ano. Fico triste pois não sabemos como será o futuro do voleibol brasileiro.

Desenvolvimento do voleibol gaúcho

Revelado pela Ulbra, se entristece em ver que fim levou o voleibol gaúcho. Com equipes tradicionais como o Bento Vôlei fechando as portas. Para o jogador, a modalidade tem relação como a situação econômica do estado. “Enquanto o estado não se recuperar como federação fica complicado esperar algo. Dependemos de empresários que são apaixonados por esporte para fomentar ainda mais ele.”

Projeto social

Com um projeto social no Rio de Janeiro, Lucão pretende no futuro firmar parcerias para desenvolver o voleibol na região. Para ele, o fato de morarmos em uma região colonizada por alemães e italianos favorece para desenvolver pessoas fortes e altas. Cita a Avates como referência no voleibol feminino no estado. “Espero mais para a frente juntar forças com a equipe e fazer também a categoria masculina.”

Ficha técnica

Nome: Lucas Saatkamp, o “Lucão”
Natural de: Colinas
Posição: Meio de rede
Clube atual: Vôlei Taubaté
Carreira: Colégio Martin Luther (2001-03), Ulbra (2004-07), Cimed Florianópolis (2007-09), Vôlei Futuro (2009-10), RJX Vôlei (2011-13), Sesi-SP (2013-2015), Pallavolo Modena (2015-16), Sesi (2016-18);

Títulos:
Superliga Nacional em 2007–08, 2008–09, 2009-10 e 2012–13;
Campeonato Catarinense : 2008, 2009 e 2010;
Campeonato Paulista : 2010;
Campeonato Carioca : 2011 e 2012;
Medalha de Ouro nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016;
Medalha de Ouro no Mundial de 2010;
Medalha de Ouro na Copa do Mundo de 2019;
Medalha de Ouro na Liga Mundial de 2009 e 2010;
Medalha de Ouro na Copa dos Campeões em 2009 e 2013;
Medalha de Ouro no Campeonato Sul-Americano em 2009;
Medalha de Prata nas Olimpíadas de Londres em 2012;
Medalha de Prata nos mundiais de 2014 e 2018;
Medalha de Prata na Liga Mundial de 2011, 13, 14, 16 e 17;
Medalha de Prata na Copa América em 2007 e 2008;
Medalha de Bronze na Copa do Mundo de 2011;
Melhor sacador da Copa América em 2007;
Melhor bloqueador da Superliga: 2007–08;

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